COMO CONSTRUIR UMA CABANA DE TRONCOS - teoria e prática


Cabana de troncos construída pelo autor do blog em 2014.
Cabana construída pelo autor do blog em 2014.

Este artigo descreve a forma de construir uma cabana de troncos desde a aprendizagem teórica até aos trabalhos práticos, que vão desde o corte das árvores na floresta até aos acabamentos finais. 

Sempre gostei daquelas casinhas de troncos que os colonos construíam nas florestas e pradarias do Oeste Americano. Sonhei fazer uma para mim, mas apenas consegui fazer uma pequena barraca para arrumações, que entretanto já ruiu porque, na verdade, foi muito mal concebida. Foi feita com os toros na vertical, apoiados na terra e, inevitavelmente, a parte em contacto com a humidade do terreno apodreceu e a estrutura acabou toda por ruir durante uma tempestade.
Estava feita com toros de eucalipto e vale a pena lembrar que esse tipo de madeira é muito resistente e durável, mas para isso convém que esteja sempre seca, porque em contacto com humidade e, nomeadamente exposta à chuva, apodrece facilmente e se estiver com casca ainda é pior, pois esta absorve a água e é também um “albergue” eficaz para o bicho da madeira.

Construção de uma log cabin (cabana de troncos)
 em Oxford, Ohio, em 1932.
No entanto, para construir uma casa, ou melhor uma cabana de troncos, se ela for feita nas devidas condições, o eucalipto é capaz de ser, em termos de preço/qualidade, uma boa opção (falando em termos de floresta portuguesa) tendo no entanto o inconveniente de ser uma madeira muito dura e de rachar quando ocorre a secagem. Há também os toros de pinho tratado que são muito duráveis, mesmo à chuva, a avaliar pela quantidade de cercas que são construídas com essa madeira, incluindo as vedações com rede existentes ao longo das novas estradas e até os postes das linhas telefónicas que se mantêm de pé ao longo dos anos. Esse material seria o mais indicado, se não tivesse o inconveniente de ficar muito dispendioso e, talvez por isso, não se vejam muitas casas construídas com troncos desses. Aliás, Portugal não tem tradição em construções deste tipo, não existindo ou sendo muito poucas as casas construídas com troncos de qualquer espécie. Para além do eucalipto e do pinho há também outras árvores que existem em abundância e poderiam servir, como os cedros ou talvez os choupos que são, estes últimos, uma madeira muito macia e leve, mas em termos de durabilidade não serão tão aconselháveis.

Mas uma pequenina casa de campo ou mesmo uma cabana numa propriedade rural, ainda que seja só para servir de arrecadação, para quem tenha um propriedade com eucaliptos ou mesmo para quem tenha de os comprar, pode ser uma boa opção em termos ecológicos, com uma aparência rústica e agradável, e também em termos de durabilidade. De salientar que os toros de eucalipto se trabalham bem em verde e se forem descascados logo a seguir ao corte ficam com uma óptima aparência lisa e o descasque realiza-se mais facilmente.


Aprendizagem teórica


Não existem segredos para se construir uma casa de troncos. É preciso apenas que você tenha boas condições físicas, paciência e alguma habilidade.

Se você pretende construir a sua própria casa de troncos, a primeira coisa que terá de fazer é escolher um terreno adequado, de preferência plano. Saiba ainda que uma casa deste tipo necessita de um alicerce melhor e maior do que o necessário para uma casa convencional, porque uma parede de troncos, normalmente, tem um peso quatro vezes superior a uma parede de tijolos. O alicerce para uma casa de troncos, segundo as especificações técnicas, tem de estar pelo menos a 70 cmde profundidade. Para isto escave uma vala no chão com uma largura de 30 cm, e comprimento de sete metros por lado, formando assim a base quadrada da casa desejada. A seguir, coloque nas laterais da vala pranchas de madeira de modo que fiquem 30 cm acima do nível do chão (fig. 1). Não se esqueça de deixar a abertura onde se colocará a porta. Para a correta fixação das pranchas, faça um apoio bem firme a elas para que quando for enchê-las de concreto não caiam com a pressão que o concreto exercerá. O apoio poderá ser feito com os próprios troncos que você utilizará na construção da casa. As pranchas só poderão ser retiradas após três dias de concretagem. Para começar a montar os troncos espere no mínimo uma semana, até que o concreto esteja totalmente seco. A lage servirá de apoio aos troncos e também evitará a humidade que o solo naturalmente possui.




Depois da laje seca faça o piso de cimento e areia (na proporção de um para três) e aplique o Vedacit em todo ele, para não subir a humidade.

Para uma cabana pequena são necessários 75 troncos, cada qual com oito metros de comprimento. Se quiser utilize o Pinus elliottii, uma madeira resistente e oleosa, que evita rachaduras. Corte os troncos na época da seca, quando eles absorvem menos líquido, e na lua minguante. Na construção você poderá usar árvores descascadas ou não. Isto ficará a seu critério. Caso resolva descascá-las, bata nos troncos com uma marreta ou pedaço de pau e depois puxe a casca.

A primeira etapa da construção da cabana em si é a colocação dos troncos. Para o início da colocação, os dois primeiros deverão ser cortados ao meio, para que a base tenha uma altura uniforme. Os demais serão inteiros, como mostra a figura 2. As duas primeiras rodadas serão colocadas manualmente, mas considerando-se que estes troncos pesam mais de 200 quilos cada um, o trabalho manual a cada rodada vai-se tornado mais difícil. Então você pode colocar o restante dos troncos com a ajuda de um guindaste.

Mas para que você tenha chegado à etapa da construção em si, teve de antes preparar os troncos. O melhor método de trabalho é o conhecido como full scribe e, para utilizá-lo, é preciso ter um bom stock de troncos. Perceba que alguns dos troncos têm o diâmetro maior numa extremidade do que na outra. Isto significa que existe um vão entre uma ponta e outra. Você pode perfeitamente usar troncos deste tipo desde que se preencham as falhas entre eles com reboco (misture serragem fina com cola branca e um pouco de cimento). Mas não faça isso se a construção for bem encaixada no estilo escandinavo, onde os troncos se encaixam perfeitamente uns sobre os outros. O ideal é que os troncos não diminuam mais do que alguns centímetros de ponta a ponta. Mas se você não dispuser de troncos suficientemente bons não desanime e meta mãos à obra.

Com os troncos à disposição vamos cortar a madeira para o procedimento full scribe. Em primeiro lugar você necessita de um nivelador, que consiste num aparelho com níveis de bolha para o perfeito alinhamento. Para começar centralize o tronco que você cortará de forma que ele fique acima e paralelo ao tronco no qual ele deverá encaixar-se. Depois descubra a diferença máxima entre os dois troncos e marque este intervalo. Agora, segundo o instrumento com a bolha de nível horizontal, trace o comprimento em todo o tronco. Faça então uma cavidade em cada extremidade do tronco, seguindo a figura três. Em seguida você terá de cortar duas reentrâncias circulares, perpendiculares ao tronco (para acomodar os troncos perpendiculares a ele) e também um rebaixo nos troncos para que um se acomode ao outro, de maneira que eles tenham o apoio um do outro (fig. 4). Para formar as reentrâncias circulares use uma serra com alta velocidade. Serre primeiro no sentido vertical até ao ponto mais baixo da reentrância e depois corte em direção a este ponto cada um dos lados. Isto será suficiente para que você consiga eliminar a maior parte da madeira.

Agora, faça uma série de cortes verticais, cada um deles com apenas a largura da serra, trabalhando do centro em direcção às laterais. Use a ponta da barra e deixe ele funcionar um pouco para conseguir que a curva fique com o formato de uma tigela. Quando terminar você deve ser capaz de colocar uma extremidade lisa sobre a reentrância e ainda enfiar os dedos debaixo dela.

Finalmente você pode alisar melhor os lados, aplicando a serra de um lado para o outro a 90 graus em relação à curva, até que o corte fique tão liso como se tivesse sido feito com um formão. Você certamente levará mais ou menos uma hora para conseguir a sua primeira reentrância, mas depois de ter um pouco de prática, será capaz de fazer isto em minutos.


Com este método de construção, você não terá de esperar para mudar. Você pode mudar-se imediatamente, mas terá de calcular 10 cm por pé (altura) no sentido vertical para a acomodação da madeira. Isso significa que você terá de deixar abertura sobre todas as portas e janelas para compensar o facto de que tudo irá acomodar um pouco. Faça molduras em volta das aberturas de janelas ou portas. Essas molduras podem ter uma espessura de até 4 cm, e a mesma largura dos troncos. Faça o tamanho das folhas de janelas ou portas de modo a passarem internamente pelas molduras. Instale internamente as dobradiças, entre as folhas e as molduras, escolhendo o lado em que as folhas deverão abrir. Com as folhas acomodadas, isto é, fechadas na posição em que irão ficar, calcule a medida onde se deve colocar os batentes. Esses batentes serão o ponto onde as janelas ou portas encostarão para estarem fechadas. Para as janelas use sarrafos (2x2 cm). Nas molduras das portas utilize pranchas (2x5cm). Utilize três dobradiças nas portas e não esqueça de colocar a fechadura ou trinco. Você pode dar um acabamento em todas as molduras fixando ripas 1X10cm) no limite dos troncos.

Você ainda terá de tomar cuidado com os encanamentos. Na verdade não instale qualquer tipo de encanamento pelas suas paredes de troncos, porque as paredes se movimentam, mas os canos não fazem isso. Além disso se você colocar canos dentro destas paredes e alguma rebentar um dia, como é que você vai fazer para consertar o estrago? Sendo assim, os encanamentos têm de ser presos por ganchos e não amarrados aos troncos (fig. 6).

O próximo passo é a colocação do teto. Para se ter o perfeito caimento das telhas Eternit, centralize o quadro da casa e levante dois sarrafos finos, de 30 cm de altura, em cada lado da casa. A seguir coloque outro sarrafo entre eles que servirá de apoio ao teto. Coloque então dois sarrafos no final do caimento para que as telhas tenham um bom caimento. As telhas serão colocadas fixadas por pregos inoxidáveis próprios.

Os fios elétricos devem ser conduzidos não por dentro das toras mas por condutores plásticos, desses que se usam nas construções convencionais e, assim como os encanamentos, devem ser presos por ganchos.

As fendas deixadas entre um tronco e outro devem ser vedadas com uma mistura de serragem fina com cola branca e mais um pouco de cimento. Faça uma inspeção e, se em alguns lugares a vedação das fendas está afrouxando, você tem de aplicar uma segunda camada desta mistura para reparar as falhas.

Por fim, aplique um conservante para madeira, de nome Prema, vendido comercialmente. A seguir misture água mais sais de Ulma e aplique com uma brocha em toda a casa, também para a conservação. Depois de bem seco, aplique verniz de acetato de ponivinila. Se você conseguir evitar a ação dos insetos, do sol e da água, a sua casa irá durar para sempre.


Referência bibliográfica:
ALZUGARAY, Domingo; ALZUGARAY, Cátia. Copyright Editora Três Ltda. São Paulo, Brasil. VIDA, Um Guia de Auto-Suficiência.






Ilustrações de Harry Schaare. Popular Mechanics December 1983.


O artigo aponta para a construção de uma casa quadrada com cerca de 49 m2. Fala em troncos com 8 m de comprimento, mas não especifica o diâmetro embora adiante que serão necessários cerca de 75 troncos, o que significa que esse diâmetro será de, aproximadamente 20 cm. Também diz que uma parede de troncos terá um peso superior em 4 vezes ao peso de uma parede de tijolos e que para isso o alicerce terá de ser maior do que para as paredes de alvenaria.

Não duvidando dessa teoria parece-me, porém, um pouco exagerados esses cálculos entre a relação de peso parede de troncos/parede de tijolos, até porque o peso da parede de troncos vai depender muito do diâmetro dos toros que se vai utilizar e também do tipo de árvore que os vai fornecer. De qualquer maneira, qualquer alicerce que se construa, será sempre melhor que peque por demasia do que por defeito.

Como se trata de um artigo de um livro brasileiro, os materiais indicados para a construção, como os troncos, as telhas ou os produtos para conservação, provavelmente não existirão em Portugal com aquela designação, mas existem outros equivalentes que poderão ser usados.

O autor menciona também que os troncos poderão ou não ser descascados, ficando isso ao critério de cada um. Eu, neste caso, optaria por descascar os troncos, não só porque a casa ficará com melhor aspeto, como depois a aplicação dos produtos conservantes será mais fácil de efetuar, ficando estes com maior eficácia uma vez que mais facilmente penetrarão nos troncos.

Numa construção deste tipo e, mesmo não tendo eu experiência neste tipo de trabalho, parece-me lógico pensar que a preparação dos troncos deverá ser um trabalho cuidadoso e de paciência, para que estes fiquem bem encaixados entre si, de modo a que depois não fiquem espaços muito grandes para vedar e para que a construção fique o mais perfeita possível, pois, como é evidente, uma coisa é olhar para as gravuras onde os toros estão desenhados na perfeição, outra bem diferente é a realidade, e essa realidade diz-nos que será difícil conseguir que todos os toros sejam direitos e com um diâmetro totalmente igual e perfeito, para além de que algumas madeiras têm tendência para entortar com a secagem.


Passar da teoria à prática

A leitura deste artigo teve o condão de me fazer recordar o sonho antigo que tinha de construir uma casa de troncos e acabou por dar o “empurrão” final para levar a cabo, não a construção de uma casa, mas de uma pequena cabana de troncos que, apesar das dimensões reduzidas, seguiu os mesmos princípios de construção.

Mesmo não concordando com algumas práticas suscitadas no artigo, eu já tinha apesar de tudo alguma experiência com trabalho em madeiras, o texto foi de grande ajuda, mas a verdade é que a verdadeira prática só se consegue com o trabalho em campo e, depois de concluída a minha cabana, fiquei com experiência suficiente para poder dar alguns conselhos sobre esse tipo de construção, conselhos que poderão, eventualmente, ser aproveitados por quem pretenda iniciar um trabalho do género.

Todo o trabalho, desde o corte das árvores na floresta, até à última tarefa, que foi a colocação de um produto protetor nos troncos, foi feito por mim, sem ter ajuda de ninguém, pelo que não foi um projeto isento de dificuldades. Essas dificuldades foram muito agravadas porque eu, por motivos económicos, recorri a umas árvores, na maioria pinheiros, que estavam num terreno de família. Essas árvores, salvo algumas poucas exceções eram muito tortas e de diâmetros muito diferentes, o que tornava a sua preparação e colocação nas paredes mais difícil. Também não eram muitas e por isso não havia muito por onde escolher, mas mesmo assim levei a aventura por diante e consegui realizar um trabalho que me dá bastante satisfação e orgulho.

De seguida vou fazer em forma de passo a passo a explicação, o mais detalhada possível, sobre o desenrolar dos trabalhos:



1 – Corte e transporte das árvores

Como já disse, as árvores que tinha disponíveis não eram muitas e estavam num terreno de difícil acesso. Esse terreno estava completamente invadido por silvas que, em alguns locais, quase chegavam ao topo dos pinheiros. Como é lógico o terreno teve que ser todo limpo antes de iniciar o corte das árvores, o que trouxe trabalho acrescido. Devido a isso foi bastante difícil a sua extração e transporte para o local da construção.

Conforme ia abatendo as árvores, ia também traçando os troncos mais ou menos à medida que já tinha pensado para as paredes da cabana. Convém ter em atenção que estas medidas devem contar com a parte dos troncos que fica para fora. Como os topos saem para fora cerca de 20 a30 cm, deve-se contar com mais cerca de 80 cm a um metro, do que a medida da parede na parte interna da cabana. As medidas de todos os troncos poderão ser iguais se a cabana for quadrada, mas como também há que ter em conta a porta e a janela ou janelas, podem alguns troncos ser cortados mais curtos. De qualquer modo, mais vale cortar com mais comprimento do que o contrário.

No caso de haver troncos com abundância, o que acabei de dizer pode não ter tanto significado, mas no meu caso, em que eu tinha mesmo poucas árvores, tive de proceder de modo a que cada cm de árvore fosse aproveitado.

O baixo orçamento disponível para a minha construção não me permitia adquirir outras árvores ou troncos, mas quem pensar em fazer uma construção idêntica será melhor, se puder, precaver-se com um stock de troncos grande em quantidade e qualidade.

A maior parte dos troncos que utilizei são de pinho, mas a cabana também tem à mistura eucaliptos, tábuas provenientes de um castanheiro e algumas carvalhas, estas últimas muito pouco indicadas para o trabalho devido à irregularidade dos troncos. Pela experiência adquirida fiquei com a noção de que os troncos de eucalipto são os melhores para este tipo de trabalho, pois descascam-se facilmente sem ficarem com resíduos de casca e são muito fáceis de trabalhar em verde, para além de se encontrarem eucaliptos de troncos bem direitos. Para além disso o eucalipto, ao enxuto, é muito durável e até poderá dispensar qualquer tipo de produto para conservação. O único inconveniente parece-me ser o facto de racharem e torcerem com alguma facilidade, mas creio que esse problema pode ser evitado, em parte, se as árvores forem cortadas na altura certa e não estiverem expostas ao sol durante a secagem.

Para transportar os troncos da floresta para o local da construção da cabana, utilizei uma moto enxada, um pequeno veículo agrícola com reboque. Os acessos eram difíceis, mas este pequeno veículo tem imensa força devido à sua velocidade reduzida e como tem tração às quatro rodas, desempenhou bem a sua missão, mesmo tendo em conta que as cargas não podiam ser muito grandes devido ao comprimento dos troncos que saíam muito para fora da caixa de carga.




2 – Descasque dos troncos

Depois de já ter reunido um número de troncos que julgava suficiente para a construção da cabana, dei início ao seu descasque. Os pinheiros não são muito fáceis de descascar e ficam sempre alguns restos de pele agarrados ao tronco e daí aquelas manchas acastanhadas com que eles ficaram.

Este trabalho, feito com um machado é muito duro e moroso, podendo, por isso, existir a tentação de montar as paredes sem descascar os troncos. Aconselho vivamente a que os troncos sejam bem descascados, não só porque a cabana irá ficar com muito melhor aparência, mas também porque a casca iria inevitavelmente servir de alojamento aos parasitas da madeira que a destruiriam em pouco tempo. Para além disso, a casca iria impedir a aplicação de um produto conservante que é também aconselhável que se faça.

Os eucaliptos são mais fáceis de descascar e, se forem cortados na altura certa, a casca solta-se sem necessidade de grandes esforços, ao contrário dos pinheiros e de outras árvores em que é preciso usar o machado com alguma mestria e força, para arrancar cada centímetro de casca. Não é por acaso que, antes do aparecimento das descascadoras mecânicas nas serrações, esse trabalho era detestado, pelo esforço que exigia e dores nas costas que provocava.




3 - Serragem das tábuas para a porta

A porta da minha cabana de troncos irá, com toda a certeza, durar muito para além das paredes. O que garante isso é o facto de ter sido feita com madeira de castanheiro e de ficar abrigada pelo telhado da pequena varanda. O castanho é das madeiras mais duráveis que existem, o que não se pode dizer do pinho com que foram feitas as paredes.

O meu terreno tinha um castanheiro cujo diâmetro, na base do tronco, ultrapassava os 30 cm. Como não dava castanhas, ou estas eram de muito má qualidade, achei que seria muito mais útil transformado em tábuas. Como precisava da madeira para a porta e também de uma mesa resolvi cortá-lo para o transformar em tábuas. Estávamos no início do mês de Julho e essa não era a melhor altura para cortar árvores. Na serração disseram-me que os troncos não podiam ser serrados naquela altura, porque a madeira iria estalar toda e que os troncos teriam de ficar a secar à sombra durante vários meses.

Perante isto, resolvi arriscar e serrar eu próprio o castanheiro, utilizando a motosserra. Nunca tinha feito um trabalho desse tipo, tendo procedido do seguinte modo:

Coloquei o tronco para serrar em cima de dois troncos atravessados e fiz-lhe duas faces mais ou menos direitas. Numa dessas faces marquei as tábuas com um fio marcador e depois com a lâmina da motosserra fui, com cuidado, serrando as tábuas ao longo do tronco. É um trabalho que requer atenção e cuidado, mas é perfeitamente exequível.

As tábuas do primeiro tronco que serrei ficaram algo irregulares, mas com a prática melhorei e acabei por obter 12 tábuas com 4 cm de espessura. Eram um bocado grossas, mas estava com receio de que elas viessem a rachar se fossem mais finas e, também para tentar evitar que estalassem, resolvi mergulhá-las em água, dentro de um tanque, porque tinha ouvido dizer que isso seria bom para a madeira, que evitaria rachaduras nas tábuas e que estas depois secariam mais depressa.

As tábuas estiveram na água durante duas semanas, tendo esta ficado toda negra com a tinta que saiu da madeira. Depois foram empilhadas para secarem, num local onde o sol não chegava. O certo é que as tábuas não racharam durante a secagem, mas quando as retirei para fazer a porta e a mesa ainda não estavam completamente secas. De qualquer modo, este processo todo foi muito rápido, não chegando a demorar dois meses.

Devido a alguma irregularidade das tábuas tive de utilizar a plaina para que a porta e a mesa ficassem com uma apresentação razoável, mas mesmo assim foi um sucesso esta operação de serragem pouco convencional.  


4 - Alicerces e base da cabana

Os alicerces e o murete onde assentam os troncos das paredes da cabana foram a primeira etapa da construção e também a mais fácil de executar. Os alicerces ficaram apenas com cerca de 30 cm de profundidade e creio que isso foi mais do que suficiente, porque, de facto, não acreditei na teoria de que as paredes de troncos têm um peso superior ao de uma parede de tijolos. Foram cheios com pedra e betão e depois ergui um pequeno murete com 30 cm de altura e 20 cm de largo, em cima do qual comecei a assentar os troncos. É certo que poderia colocar os troncos logo em cima da fundação, mas isso não seria boa ideia porque estariam em contato direto com a humidade do solo e apodreceriam mais depressa. Mesmo assim é de toda a conveniência colocar troncos mais grossos e de melhor qualidade no fundo, pois estes estarão sempre mais expostos à chuva.

O murete foi construído também com pedra e betão, não tendo utilizado ferro, por uma questão de economia e também porque achei que não seria necessário.

No chão do interior da cabana e também da pequena varanda, coloquei cacos de telhas e tijolos e depois uma primeira camada de betão, já nivelada, que iria servir de base para mais tarde fazer o acabamento do chão.





5 - Assentamento dos troncos

O assentamento dos troncos foi a etapa mais difícil e demorada de toda a construção. A minha intenção era ir colocando argamassa em cima dos troncos, ficando estes assim com as juntas já fechadas, mas depressa verifiquei que isso não era viável, por diversas razões, entre as quais se contavam as inúmeras manobras que tinha de fazer com os troncos até conseguir que eles se ajustassem minimamente, porque como já disse, infelizmente a maioria dos toros eram mesmo bastante tortos.

No entanto, consegui assentar os primeiros troncos em cima de uma camada de cimento e o trabalho começou muito bem. Tratei de escolher os paus mais grossos e pesados para o fundo, porque sabia que as dificuldades iriam aumentar na mesma proporção em que subiam as paredes.

A minha intenção era construir uma cabana rústica, de pequenas dimensões, mas de configuração idêntica às que os colonos construíam nas pradarias do Oeste Americano, introduzindo-lhe, no entanto, algumas inovações como a colocação de isolamento e forro na cobertura. A colocação horizontal dos troncos, entrelaçados nas pontas, que é uma característica deste tipo de construções, é também uma garantia de segurança e praticamente não é preciso utilizar pregos, no entanto é muito trabalhoso fazer os encaixes para os troncos e, no caso desta cabana, devido à irregularidade da madeira ainda se tornava mais complicado. Por isso, com o trabalho que tinha a aparelhar as árvores e fazer os encaixes, demorava quase um dia para assentar quatro troncos.

Os troncos na horizontal, com os topos saindo para fora das paredes cerca de 20 cm, obriga a diminuir o espaço interior e por isso é necessário ter em conta esse facto na hora de traçar as árvores, porque, para além dos 20 a 30 cm que ficam de fora, também é preciso contar com a espessura das paredes, ou seja com o diâmetro dos troncos, medida que não vai contar para a área interior.

Na abertura da porta e da janela optei por colocar, a servir de ombreiras, as duas metades de um tronco que serrei ao meio com a motosserra. Isso facilitou o assentamento dos troncos nesses locais, pois estes eram encostados de topo à parte serrada dos meios troncos das ombreiras. Mais tarde, aquando da colocação da porta, fui obrigado a serrar a outra parte do tronco, verificando ter sido um erro não ter colocado os troncos das ombreiras com duas faces serradas. Como é sobejamente conhecido, as portas para funcionarem bem têm de estar aplicadas a aros bem direitos e por isso, estas ombreiras, antes de se começar a encostar-lhe os troncos, devem ser devidamente aprumadas.

Quanto às padieiras, estas foram formadas por um tronco inteiro que foi serrado nas partes em que assenta nas duas aberturas, tendo a parte superior da porta e da janela ficado ao mesmo nível, como é normal na maioria das habitações. Foi a partir deste tronco que começou a empena, mas reconheço que seria bom assentar mais uma ou duas fiadas de troncos a toda a volta da cabana, mas eu não tinha mais madeira e o trabalho era cada vez mais difícil, pelo que decidi que já ficava bem assim; afinal era apenas uma cabana…



6 - Corte das empenas e colocação das traves

As empenas foram marcadas de modo a que o telhado ficasse com uma boa inclinação. Na altura ainda não sabia bem que tipo de cobertura ia colocar na cabana, mas o desenho que idealizara para o projeto assim o exigia e é sempre bom existir um escoamento eficaz, mesmo tratando-se de um telhado muito pequeno.

Os troncos das empenas foram colocados normalmente, sendo cada vez mais curtos conforme as paredes iam subindo e a ideia era cortar a empenas no final, pensando que assim seria mais fácil e que o corte ficaria mais certo, mas a verdade é que verifiquei que não era bem assim e que talvez fosse melhor colocá-los no lugar já devidamente cortados. A dificuldade do corte das empenas era em parte devido à má qualidade da corrente do motossera, não que fosse problema do afiamento da lâmina, mas simplesmente porque ela não prestava, conforme referi no artigo “Falsificações nas motosserras”.

De qualquer modo lá consegui cortar as empenas, mas aqui existia um problema, é que estas paredes como não estavam travadas nos topos, abanavam um pouco. Resolvi esse problema colocando duas escoras, na diagonal, por debaixo da trave do cume e fixas aos últimos troncos, antes do nascimento das empenas.

Para além da trave central, coloquei mais duas em cada água, todas elas com comprimento suficiente para cobrir a varanda. Estas traves são de eucalipto e o seu diâmetro é de cerca de 12 cm, grossura suficiente dadas as reduzidas dimensões da cabana.


7- Colocação do forro, isolamento e telhado

Cheguei a pensar em colocar um telhado verde na cabana, mas desisti com receio de que a coisa corresse mal e acabasse por ter mais tarde de aplicar telhas, o que seria uma sobrecarga de trabalho. A minha ideia inicial era colocar, por cima das traves, um forro composto por velhas persians de PVC e por cima as placas de isolamento. Em cima das placas uma tela em plástico e depois uma camada de terra onde apareceria alguma vegetação. Queria um telhado semelhante ao da cabana de Dick Proennek, mas pensei que a cobertura ficaria demasiado pesada, que a terra não se seguraria, dada a inclinação do telhado e ainda que, no verão, o verde desapareceria se não fosse regado.

Desisti do telhado verde, mas não desisti das persianas, pois achei que dariam um ótimo forro e ajudariam ao isolamento do telhado. Entretanto hesitava no tipo de telhas que deveria usar, achando que uma cobertura com telhas de barro vermelho não ficariam a condizer com a rusticidade da cabana. Foi então que descobri que num telhado da vizinhança andavam a retirar as telhas de cimento, de que era composto, para as substituírem por telhas de barro. Dirigi-me à obra perguntando se me poderiam vender algumas dessas telhas, e qual não foi a minha surpresa quando me disseram que podia levar gratuitamente as poucas que ainda restavam, pois estavam a destrui-las para irem depositar os bocados num aterro.

As telhas de cimento foram muito utilizadas nos anos 80, mas não tiveram grande sucesso. Essas telhas são pesadas e podem causar problemas em telhados com madeiramento fraco ou com pouca inclinação, mas em termos de duração não serão inferiores às telhas de barro. Achei que eram indicadas para a cabana e sempre era uma reciclagem que fazia, para além, claro está, da poupança que realizava.


8 - Vedação das frestas entre os troncos

Numa construção deste tipo o ideal seria encaixar os troncos na perfeição, de modo a dispensar o trabalho de tapar as frestas que ficam nas juntas dos troncos. Para isso seria necessário trabalhar os troncos de modo a obter encaixes tipo macho e fêmea em todos eles. Mesmo que depois ocorressem dilatações na madeira não haveria grande problema. Não digo que fazer isso era impossível, mas seria certamente muito difícil, ainda para mais com troncos tortos. Nas casas modernas que são construídas deste modo, muito provavelmente os troncos são preparados com máquinas, em grandes carpintarias, mas a minha cabana de troncos, que eu pretendo que seja uma réplica das cabanas rústicas que eram construídas nas terras do Tio Sam, não fazia sentido tanta perfeição, pois por lá tapavam as frestas com barro.

Por acaso, as paredes da minha cabana até ficaram com os troncos bem unidos, mas sempre havia uma fresta ou outra. Depois de algum tempo a ponderar sobre o tipo de massa que deveria empregar para tapar essas frestas pensei em utilizar barro, pois essa seria a solução mais económica, mas acabei por optar pela utilização de cimento e areia, pela facilidade da aplicação e também porque o trabalho sempre ficaria mais limpo, porque a cabana é para ficar com aspeto rústico, mas sem exageros. Sei que o trabalho ficaria bem se utilizasse uma massa composta de serradura e cola branca para madeira, que talvez fosse o mais indicado, mas isso custaria uma pequena fortuna e, por isso, essa opção nunca esteve nos meus planos.

O que esteve nos meus planos foi assentar os troncos, depois de devidamente preparados, em cima de uma camada de cimento, tal como se faz com os tijolos, porque assim evitava qualquer fresta e a junta de cimento ficava mais sólida. Só consegui assentar os primeiros quatro troncos em cima da massa, precisamente os que ficaram em cima do murete de betão, porque a partir daí esse trabalho era quase impossível de fazer por vários motivos, mas principalmente porque era preciso fazer grandes manobras com os paus, pregar alguns pregos e também dar pancadas nos troncos, o que iria rebentar com as juntas.

Depois deste trabalho concluído, fiquei com a firme convicção de que o trabalho ficaria melhor se tivesse deixado entre todos os troncos um espaço de cerca de um cm. Esse espaço ficaria a ligar a massa colocada pelos dois lados da parede e a vedação das juntas seria muito mais sólida. É certo que existiam frestas, algumas até com mais de um cm, mas em muitos pontos os trocos estavam encostados, o que impedia a ligação interior/exterior da massa, podendo nessas áreas a vedação vir a soltar-se.


9 - Arranjo do chão e colocação de pedras na varanda e no murete de concreto

Esta etapa da construção foi, a par com a dos alicerces e da base da cabana, das mais fáceis de executar. Tratava-se de um género de trabalho que estava habituado a fazer, devido à prática adquirida durante o meu percurso profissional na construção civil. Mesmo assim, este trabalho não se resumiu apenas a cimentar o chão e colocar as pedras, pois como a economia era uma regra constante, ainda gastei quase um dia a juntar as pedras numa serra e a transportá-las para a obra, tendo usado pedras de xisto, para ficar a condizer com outras construções da chácara. Acho que as pedras de xisto condizem bem com os troncos da cabana e o pequeno murete, revestido com essas pedras, funde-se na arquitetura rústica da construção.


10 - Construção e colocação da porta e janela

Já falei da serragem da madeira com a qual fiz a porta da cabana e também duas mesas e dois pequenos bancos. O trabalho de serragem é que foi mais complicado, porque fazer uma porta de estilo rústico como esta, não tem qualquer dificuldade. Para galgar as tábuas utilizei uma serra de disco elétrica e, para corrigir um pouco as irregularidades da madeira, uma pequena plaina. Preguei três travessas na porta, duas dobradiças fortes e uma fechadura, tendo ficado com a certeza que esta porta é um dos componentes mais fortes da cabana, atendendo a que é de castanho e tem quatro centímetros de espessura. Com a mesma madeira de castanho fiz também um aro para a porta e outro para a janela, de modo a que, quando fechada, exista uma vedação em toda a estrutura que impeça a entrada de pequenos bichos, como roedores ou répteis.

A janela foi aproveitada de uma lixeira. Tinha um vidro partido, mas a madeira ainda estava em boas condições e depois de colocar um vidro novo e de uma pintura, esta janela ficou como nova. Atendendo a que já tinha a janela antes de começar a construir a cabana tive o cuidado de deixar a abertura de acordo com as medidas da janela e, devido a isso, não tive problemas na sua colocação; foi só colocar-lhe duas dobradiças, mais dois ferrolhos e pronto…


11 - Tratamento para conservação da madeira

Andei à procura de um produto para tratar a madeira que fosse de preço acessível, mas o mais barato que encontrei custava cerca de 5 euros o litro. Como precisava de pelo menos uns dez ou doze litros de produto, no mínimo, achei que era uma despesa elevada e que o produto, por ser o mais barato, talvez não oferecesse garantias de qualidade. Pensei em utilizar óleo de motores usado, mas isso iria dar um tom muito escuro à madeira e desisti dessa ideia. Alguém me disse para usar gasóleo, que também servia, pois os produtos para tratar a madeira são todos derivados do petróleo, mas não fiquei convencido. Foi então que me lembrei que tinha alguns garrafões com óleo alimentar usado, que é, aliás, o óleo que utilizo para a lubrificação da corrente da motosserra.

Para já, foi esse óleo que utilizei e mesmo sabendo de antemão que não foi a melhor solução, o certo é que esse produto apagou as manchas de cimento, deixadas devido à vedação das juntas e melhorou o aspeto da madeira. Como era um produto que já tinha cumprido a sua missão inicial, o seu destino era o reaproveitamento ou reciclagem e creio que, deste modo, o seu destino se cumpriu. Considerando que estava a usar um produto a custo zero, não estive com poupanças e dei duas boas demãos no exterior e uma no interior, dando assim por concluída a construção da minha cabana de troncos.

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