O edifício que funcionou como hospital, em Vila Nova do Ceira. |
Um
destes dias quando passava na E.N. nº 2, junto a Vila Nova do Ceira, reparei
num edifício com alguma grandeza e com a aparência de estar numa situação de
abandono há já algum tempo. Edifícios abandonados encontram-se muitos um pouco
por toda a parte, mas este despertou-me a curiosidade, não só pelo seu tamanho,
como também pela sua arquitetura com alguma imponência e pela elevada área de
terreno que tem defronte, fazendo suspeitar que não se trata de um vulgar
edifício habitacional, mas que terá funcionado ao serviço de uma comunidade e
que guardará, com toda a certeza entre as suas paredes, uma História...
Pelo
que no momento me foi dado verificar, ali funcionou um Centro de Dia, pois num
canto do edifício encontra-se ainda uma placa com essa indicação. Ao centro, no
canto do ângulo formado pelas duas partes do edifício, encontram-se alguns
dizeres sobre as funções que foram desempenhadas por aquele edifício. O tempo, aliado
à falta de manutenção encarregou-se de os tornar praticamente ilegíveis e a
única palavra que ainda se percebe distintamente é “Bastos”.
Ao centro do edifício um letreiro anunciava um Centro de Férias, uma missão que desempenhou mais tarde. |
Fui
à procura de mais informação sobre este edifício, tendo ficado a saber que ele
começou por funcionar como hospital em 1916. Mais tarde passou a funcionar como
sanatório para tratamento e internamento de doentes com tuberculose, até que
essa doença deixou de necessitar de internamento, tendo então os serviços
médicos passado para outras instalações. O edifício foi então aproveitado para
ali funcionar um Centro de Férias e, agora, analisando bem o letreiro
praticamente ilegível do edifício, parece que é isso que ali está anunciado.
Juntando o que ainda se consegue ler a um pouco de adivinhação tivemos ali o
“Centro de Férias e Actividades Desportivas Monteiro Bastos”.
Já
há muito tempo que o edifício deixou de funcionar como Centro de Férias e foi
ali instalado, numa pequena parte do rés do chão, um Centro de Dia que,
entretanto, também foi transferido para um novo espaço. A partir de então
começou a decadência do edifício que tinha uma arquitetura agradável e que
agora está num estado de deterioração progressiva, com algumas janelas abertas
e manchas nas paredes sinalizando infiltrações de água.
Não
consegui encontrar referências às datas em que funcionaram ali os vários
serviços mencionados, mas fui à procura de outro elemento muito importante
nesta história: quem foi Monteiro Bastos, o homem que tem o seu nome escrito na
fachada central do edifício?...
Comendador Monteiro Bastos. |
Joaquim
Marques Monteiro Bastos nasceu na Ponte Pequena, Ponte do Sotam, a 30 de
Novembro de 1830.
Filho de Francisco Marques e de Maria Rita, passou a infância na Monteira com seus pais. Em 1852 partiu para o Brasil, residindo no Rio de Janeiro e no Estado de S. Paulo, onde se dedicou ao comércio, tendo regressado em 1879. Em 1884 fixou a sua residência na Várzea Grande.
Casou no Brasil com Maria Teresa da Fonseca Marques e, em segundas núpcias, com Luciana de Jesus Coelho, de Góis. Foi chefe do Partido Progressista do concelho de Góis e grande benemérito do concelho. Doou à Santa Casa de Misericórdia de Góis um prédio urbano e rústico na Várzea e avultadas somas de dinheiro, destinadas à construção do Hospital que teria o seu nome e o qual viria a ser inaugurado em 12 de Março de 1916.
Esta rua, em Vila Nova do Ceira, tem o nome do Comendador Joaquim Monteiro Bastos. |
Agraciado com a comenda da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo em Março de 1888 e, em Dezembro de 1916, o governo publicou uma portaria, prestando-lhe louvores pelos seus atos de benemerência.
Foi presidente da Câmara Municipal de Góis por duas vezes, nos períodos 1887-1888 e 1893-1895.
Morreu na Várzea Grande em 2 de Maio de 1917.
Exmos Srs,
ResponderEliminarEspero que se encontrem todos bem. Não consigo identificar a data deste comentário mas de facto nos anos 80/90 estive neste edificio nas colonias de férias organizadas através dos serviços sociais da Função Pública. Ainda não me foi possível ir pessoalmente ao local, passados tantos anos, mas se se encontrar como vocês demonstram é muito triste. Com razão o dizem, que em qualquer localidade, de grande ou pequena dimensão, existem edificios abandonados...pode ser que um dia mude a postura das entidades responsáveis de cada concelho... Abraço e saúde para todos.
Este post foi publicado em 30 de Outubro de 2012. Já não passo no local há bastante tempo, quando lá passar se verificar alterações no edifício, actualizarei o artigo.
EliminarAbraços.
Hoje regressei a esse lugar numa viagem pela N2. Na década de 90 estive lá várias vezes, em adolescente, em colónias de férias. O centro do dia funcionou em simultâneo com o centro de férias. São muitas as recordações que guardo desses anos. É uma pena o abandono a que foi votado.
ResponderEliminarContinua a degradação do edifício. Em agosto de 2021, tudo estava igual!
ResponderEliminarNo entanto, consta pela vila de Vila Nova do Ceira, que este edifício será reaproveitado para servir um hotel.
Não tenho mais pormenores...