Num
passado ainda não multo distante todos ou quase todos os habitantes das aldeias
e vilas amanhavam as suas parcelas de terreno, ainda que para muitos não fosse
a sua actividade principal, mas, fosse qual fosse a sua atividade profissional,
logo que chegavam a casa depois da jornada diária de trabalho para o patrão, comiam
qualquer coisa e dirigiam-se logo para a sua terra, tratar da horta, das
árvores de fruto, cavar, regar…Ali tinham sempre qualquer coisa para fazer e
nem os domingos de manhã escapavam. Trabalhar na agricultura era uma tradição e
uma necessidade e quem não o fizesse não era muito bem visto, podendo ser alvo
de críticas mais ou menos disfarçadas.
Nessa
altura, as pessoas não cultivavam as suas terras apenas para obter produtos para consumo próprio,
mas também para os vender, pois era mais fácil escoar esses
produtos e como toda a gente criava animais de várias espécies, como coelhos,
galinhas, porcos, cabras etc. muitos produtos da terra destinavam-se à sua
alimentação.
Quem
não tinha terras arrendava-as e por isso era difícil encontrar, como hoje,
terrenos com aptidão agrícola e onde outrora foram construídos poços para
extração de água para regas, ou mesmo terrenos junto a rios, completamente
abandonados, infestados de silvas e matos, alguns constituindo mesmo um grave
perigo por causa dos incêndios devido a estarem próximo de habitações.
A
razão para esse abandono das terras tem muito a ver com a integração de
Portugal na CEE, mas existem certamente outras e a luta pela sobrevivência
passou a ser feita com outras armas, uma vez que muitos dos trabalhos agrícolas
que se faziam foram trocados por outros mais rentáveis, no comércio, na
construção, na industria…
Mas
ainda há os velhos resistentes que teimam em arrancar da terra alguns dos seus frutos,
por necessidade, por gosto, ou porque faz parte das suas raízes, da sua cultura…
E,
nesta altura do ano, quem amanha a sua leira de terra, a sua horta ou o seu
pomar, sente o gosto e a satisfação do dever cumprido ao ver a terra coberta de
batatas, as suas fruteiras carregadas de frutos reluzentes e saborosos, o verde
das suas alfaces, couves ou feijões.
O
homem que semeia colhe os frutos da terra e do seu trabalho, sendo isso a recompensa
do seu esforço e dedicação a uma das mais antigas atividades do ser humano.
“A terra a quem a trabalha” é um velho slogan pós-revolucionário que curiosamente, dada a sua carga
ideológica, mantém alguma atualidade, pois nos últimos meses tem-se discutido a
criação de uma bolsa de terras em que a ideia é utilizar os terrenos que
estejam abandonados e, mediante um contrato de arrendamento, entregá-la a quem
esteja interessado no seu cultivo.
A
ideia, que já tem três décadas, tem estado na mente de sucessivos governos, mas
passar da teoria à prática, nesta como em muitas outras coisas não é um
processo fácil, nem consensual e, muitas das vezes, essas ideias não chegam a
passar do papel.
Nas
zonas rurais, onde se encontram muitos terrenos abandonados os bancos de terras
poderiam ser uma boa solução para quem se quisesse dedicar à produção agrícola,
mas para isso era necessário que os agricultores conseguissem vender os seus
produtos a um preço justo, para assim conseguirem uma solução de trabalho
economicamente viável.
O
que já saiu do papel e passou para a prática são as chamadas hortas
comunitárias em zonas urbanas e também rurais. Nestes espaços criados pelas
autarquias, as famílias que não possuam terreno próprio poderão cultivar
produtos como a alface, tomate, couve, espinafre, repolho, alho, cenoura, entre
outras verduras e legumes, assim como árvores de frutos, plantas medicinais,
aromáticas e condimentares e, ao mesmo tempo, poderão usufruir de áreas de
convívio e descanso.
Constituindo
um complemento ao orçamento familiar, servem também um propósito pedagógico ao
promover as boas práticas agrícolas e a agricultura biológica, incentivando à
produção da terra e à preservação e conhecimento da natureza.
Um
exemplo de uma horta comunitária de sucesso é a que foi recentemente criada
pela Junta de Freguesia de Miranda do Corvo, a avaliar pelas palavras do seu
presidente e que foram noticia na comunicação social:
Horta comunitária de Miranda do Corvo http://www.freguesiademirandadocorvo.pt/ |
A
horta comunitária de Miranda do Corvo, desenvolvida pela Junta de Freguesia,
está a ajudar 18 famílias a aliviar as dificuldades motivadas pela crise, revelou
o presidente da autarquia, Fernando Araújo.
«Está
a ser um sucesso a todos os níveis», sublinhou o autarca, adiantando que já
existe uma lista de espera de 12 famílias, que também ambicionam um espaço para
cultivar alguns produtos alimentares.
Dos
actuais 20 lotes, entregues no primeiro trimestre do ano, 18 foram cedidos a
famílias carenciadas, que era o principal requisito para a cedência de uma
parcela de 70
metros quadrados de terreno.
Segundo
o presidente da Junta de Miranda do Corvo, os outros dois espaços foram
entregues a reformados, um que actua como instrutor agrícola e outro que,
embora não tenha necessidades financeiras, precisa de «combater o stress».
Fernando
Araújo adiantou que, se houver disponibilidade financeira, a Junta avança no próximo
ano com mais hortas comunitárias na freguesia.
Na
actual horta, a Junta de Freguesia investiu cerca de 1500 euros em vedações,
sistema de rega e reparação de um anexo para guarda de ferramentas, valor que o
autarca considerou «muito dispendioso para os cofres» do órgão a que preside,
apesar de cada família contribuir mensalmente com uma taxa de três euros para
as despesas de manutenção.
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