- O
que queres ser quando fores grande?...
- Eu…
eu quando for grande quero ser pedreiro!
A
pergunta pode parecer banal de tão usada e gasta que está. Afinal é a pergunta
que muitos adultos fazem às crianças, esperando hipocritamente uma resposta,
como se alguém, nos tempos que correm, pudesse decidir e escolher o seu futuro
profissional.
A
resposta, essa, já não é tão usual assim. Acho que ninguém, nem mesmo uma
criança vai dizer que quer ser pedreiro. Talvez tenha sido ensinada para dizer
que quer se engenheiro, médico, ou militar, mas nunca pedreiro, essa profissão
olhada por muitos como um ofício de pessoas menos capazes ou ignorantes.
E
a verdade é que a maioria dos trabalhadores da construção civil, não escolheram
um trabalho tão duro, por gosto ou vocação. Muitos que por lá andam, quem sabe
se não desejaram também um dia estar sentados a uma secretária, passando
receitas ou olhando para a realidade do mundo através dos filtros de vidro de
uma janela.
A
profissão de pedreiro é uma das mais antigas que se conhecem. Na atualidade é
uma arte que engloba a execução de outros trabalhos, não se restringindo às
obras em pedra como o nome parece indiciar, nem mesmo à alvenaria em geral,
pois a exigência das construções modernas requer polivalência e faz com que o pedreiro
tenha de aprender a fazer armações em ferro, carpintarias em tosco (cofragens),
acabamentos com massas finas, assentamento de azulejos e até um pouco de
eletricidade e canalização. Nas grandes empresas isso provavelmente não
acontece, pois elas terão ao seu serviço pessoal especializado para cada um
desses trabalhos específicos. No entanto, a classificação de bom pedreiro passa
também pela sua capacidade e polivalência para executar ou para colaborar na
execução dos diversos serviços.
É
incompreensível que alguém possa olhar para a profissão como algo de
desprezível, quando ela é tão exigente. Possivelmente quem hoje tem essa visão
tão atrofiada, nem sequer faz qualquer distinção entre pedreiro, servente, ou
canalizador. Se trabalham numa obra são pedreiros e está tudo dito…
A
profissão de pedreiro para além de ser dura fisicamente, é também
intelectualmente muito exigente, pois é necessário interpretar projetos e
plantas nem sempre fáceis de compreender. A matemática tem de estar sempre
presente e a fita métrica torna-se a par com a colher de pedreiro uma das
ferramentas mais utilizadas pelo profissional. Para além disso o pedreiro tem
que possuir sensibilidade artística para executar os seus trabalhos com esmero,
uma vez que o produto final desse trabalho é para ficar visível e o orgulho ou
a vergonha são os sentimentos que mais tarde irão perdurar, não existindo meio-termo.
A
construção civil foi durante alguns anos o motor que impulsionava a economia de
Portugal. Nas últimas três décadas fizeram-se muitas obras, a um ritmo que
seria impossível de manter eternamente. Muitas foram levadas a cabo para
satisfazer necessidades passageiras, como a organização de eventos em busca de uma
glória que depressa se verificou ser efémera e se esvaiu quase de um dia para o
outro. Desse “boom” da construção ficou a nostalgia, ensombrada pela realidade
do presente perante a falência, não só de milhares de empresas de construção,
mas também de um mar imenso de outras que gravitavam ao seu redor, como
cerâmicas de tijolos ou azulejaria, serrações de madeira, carpintarias, fábricas
de transformação de mármores e granitos, etc.
Mas,
em outros países, como é o caso do Brasil, a indústria da construção continua
em alta e, naturalmente, a profissão de pedreiro aí continua a ser muito
solicitada e muitas empresas do ramo que não conseguem trabalho em Portugal
partem para esse e outros países sul americanos para fugirem ao encerramento.
Tudo
na vida está em constante evolução e os métodos de trabalhos na construção
civil, bem como em outros ramos da economia, não são exceção e agora as
condições para se ser um bom profissional são mais exigentes e a figura do
“pedreiro analfabeto”, criada devido às poucas habilitações de muitos
trabalhadores admitidos na construção, não tem mais razão de ser. Muitos dos
trabalhadores que hoje laboram na construção civil concluíram o ensino
secundário no ensino tradicional ou em Escolas Profissionais onde foram
preparados para o trabalho nas obras, mas é bom que se diga que é em contato
com a realidade que a plena formação é conseguida. Muitos mestres de obras que
dirigem trabalhos e interpretam projetos complexos, aprenderam a sua arte,
desde muito novos, começando a trabalhar como serventes e assim foram
adquirindo saberes que os levaram a um alto patamar de conhecimentos práticos,
muitas vezes relegando os engenheiros com as suas teorias para meras figuras
decorativas.
Felizmente
a opinião pública negativista em relação aos pedreiros tem vindo a desaparecer
e esses profissionais começam a ser respeitados e até admirados pelas suas
capacidades artísticas, porque não dizê-lo?... Não quer dizer que não fossem
desde sempre respeitados pela maioria das pessoas, mas existia e talvez exista
ainda uma minoria com ideias negativas, preconcebidas, que não têm qualquer
razão de ser.
Possivelmente
algum do conceito negativo que tem existido é devido ao facto dos pedreiros,
“mandarem bocas” principalmente para as meninas ou senhoras que passam junto às
obras. Normalmente são piropos bem intencionados, mas, claro, há sempre, seja
onde for, alguém que destoa do ambiente geral e uma palavra ou uma frase mais picante
ou mal-educada faz alastrar uma atribuição generalizada de má educação,
provocando a tal opinião negativa, que de todo não é justificável.
Também
em pessoas mais preconceituosas pode acontecer algum sentimento de repulsa em
relação aos pedreiros, por causa de andarem muitas vezes com roupas velha e
sujas, mas isso é absolutamente uma ideia tola dada a natureza do seu trabalho.
Neste caso deveriam haver sentimentos completamente contrários, uma vez que
andar sujo devido ao trabalho deve ser motivo de orgulho e não de vergonha.
A
construção civil é uma boa escola para aprendizagens muito úteis e necessárias
no dia a dia. Saber trabalhar como pedreiro é uma mais valia e uma arte. É como
uma carta na manga que pode ser lançada a qualquer momento no jogo para
resolver muitos problemas do ramo que sempre vão surgindo em nossas casas.
Sejam simples trabalhos de manutenção ou criar algo de novo - fazer com as
próprias mãos - para além das naturais vantagens económicas, é sempre
gratificante e motivo de orgulho.
embora muitas mães não desejam ver seus filhos na obra elas os assustam dizendo_ estuda meu filho se não você vai ser um pedreiro que nem seu pai .
ResponderEliminarOlá, André. Obrigado pelo comentário.
EliminarTem razão. A vida de pedreiro é dura e todas as mães querem o melhor para os seus filhos, mas alguém tem de trabalhar nas obras e ser pedreiro não é desonra para ninguém.