De
todas as ferramentas eléctricas que existem atualmente, o berbequim ou
furadeira é uma das mais populares e úteis para a efetivação de imensos
trabalhos na área de construção, de bricolage, de manutenção em casa e muitos,
muitos outros…
As
origens do berbequim remontam ao trado de arco de rabeca do homem
pré-histórico, ao arco de pua e broca do carpinteiro do século XV e à broca
helicoidal da década de 1860. Em 1889, o engenheiro australiano Arthur James
Arnot registou a patente do que seria a primeira ferramenta de furar elétrica.
Seis anos depois, em 1895, foi a vez dos irmãos Wilhelm Fein e Carl Fein, apresentarem em
Estugarda – Alemanha – a sua invenção: um berbequim eletrico portátil.
Em
1917, a
Black & Decker registou na América a patente de um interruptor de gatilho
para ligar e desligar, montado no punho, e passou a utilizar um motor
“universal” que funcionava quer com corrente contínua quer com alterna. O motor
transmitia o movimento através de uma ou mais engrenagens de redução de
velocidade à broca montada na bucha. Uma ventoinha acoplada ao veio do rotor
produzia um arrefecimento forçado do motor.
Hoje
em dia os berbequins apresentam um punho semelhante ao de uma pistola e,
frequentemente, dispõem de um interruptor equipado com um dispositivo que faz
variar a corrente elétrica transmitida ao motor de acordo com a pressão sobre
ele exercida. Deste modo, a velocidade de rotações pode variar desde cerca de
10 até 1000 rpm.
A
importância do berbequim ou furadeira é tal que hoje quase ninguém dispensa uma
dessas ferramentas em casa, seja simplesmente para fazer de vez em quando uns
furos na parede para pendurar um quadro, ou para trabalhos mais criativos que
envolvam a necessidade de fazer furos para aplicação de parafusos etc.
Eu
tenho quatro berbequins, dois dos quais já não funcionam devido ao uso que lhes
dei, pois acabaram completamente desgastados. O primeiro que adquiri era um
Black & Decker e era uma ferramenta muito versátil, que dava para acoplar
vários acessórios como uma serra circular, lixadeira vibratória, disco de
borracha para aplicação de lixas, disco de escova de aço, suporte horizontal
fixo para trabalhar como esmerilador e outros utensílios como uma boina de lã
que era encaixada no disco de borracha e servia para polir o automóvel.
De
todos estes acessórios, o que mais utilizava, para além da função de furar do
berbequim, era o disco de lixa, pois com ele conseguia fazer lixagens em
madeira com alguma eficiência. Também utilizava a serra circular, mas apenas
para cortar tábuas com até 0,025m de espessura, pois a ferramenta não permitia
tábuas mais grossas e também as rotações do berbequim não eram tão elevadas que
permitissem um corte muito rápido. Servia apenas para trabalhos de pequena
dimensão.
Não
sei se a Black & Decker ou outra marca qualquer ainda produz desses
berbequins e respetivos acessórios, creio que não, pois numa pesquisa que fiz
nos sites de algumas marcas não encontrei nada disso, no entanto, quando
adquiri aquela ferramenta, no início dos anos 80 do século passado, ela estava
bastante na moda. O berbequim, na sua função principal de furar, era quase como
os berbequins atuais, apenas tinha a mais uns frisos no corpo que serviam para
encaixe da serra circular e de outros acessórios. Para o funcionamento da
serra, do disco de lixa e dos outros acessórios era retirada a bucha do
berbequim e em seu lugar eram enroscadas as diferentes peças. Excetuando o
berbequim, que tinha duas velocidades fixas e sistema de percussão para furos
em betão ou concreto, o restante material só servia para uma utilização amadora
e mesmo assim apenas para executar trabalhos muito ligeiros.
Lixadeira vibratória que era movimentada pelo berbequim. A peça do interior era enroscada no berbequim e a sua configuração provocava as vibrações na lixadeira. |
Disco de escova de aço e disco de borracha. Estes são os únicos acessórios que ainda mantenho. Os restantes, incluindo o berbequim, estavam avariados e foram para reciclagem há muito tempo. |
Hoje,
todas essas ferramentas são produzidas para funcionamento individual e, como se
compreende, a potência necessária, velocidade de rotação etc. para cada uma
delas é naturalmente diferente e com uma máquina concebida propositadamente
para um trabalho específico, obtém-se melhor rendimento. De qualquer maneira
uma furadeira com todas aquelas funções, ainda que limitadas em eficiência, não
deixava de ser uma máquina interessante devido à sua portabilidade e
polivalência.
Os
berbequins que adquiri posteriormente já só servem apenas para a sua função de
furar, têm sistema de rotação variável, para utilizar de acordo com os furos a
realizar e percussão para furos em paredes.
Um
desses berbequins funciona a bateria, ou melhor funcionava, porque as baterias
já há muito que “foram à vida”. É um pequeno aparelho que devia ser utilizado
só para aparafusar e furar em materiais não muito duros, mas eu cheguei
inclusivamente a tentar fazer furos em betão com ele, o que originava que as
baterias se esgotassem muito rapidamente e, após uma dúzia de cargas elas
deixaram simplesmente de armazenar energia, pelo que desisti simplesmente de utilizar
este aparelho.
Pela
experiencia que tenho de trabalho com berbequins e se me é permitido vou dar
alguns conselhos a utilizadores mais novos. São pequenas coisas que todos os
que utilizam essas ferramentas conhecem e quem ainda não conhece depressa se
irá inteirar delas, quando começar a trabalhar com um berbequim. De qualquer
maneira poderá ser uma ajuda inicial. Assim espero…
Brocas diversas para diferentes trabalhos. |
Devem
utilizar-se sempre brocas indicadas para o trabalho a efetuar e usar-se sempre peças
de boa qualidade e em bom estado, pois tentar fazer furos com brocas rombas ou
queimadas, para além do tempo perdido é preciso ter em atenção que se está a
exigir um demasiado e desnecessário esforço ao berbequim que, evidentemente,
pode destruir a máquina devido ao sobreaquecimento e, para além disso, se está
a consumir energia desnecessariamente. Por tudo isso compensa utilizar sempre
brocas em bom estado.
Outra
coisa importante é não deixar aquecer demasiado as brocas e quando se está a
furar, sobretudo em ferro, é conveniente ir molhando a broca em água ou, melhor
ainda, em óleo, para evitar o destempero da ferramenta. As rotações não devem
ser muito elevadas, nem se deve empregar demasiada força no berbequim. Nota-se
que uma broca está a atuar bem sobre o ferro quando começam a soltar-se pequenas
lascas do círculo que está a ser aberto.
Na
furação em paredes, com brocas próprias para esse fim, o berbequim deve estar
na posição de martelo e deve-se tentar saber se no local passam tubos de água,
gás ou outros e também fios de eletricidade, para evitar qualquer acidente. Por vezes, quando se está a furar em betão ou
concreto, a broca atinge o ferro das armações, pelo que não adianta forçar a
ferramenta para continuar a furar, uma vez que isso é impossível e só se irá
dar cabo da broca. Nestes casos o melhor é desviar o furo, caso isso seja
possível, se não teremos de nos contentar com o furo tal como está ou estudar
outra solução. O diâmetro do furo deve ser compatível com a bucha; esta deve
entrar à justa no buraco para que os parafusos apertem com segurança.
Hoje
em dia adquirem-se berbequins a preços muito acessíveis (o último que adquiri
custou 15 euros) e que servem perfeitamente para uso doméstico, especialmente
quando a sua utilização é apenas para fazer alguns furos, ocasionalmente, mas
se pretendermos um aparelho de marca como seja a Black & Decker, aí o caso
muda de figura e é preciso desembolsar bastante mais. Ainda me lembro do preço
que paguei pelo berbequim dessa marca que adquiri em 1980: seis mil e
quinhentos escudos, o que corresponderia hoje, em euros, a 32,50. Não parece
muito, atendendo à grande quantidade de acessórios que incluía e aos variados
trabalhos que podia executar, mas naquela altura seis mil e quinhentos escudos
era mesmo muito dinheiro.
De
resto a Black & Decker foi durante muito tempo a marca rainha dos
berbequins, não sei se ainda hoje o é, mas os berbequins, de uma forma geral,
eram conhecidos em linguagem popular pelo nome da marca – costumava designar-se
um berbequim, fosse qual fosse a marca – por um “blécandeca”. Utilizavam-se
expressões como: “comprei um blécandeca”, ou “vou fazer um furo com um
blécandeca”.
A
história da Black & Decker remonta ao outono de 1910, quando Duncan Black e
Alonzo Decker investem 1.200 dólares no sonho de construir máquinas
especializadas e fundam a Black & Decker® Manufacturing Company em Carvert
Street, Baltimore. O sucesso alcançado foi muito além do que poderiam imaginar…
Na
sua longa história de sucesso, os berbequins estão sempre presentes e mesmo com
a Black & Decker® a assumir-se como a maior fabricante mundial de
ferramentas eléctricas e acessórios, o que inclui a produção de muitos outros
tipos de máquinas e ferramentas, o velhinho berbequim ou furadeira, ficou para
sempre ligado à empresa, como uma imagem de marca, que permaneceu interiorizada
em várias gerações de utilizadores.
Muitas
das grandes inovações da empresa têm o berbequim como figura central, uma
ferramenta cuja utilização ultrapassou as fronteiras do nosso planeta, como se
percebe na história da marca:
1917
- É patenteado o berbequim eléctrico com punho tipo pistola e interruptor de
gatilho. É também construída a primeira fábrica da Black & Decker® em
Towson, então subúrbios de Baltimore, EUA, um edifício de madeira com apenas 1.300 metros quadrados .
1923
- Durante os anos 20 são desenvolvidas muitas outras ferramentas eléctricas com
base no punho tipo pistola e no interruptor de gatilho, incluindo o primeiro
berbequim totalmente equipado com chumaceira, em 1923.
1946
- É lançada a Home Utility Line. É, em todo o mundo, a primeira gama de
berbequins e acessórios a preços acessíveis aos amantes do “Faça Você Mesmo”.
1950
– É atingido o número de 1 milhão de berbequins produzidos para amadores.
1964
- A Black & Decker® inicia a sua colaboração com a NASA, construindo a
ferramenta espacial "Punho Motriz de Binário Mínimo" para ser
usado em condições sem gravidade pelos astronautas do Projecto Gemini.
1961
- 1962 - A Black & Decker® introduz o primeiro berbequim sem fio, uma
inovação mundial com baterias de nickel-cadmium incorporadas. Um corta sebes
sem fio e mais quatro modelos de berbequim sem fio para uso profissional foram
lançados em 1962.
1968
- O berbequim lunar (LSD) a baterias desenhado para remover amostras do solo na
lua é entregue à NASA.
1971
- O berbequim Lunar (LSD) é usado com sucesso na missão Apollo 15 e mais tarde
também nas missões Apollo 16 e 17.
Esta
é apenas uma pequenina parte da história de sucesso da Black & Decker, uma
empresa que começou praticamente do nada, tal como acontece como outras grandes
marcas de nível mundial.
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