As empenas foram marcadas de modo a que o telhado ficasse com uma boa inclinação. Na altura ainda não sabia bem que tipo de cobertura ia colocar na cabana, mas o desenho que idealizara para o projeto assim o exigia e é sempre bom existir um escoamento eficaz, mesmo tratando-se de um telhado muito pequeno.
Os troncos das empenas foram colocados normalmente, sendo cada vez mais curtos conforme as paredes iam subindo e a ideia era cortar a empenas no final, pensando que assim seria mais fácil e que o corte ficaria mais certo, mas a verdade é que verifiquei que não era bem assim e que o melhor teria sido colocá-los no lugar já devidamente cortados. A dificuldade do corte das empenas era em parte devido à má qualidade da corrente do motossera, não que fosse problema do afiamento da lâmina, mas simplesmente porque ela não prestava, conforme referi no artigo “Falsificações nas motosserras”.
De qualquer modo lá consegui cortar as empenas, mas aqui existia um problema, é que estas paredes como não estavam travadas nos topos, abanavam um pouco. Resolvi esse problema colocando duas escoras, na diagonal, por debaixo da trave do cume e fixas ao últimos troncos, antes do nascimento das empenas.
Para além da trave central coloquei mais duas em cada água, todas elas com comprimento suficiente para cobrir a varanda. Estas traves são de eucalipto e o seu diâmetro é de cerca de 12 cm , grossura suficiente dadas as reduzidas dimensões da cabana.
6 - Colocação do forro, isolamento e telhado
Cheguei a pensar em colocar um telhado verde na cabana, mas desisti com receio de que a coisa corresse mal e acabasse por ter mais tarde de aplicar telhas, o que seria uma sobrecarga de trabalho. A minha ideia era colocar, por cima das traves, um forro composto por velhas persians de PVC e por cima as placas de isolamento. Em cima das placas uma tela em plástico e depois uma camada de terra onde apareceria alguma vegetação. Queria um telhado semelhante ao da cabana de Dick Proennek, mas pensei que a cobertura ficaria demasiado pesada, que a terra não se seguraria, dada a inclinação do telhado e ainda que no verão o verde desapareceria se não fosse regado.
Desisti do telhado verde, mas não desisti das persianas, pois achei que dariam um ótimo forro e ajudariam ao isolamento do telhado. Entretanto hesitava no tipo de telhas que deveria usar, achando que uma cobertura com telhas de barro vermelho não ficariam a condizer com a rusticidade da cabana. Foi então que descobri que num telhado da vizinhança andavam a retirar as telhas de cimento, de que era composto, para as substituírem por telhas de barro. Dirigi-me à obra perguntando se me poderiam vender algumas dessas telhas, e qual não foi a minha surpresa quando me disseram que podia levar gratuitamente as poucas que ainda restavam, pois estavam a destrui-las para irem depositar os bocados num aterro.
As telhas de cimento foram muito utilizadas nos anos 80, mas não tiveram grande sucesso. Essas telhas são pesadas e podem causar problemas em telhados com madeiramento fraco ou com pouca inclinação, mas em termos de duração não serão inferiores às telhas de barro. Achei que eram indicadas para a cabana e sempre era uma reciclagem que fazia, para além, claro está da poupança que realizava.
7 - Vedação das frestas entre os troncos
Numa construção deste tipo o ideal seria encaixar os troncos na perfeição, de modo a dispensar o trabalho de tapar as frestas que ficam nas juntas dos troncos. Para isso seria necessário trabalhar os troncos de modo a obter encaixes tipo macho e fêmea em todos eles. Mesmo que depois ocorressem dilatações na madeira não haveria grande problema. Não digo que fazer isso era impossível, mas seria certamente muito difícil, ainda para mais com troncos tortos. Nas casas modernas que são construídas deste modo, muito provavelmente os troncos serão preparados com máquinas, em grandes carpintarias, mas a minha cabana de troncos, que eu pretendo que seja uma réplica das cabanas rústicas que eram construídas nas terras do Tio Sam, não fazia sentido tanta perfeição, pois por lá tapavam as frestas com barro.
Por acaso, as paredes da minha cabana até ficaram com os troncos bem unidos, mas sempre havia uma fresta ou outra. Depois de algum tempo a ponderar sobre o tipo de massa que deveria empregar para tapar essas frestas pensei em utilizar barro, pois essa seria a solução mais económica, mas acabei por optar pela utilização de cimento e areia, pela facilidade da aplicação e também porque o trabalho sempre ficaria mais limpo, porque a cabana é para ficar com aspeto rústico, mas sem exageros. Sei que o trabalho ficaria bem se utilizasse uma massa composta de serradura e cola branca para madeira, o que era o mais indicado, mas isso custaria uma pequena fortuna e por isso essa opção nunca esteve nos meus planos.
O que esteve nos meus planos foi assentar os troncos, depois de devidamente preparados, em cima de uma camada de cimento, tal como se faz com os tijolos, porque assim evitava qualquer fresta e a junta de cimento ficava mais sólida. Só consegui assentar os primeiros quatro troncos em cima da massa, precisamente os que ficaram em cima do murete de betão, porque a partir daí esse trabalho era quase impossível de fazer por vários motivos, mas principalmente porque era preciso fazer grandes manobras com os paus, pregar alguns pregos e também dar pancadas nos troncos, o que iria rebentar com as juntas.
8 - Arranjo do chão e colocação de pedras na varanda e no murete de concreto
Esta etapa da construção foi, a par com a dos alicerces e da base da cabana, das mais fáceis de executar. Trata-se de um género de trabalho que estava habituado a fazer, devido à prática adquirida durante o meu percurso profissional na construção civil. Mesmo assim, este trabalho não se resumiu apenas a cimentar o chão e colocar as pedras, pois como a economia era uma regra constante, ainda gastei quase um dia a juntar as pedras numa serra e a transportá-las para a obra, tendo usado pedras de xisto, para ficar a condizer com outras construções da chácara.
9 - Construção e colocação da porta e janela
Já falei da serragem da madeira com a qual fiz a porta da cabana e também duas mesas e dois pequenos bancos. Essa parte da serragem é que foi mais complicada, porque fazer uma porta de estilo rústico como esta, não tem qualquer dificuldade. Para galgar as tábuas utilizei uma serra de disco elétrica e para corrigir um pouco as irregularidades da madeira uma pequena plaina. Preguei três travessas na porta, duas dobradiças fortes e uma fechadura, tendo ficado com a certeza que esta porta é um dos componentes mais fortes da cabana, atendendo a que é de castanho e tem quatro centímetros de espessura. Com a mesma madeira de castanho fiz também um aro para a porta e outro para a janela, de modo a que, quando fechada, exista uma vedação em toda a estrutura que impeça a entrada de pequenos bichos, como roedores ou répteis.
A janela foi aproveitada de uma lixeira. Tinha um vidro partido, mas a madeira ainda está em boas condições e depois de colocar um vidro novo e de uma pintura esta janela ficou como nova. Atendendo a que já tinha a janela antes de começar a construir a cabana tive o cuidado de deixar a abertura de acordo com as medidas da janela e, devido a isso, não tive problemas na sua colocação; foi só colocar-lhe duas dobradiças e dois ferrolhos e pronto…
10 - Tratamento para conservação da madeira
Andei à procura de um produto para tratar a madeira que fosse de preço acessível, mas o mais barato que encontrei custava cerca de 5 euros o litro. Como precisava de pelo menos uns dez ou doze litros de produto, no mínimo, achei que era uma despesa elevada e que o produto, por ser o mais barato, talvez não oferecesse garantias de qualidade. Pensei em utilizar óleo de motores usado, mas isso iria dar um tom muito escuro à madeira e desisti dessa ideia. Alguém me disse para usar gasóleo, que também servia, pois os produtos para tratar a madeira são todos derivados do petróleo, mas não fiquei convencido. Foi então que me lembrei que tinha alguns garrafões com óleo alimentar usado, que é, aliás, o óleo que utilizo para a lubrificação da corrente da motosserra.
Para já, foi esse óleo que utilizei e mesmo sabendo de antemão que não foi a melhor solução, o certo é que esse produto apagou as manchas de cimento deixadas devido à vedação das juntas, melhorando o aspeto da madeira. Como era um produto que já tinha cumprido a sua missão inicial, o seu destino era o reaproveitamento ou reciclagem e creio que, deste modo, o seu destino se cumpriu. Considerando que estava a usar um produto a custo zero, não estive com poupanças e dei duas boas demãos no exterior e uma no interior, dando assim por concluída a construção da minha cabana de troncos.
Olá, parabéns por sua cabana, ficou muito legal. Gostaria de saber se o cimento não rachou depois que as toras secaram. Se tudo der certo vou fazer uma aqui em minha propriedade no Brasil.
ResponderEliminarOlá! Obrigado pelos seus comentários no blogue.
EliminarO cimento estalou um pouco, mas eu julgava que estalasse mais ainda, uma vez que foi aplicado com as toras ainda verdes. Em alguns sítios vou ter que dar uns retoques, porém é coisa para pouco trabalho.
Gosto muito da minha cabana, foi um projeto que me deu imenso prazer em concretizar e, certamente o amigo Alexandre vai também construir a sua com muito sucesso e sentir orgulho nela.
Olá!
ResponderEliminarApreciei muito o artigo e ainda mais o resultado final da cabana! Parabéns!
Gostava também, se não fosse incómodo, de saber por quanto fica, aproximadamente, o preço total da cabana.
Abraço
Olá!
EliminarÉ muito difícil fazer uma estimativa de custos para este tipo de trabalho. Tudo depende de como ele é feito e também da forma de aquisição dos materiais. No meu caso, como o trabalho foi todo feito por mão própria, desde o corte da madeira na floresta até aos acabamentos finais, não ficou caro, mas, caso tivesse de comprar tudo e contratar pessoal, possivelmente gastaria alguns milhares de euros.
Portanto, sem contar com o trabalho e com a madeira, que era de uma propriedade minha, gastei entre 150 a 200 euros.
Um abraço.
Parabéns pelo projeto, ficou maravilhoso. Com relação a conservação das toras, você só passou o óleo mesmo? Acha que verniz marítimo pode ajudar na conservação? Estou fazendo uma cabana com toras na vertical, soterradas com cimento no chão para a base. Abraços e parabéns mais uma vez.
ResponderEliminarObrigado. Por enquanto apenas apliquei o óleo para proteção da madeira. O verniz marítimo que, em princípio, deve ser para proteger a madeira em ambientes marítimos, ajudaria certamente, mas será de custo elevado.
EliminarQuanto à cabana que está a fazer, a parte das toras que ficam soterradas podem apodrecer rapidamente, a não ser que levem um tratamento adequado. Proceda corretamente para não correr esse risco.
Abraço.