Adquiri
a minha motoenxada em segunda mão, depois de muitos anos a sonhar com um
equipamentos desses. Um trator agrícola maior esteve sempre fora de hipótese
por motivos de custo e também porque a agricultura que pratico talvez não o
justificasse, mas uma pequena motoenxada ou um motocultivador tornaram-se
indispensáveis para que o gosto pelo trabalho na terra não esmorecesse. Faço
notar que a principal diferença entre as duas máquinas, a motoenxada e o
motocultivador, é devida ao facto de, na primeira, as fresas serem colocadas no
lugar das rodas e na segunda o sistema de fresas ser ligado diretamente ao um
veio do motor. Estes dois sistemas têm vantagens e desvantagens. Na motoenxada
as fresas penetram mais profundamente na terra, mas é mais difícil para o operador
manobrar a máquina; no motocultivador sucede o contrário: menos profundidade de
fresagem, mas maior facilidade de operação. Do equipamento que adquiri faz
parte um reboque com rodas de tração, o que torna esta ferramenta flexível e a faz
sair da sua função rural, podendo transportar qualquer tipo de produtos ou materiais,
em pequena quantidade, sendo no meu caso que me dedico também a pequenos
trabalhos de construção civil, duplamente útil.
Para além dos trabalhos agrícolas a máquina equipada com reboque basculante é muito útil no transporte de diversos materiais para efetuar pequenos trabalhos de construção. |
Era
uma máquina que já trazia algum desgaste e até problemas que deveriam ter sido
solucionados pelo vendedor antes da sua entrega, mas que o não foram e como não
foi dada qualquer garantia ao equipamento, arrisquei eu próprio a reparação
mesmo não tendo grandes conhecimentos daquela mecânica específica. Um dos
problemas da máquina era o consumo excessivo de óleo do motor, pois tinha que
estar constantemente a adicionar óleo para manter o mesmo ao nível desejável.
Esse descida do nível do óleo não se devia apenas a um consumo natural do motor
como verifiquei alguns dias depois da compra da máquina, mas também a vedantes
deteriorados que deixavam verter o lubrificante, o que se tornou bastante óbvio
depois de ver o chão onde a máquina ficava estacionada com manchas de óleo.
Máquina equipada com motor Lombardini de 359 cm3 e 3600 rpm, conforme consta da placa da marca. |
A
reparação não foi muito difícil e não ficou cara, de modo que aquele
contratempo não me chateou muito, o que me aborreceu mesmo foi a atitude do
vendedor quando lhe expus o problema e ele não mostrou qualquer vontade em o
resolver e para mais fiquei com a sensação de que ele sabia perfeitamente que
ele existia quando me vendeu o equipamento. De notar no entanto que o motor
continuou a consumir algum óleo, mas dei isso como sendo um facto normal, até
porque o motor sempre funcionou muito bem, não aparentando ter qualquer
problema de maior.
Nestas
máquinas para se abastecer o óleo para o motor tem que se extrair a chapa que
se serve de cobertura ou seja o capô (penso que lhe posso chamar assim). Para
isso é necessário remover quatro parafusos o que, atendendo às vastas vezes em
que era necessário meter óleo se tornava bastante fastidioso, para além da
óbvia perda de tempo.
Para
resolver esse contratempo havia uma solução que saltava à vista: Não colocar a
cobertura no motor, como de resto se vêm muitas máquinas a funcionar por aí,
descapotáveis…
Mas
para a minha maneira de ser que gosto das coisas bem ordenadas, essa solução
não me agradava. Uma outra poderia, talvez, ser a de fazer outro buraco na
cobertura por cima da tampa do óleo, tal como tem para o abastecimento de
gasóleo, mas depois de analisar o assunto, não me pareceu uma solução muito
viável.
Cheguei
à conclusão de que não valia a pena fazer mudanças de óleo, dado que o mesmo
estava sempre renovado, visto o nível ter de ser reposto amiúdes vezes. Então
estar a desapertar e tornar a apertar os quatro parafusos de fixação da tampa,
para meter um ou dois decilitros de óleo de cada vez era um incómodo real. Foi
então que tive a ideia de arranjar um pedaço de tubo fino que entrasse no
orifício da vareta e ligá-lo ao um pequeno funil. Assim é só despejar um pouco
de óleo no funil, óleo que vai lentamente introduzir-se no interior do motor,
estando de uma forma fácil e bastante lógica o problema resolvido. Ainda em
relação a óleos é necessário ter em atenção que estas máquinas têm mais duas
caixas onde trabalham maquinismos em banho de óleo e por isso é necessário de
vez em quando (não sei qual o tempo exato) mudar esse óleo. No meu caso faço
essa troca de óleo cerca de uma vez de dois em dois anos. Uma dessas caixas
está no centro do eixo do atrelado e a outra por debaixo do assento do
condutor. Para além disso há ainda o filtro de ar que também funciona
mergulhado em óleo, o qual eu também costumo mudar na mesma periodicidade. A
máquina tem ainda vários pontos para injecção de massa lubrificante que, como é
óbvio, estão lá para ser usados e muito importante também é fazer a limpeza do
filtro do óleo do motor que se encontra situada na parte direita do bloco do
motor.
Semi eixo do reboque. Funciona em banho de óleo. Visível também o sistema de travões. |
Claro
que tudo isto são pormenores que qualquer proprietário de uma máquina deste
género conhece e quem gosta de estimar as suas coisas não pode descurar de modo
nenhum a situação em que se encontra o óleo do motor, seja de que tipo de
máquina ou veículo for.
Há
outras coisas que se fazem nestes equipamentos que se podem considerar menos
normais, como por exemplo trocar as jantes originais por outras de automóvel,
aumentando a largura do rodado e consequente estabilidade da parte frontal da
máquina ou trocar o tanque de combustível de metal por outro em plástico… Eu já
fiz essas alterações e considero que foram bem sucedidas, mas também já descrevi
essas acções em…"Alterações na motoenxada" pelo que não me vou repetir, no entanto há coisas que não se
devem fazer e que eu já fiz e não contei ainda como por exemplo: desmontar a
bomba de gasóleo sem perceber nada do assunto. Essa aventura não acabou muito
bem, mas ainda poderia ter sido pior. Passo a explicar:
Parte da frente do equipamento. É visível o tanque de combustível adaptado, com o tubo de alimentação onde foi aplicado um filtro. Nos depósitos originais esse filtro é no interior do mesmo. |
Tinha
a impressão que a bomba de gasóleo andava a verter um pouco. Talvez não fosse
só impressão, mas não era uma fuga grande, era apenas a bomba um pouco húmida
ou molhada, uma coisa insignificante pois o combustível nem sequer pingava para
o chão. Como gosto de ver tudo a funcionar em pleno e como ainda me encontrava
entusiasmado com o sucesso da substituição dos vedante do óleo do motor, achei
que também poderia resolver aquele problema. E o certo é que desmontei e tornei
a montar a bomba tendo sobrado apenas uma pequena anilha que não afetou o
mecanismo, mas também nada mais fiz porque não vi que lá pudesse fazer algo no
componente. Depois de algum apertar e desapertar de parafusos dei por concluído
o trabalho que pensava eu, tinha valido apenas pelo facto de ver como é que
aquilo era. Nunca poderia imaginar o que sucedeu quando enrolei a corda no
volante da turbina para fazer rodar o motor e o colocar em funcionamento.
O
motor arrancou à primeira puxadela da corda. De resto é fácil fazê-lo funcionar
quando está quente ou pelo menos quando estão temperaturas ambientes de verão,
como era o caso. Quando está frio, principalmente no inverno, a situação é
inversa e é bastante complicado pô-lo em andamento. Estranhei imediatamente a
enorme aceleração do motor e lancei mão do manípulo de controlo para diminuir a
aceleração. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que o motor não
obedecia ao acelerador e este parecia até que cada vez aumentava mais as suas
rotações. Já saíam grandes faíscas de lume pelo escape e em breve este ir-se-ia
incendiar ou destruir-se perante o enorme volume de rotações. Havia que tomar
uma decisão rapidamente e resolvi então pegar numa faca e cortar o tubo de
alimentação de gasóleo, a solução mais rápida e eficaz para parar o motor
imediatamente.
Apercebi-me
que fizera asneira grossa e o pior era que senti que não tinha capacidade para
a desfazer, pelo que decidi recorrer aos serviços de um mecânico de tratores
meu conhecido. O motor teve que ser aberto uma vez que o problema tinha sido
causado pela quebra de uma pequena cavilha que faz a ligação da espia do
acelerador à bomba, o que provocava que não existisse controlo sobre a saída de
gasóleo da bomba. Não era só o equivalente à aceleração máxima permitida pelo
mecanismo do acelerador, mas sim o máximo possível e daí o furioso trabalhar do
motor que durante alguns segundos parecia que iria explodir.
Quando
contei ao mecânico a minha estúpida ousadia em desmontar a bomba de gasóleo sem
perceber patavina do assunto ele riu-se e disse: - Nem eu que tenho mais de 40
anos de mecânica gosto muito de mexer neste tipo de componentes, devido à sua
complexidade, e vais tu que nunca viste um motor na vida pôr-te a mexer nisto…
e resmungou mais qualquer coisa que não percebi…
Depois
de algumas horas de trabalho o problema ficou resolvido, mas esta serviu-me de
lição e fiquei a pensar para comigo: - Que burro fui… mas quem me mandou a mim
que sou sapateiro, tocar rabecão…
Claro
que esta lição não serviu para muito tempo porque depressa voltei a entrar em
aventuras idênticas a esta, porque sempre senti alguma curiosidade em ver e tentar
compreender como é que as coisas funcionam, mas a verdade é que algumas dessas
coisas não são compatíveis com a tentativa de descoberta de simples curiosos.
Máquina com as fresas engatadas em substituição das rodas. |
É
sempre um risco adquirir uma máquina usada e esta como já disse trazia alguns
problemas, mas também é necessário ter em atenção que se trata de um
equipamento que, na altura, já tinha cerca de 20 anos de serviço. Esses
problemas e outros que foram surgindo tenho-os resolvido sem ser necessário
recorrer a mecânicos à excepção do caso da bomba de gasóleo, no entanto há um
que ainda não consegui sanar, nem recorri a assistência para isso, porque sei
que iria ser uma reparação muito cara. Trata-se de uma elevada folga na
direção, a máquina está equipada com volante, penso que será necessária uma
nova caixa e também já consultei alguns entendidos na matéria que me têm dito
para deixar estar que há veículos pesados que andam a circular na estrada ainda
com folga maior. O certo é que esse problema torna a condução mais difícil,
sobretudo em alcatrão, a maior velocidade, se bem que a velocidade máxima desta
motoenxada ronde os 20 km
horários, apenas. No entanto é mais fácil conduzir um automóvel a 80 Km hora do que a máquina a
20…
É
por isso que é preciso cuidados redobrados a conduzir um veículo deste tipo na
estrada, embora não pareça dado o seu andamento lento.
Rodado dianteiro onde estão as cavilhas para controlar a tração dianteira. Cavilha para cima: desligada. Para os lados: Frente ou Trás. |
Esta
motoenxada está equipada com caixa de três velocidades mais marcha-atrás, sendo
que a 1ª velocidade é extremamente lenta, sendo por isso usada apenas para
operar a máquina quando carregada em subidas mais íngremes, ou em caminhos
muito difíceis. A máquina é impulsionada pelas engrenagens que transmitem a
tração às rodas do reboque, mas tem a grande vantagem da possibilidade de ligar
em simultâneo a tracção às rodas da frente, o que evita que as rodas patinem em
determinadas circunstâncias, mas essa tração só deve ser usada em casos de
necessidade, pois quando a máquina é tracionada pelas quatro rodas torna-se
difícil rodar o volante.
Vou
concluir, por agora, pois sobre este tipo de equipamentos surge sempre algo
mais para dizer e por isso voltarei mais tarde ao tema, mas não vou terminar
sem dizer que depois de uma pesquisa sobre os motores Lombardini, marca
italiana que equipa a minha motoenxada, vim a descobrir uma história
interessante sobre a empresa que a produz e que vou publicar no próximo post.
Uma grande parte das motoenxadas e motocultivadores que existem são equipados
com motores Lombardini, mas acredito que muitos, talvez mesmo a maioria dos
proprietários deste tipo de máquinas não conhecem a história da empresa que os
produziu, pelo que poderá ser interessante conhecê-la, não só para os actuais
mas também para futuros proprietários de máquinas agrícolas equipadas com
motores Lombardini.
Artigo anterior:
A motosserra
Próximo artigo:
História dos motores Lombardini
Artigo relacionadoArtigo anterior:
A motosserra
Próximo artigo:
História dos motores Lombardini
De todos os equipamentos domésticos que utilizo há um que é o meu preferido porque, além de produzir um trabalho muito útil, faz com que quebre uma certa rotina entediante, pois o seu uso é sempre ao ar livre e em contacto com a natureza. Trata-se de uma motoenxada com reboque que utilizo para fresagens de terrenos agrícolas, para fazer sementeiras e para transporte de lenhas e dos mais diversos produtos... Continue a ler
muito bem!!! parabéns pelo seu interesse pela mecânica, sou também um entusiasta em desmontar equipamentos e aprender com isso
ResponderEliminarObrigado, Sempre tive um certo fascínio pelo funcionamento das máquinas, especialmente aquelas com que lido no dia-a-dia.
Eliminaro meu motocultivador perde óleo pela zona das rodas, desmontei-o e descobri que era as juntas do motor que tem pequenos rasgos, queria saber se alguém sabe como repará-lo sem gastar muito dinheiro?
ResponderEliminarEm princípio e a substituição das juntas não será uma reparação muito cara, mas tudo depende de quem fizer o trabalho. Eu já fiz isso na minha moto-enxada e não ficou caro uma vez que não paguei mão-de-obra. Se não puder ou não quiser arriscar a fazer o serviço pelas próprias mãos o melhor será pedir orçamento em duas ou três oficinas, para não ter surpresas.
EliminarBom dia. Tenho um reboque de motocultivador sem volante. Onde consigo encontrar uma direção completa (volante, coluna, caixa e braço) para lhe aplicar?
ResponderEliminarBoa noite comprei um motocultivador antigo marca lombardini com caixa fort não consigo Metelo a andar com tração as quatro rodas, pois as rodas da máquina não ficam sincronizadas com as rodas do reboque. Alguém me pode ajudar
ResponderEliminarEu tenho mesmo problema com uma moto enxada também muito antiga e com motor Lombardini. O reboque também tem uma caixa de velocidades o que permite fazer várias combinações de velocidades com esta caixa e a caixa de velocidades do motor, mas como as rodas da máquina normalmente rodam livremente não existe o problema da sincronização, mas este sistema impede a colocação das quatro rodas a puxar em simultâneo e até pode ser perigoso ligar a tração às quatro rodas.
EliminarEsta máquina de que falo neste post não tinha esse problema porque só tinha a caixa de velocidades da máquina e trabalhei muitas vezes com ela a puxar às quatro rodas, o que já não posso fazer com esta, só dá para ligar a tração da máquina quando está desengatada do atrelado.
O meu motocultivador também só tem caixa de velocidades na máquina o reboque não tem caixa de velocidades e não consigo andar com as 4 a puxar ele tem 2 Cardans o da fresa e outro por cima o de cima gira sempre ao ritmo das rodas andarem deve faltarme é uma peça para poder engatar o Cardan no veio de cima e subir o engate do reboque na NET já pesquisei e não encontro nada nem nenhum motocultivador dessa maneira
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