ACIDENTE AÉREO NA SERRA DE ALVAIÁZERE

A Serra de Alvaiázere. Entre as duas turbinas eólicas encontra-se algo que, visto à distância,
se parece com  a vela latina de uma embarcação.

Hoje, ao passar em Alvaiázere e ao admirar a sua imponente serra calcária, algo me chamou a atenção. Um pouco abaixo da linha de cumeada encontra-se algo que, visto ao longe, se poderia confundir com a vela latina de uma embarcação, caso se encontrasse noutro local e não ali, em plena serra, onde isso seria impossível. Só a minha mente fantasiosa poderia imaginar tal coisa. O que seria então? Talvez a pá de um aerogerador que se tivesse soltado e ali ficasse no meio do mato…

- Bom… o melhor é ir até lá para ver do que se trata - decidi.

A subida para o alto da Serra de Alvaiázere é muito fácil de fazer. A estrada, apesar do seu declive bastante acentuado, mas não em demasia, tem um piso de asfalto em muito bom estado, que se mantém até atingir aquele que é o ponto mais alto do Maciço Calcário de Sicó (618 m de altitude). Eu, apesar de não ir preparado para circular na montanha, pude fazer muito bem aquele percurso com a minha bicicleta de corrida.

Quando cheguei ao local onde a estrada deixa a povoação de Pé da Serra e começa definitivamente a subida para o cume, deparei com uma placa a dar as boas vindas aos pilotos e a desejar ”bons voos”. Por aquela mensagem adivinhei que devia existir alguma relação da serra com atividades aéreas, mas ainda não imaginava que, mais acima, quando chegasse junto da “vela latina” iria verificar que a serra estava também ligada ao ar por motivos bastante trágicos.

Aproximadamente a meio do percurso encontra-se um miradouro com vistas para a vila de Alvaiázere e para o seu imenso vale, ponteado por oliveiras, que me fez lembrar o vale do Rabaçal, pelas suas semelhanças. Este miradouro é de construção idêntica a outros que tenho visto na zona das serras de Sicó e tem também um relógio de sol, habitual nestes miradouros.

Algumas centenas de metros acima do miradouro encontra-se um caminho de terra, para a esquerda, com aparência de ser pouco utilizado, mas que devia levar a junto do misterioso e pontiagudo triângulo branco, pois que um pouco mais abaixo o tinha de novo avistado. Enveredei por esse caminho, certo de que o enigma iria ser rapidamente desvendado.

Monumento de homenagem a dois aviadores falecidos num acidente aéreo.

Finalmente cheguei junto do monumento. Sim, porque se trata de um monumento, erigido ali em memória de dois aviadores que pereceram num acidente aéreo. É uma construção em betão, triangular, certamente a significar a asa dum avião, pintada de branco e o acidente ter-se-á dado naquele local, em 16/08/1960, conforme inscrição numa placa de mármore onde estão também assinalados os nomes dos dois aviadores. Também pode acontecer que aquela data se refira à construção daquele pequeno, monumento, e não ao acidente, pois não se encontra ali mais nenhuma descrição e a placa de acrílico, afixada abaixo da placa de mármore é uma homenagem dos colegas e família de um dos pilotos, feita em 2009.

Encetei o caminho de regresso à estrada principal, pensativo e a recordar-me de outro acidente aéreo ocorrido não muito longe dali, em 1955, quando oito aviões se despenharam na Serra do Carvalho, próximo de Vila Nova de Poiares, tendo morrido os seus pilotos.

Segundo pesquisas que fiz posteriormente o acidente terá acontecido num treino de voo nocturno num avião T33 que embateu contra a Serra de Alvaiázere, cerca das 23 horas do dia 16 de Agosto de 1960. O António Amaral Afonso era natural de Castelo Branco, tinha 23 anos e era 1º Cabo Aluno Piloto. O Alferes Miliciano António José Nabais Conde era o seu instrutor de voo.
Dados recolhidos em: Isaias Cordeiro - Castelo Branco Mogadouro

Continuei, rumo ao cimo da serra, tendo passado junto a uma plataforma de descolagem de parapentes no sítio denominado de curva do cotovelo.

O ponto mais elevado da Serra de Alvaiázere e do Maciço de Sicó a 618 m. de altitude.

Finalmente cheguei ao cume, podendo apreciar as belas paisagens que dali se avistam, não só de todo o vale de Alvaiázere, mas também para norte, com o parque eólico da Videira, ali bem próximo, mas já no concelho de Ansião e que tem apenas três aerogeradores; o Monte de Vez e Gerumelo e ainda, para nordeste, outras elevações de relevo como a serra da Lousã. Para oeste o limite é o Oceano Atlântico.

Neste local existe uma torre de vigia, um marco geodésico e uma placa assinalando ali mais um ponto de descolagem e com diversas informações para os pilotos que façam dali a partida para a prática de voo livre. Na vertente oeste, alguns metros abaixo da linha de cumeada, foram instalados vários aerogeradores.

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3 comentários:

  1. Olá caro amigo! Antes de mais os meus parabéns pelo seu blogue que só agora descobri
    Permita-me que me identifique: Meu nome Isaías Cordeiro e sou natural de Castelo Branco-Mogadouro e Aluno Piloto António Amaral Ferreira Afonso era meu padrinho de baptismo. Conheço toda a sua historia e já publiquei no meu Blog- isaiascordeirocbm.blogdpot.com.
    Também eu fui da Força Aérea Portuguesa não piloto mas sim mecânico de aviões.
    Sabia que tinha sido na serra da Alvaiázere bem como existência de de algumas referencias.
    Muito obrigado por esta publicação.
    Pedia-lhe um favor! Posso utilizar parte do seu texto para adicionar à minha publicação? Ficar-le-ei muito grato.

    Grato pela atenção.
    Abraço.

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    1. Olá! Em primeiro lugar quero agradecer-lhe por este comentário que agrega valor a este post. Quando descobri este monumento na serra de Alvaiázere fiquei um pouco surpreendido porque, apesar de morar a apenas cerca de 40 km do local, nunca tinha ouvido falar deste trágico acidente. Não muito longe de Alvaiázere, mais precisamente na serra do Carvalho, perto de Vila Nova de Poiares, tinha cinco anos antes, em Julho de 1955, ocorrido um acidente muito grave, creio que o acidente mais grave da história da Força Aérea. Esta região parece fazer parte da história da Força Aérea, infelizmente pelos piores motivos.
      Claro que pode utilizar o texto e também as fotos se entender, esteja à vontade.
      Um abraço!

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  2. Óptimo artigo, sobre um assunto que penso ser desconhecido pelo menos para a maioria dos veteranos da FAP que por aqui andamos, nos mais diversos grupos. Tomo a liberdade de o publicar num desses grupos que administro, MALTA DE COIMBRA DA FORÇA AÉREA, para divulgação e conhecimento dos companheiros e amigos, um dos quais, Carlos Alves, foi quem partilhou o post.

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