Não
pretendo estar a escrever a historia da escrita, pois para isso teria de recuar
alguns milhares de anos no tempo e isso sairia do âmbito deste blogue, que se
destina apenas a relatar, na primeira pessoa, algumas experiências e
aprendizagens adquiridas num espaço temporal de apenas algumas dezenas de anos.
Por isso este artigo refere-se apenas à evolução dos meios e métodos de escrita
nos últimos 50 anos.
A escrita manual
Tinteiro, canetas e lápis de pedra. |
Ainda
sou do tempo em que se utilizava uma caneta de pau, cujo bico se ia
molhando no tinteiro para escrever. Não é que não existissem já outros tipos de
canetas, mas esse método ainda estava em uso nas escolas primárias em 1960 e as
carteiras estavam preparadas para esse tipo de escrita, pois tinham furos onde
encaixavam os respetivos tinteiros. Era necessária alguma prática para que o
bico não transportasse muita tinta de cada vez que ia ao tinteiro, pois isso
podia originar a queda de tinta em locais menos próprios, mas para isso existia
o mata-borrão, um pedaço de cartão que absorvia a tinta e que era um utensílio
indispensável na pasta do aluno.
A
caneta de pau era utilizada para aprender a escrever, pois naquele tempo
desenhavam-se as letras segundo um modelo clássico de caligrafia e escrever com uma letra
bonita era uma grande vantagem até para se conseguir um emprego, em algumas
áreas.
Para
além da caneta de pau e do lápis, utilizava-se também o lápis de pedra com o
qual se escrevia na ardósia, outra peça indispensável na aprendizagem dos anos
60. Só mais tarde as esferográficas começaram a entrar em cena e penso que até
era proibido o seu uso pelos alunos das escolas primárias. Com a disseminação
do uso da esferográfica, as canetas de pau e também as de tinta permanente com
depósito recarregável, praticamente desapareceram, passando a ser utilizadas
apenas para determinados trabalhos em que era obrigatório o seu uso.
Nos
anos 60 e 70, o cidadão comum escrevia quase tudo de forma manual. Era um tempo
em que a comunicação à distância entre pessoas ainda se fazia muito através de
cartas e, excetuando as empresas comerciais ou industriais, toda a gente
utilizava a caneta e o papel para esse efeito.
Nessa
altura, escreviam-se à mão cartas para os mais diversos fins, entre as quais as
célebres cartas de amor escritas pelos namorados apaixonados, que se
aprimoravam nas palavras e na escrita para causar boa impressão ao seu “mais
que tudo”. Quem é que não escreveu cartas ao seu namorado ou namorada? Eu
também escrevi algumas que, na altura, me pareciam obras-primas de literatura
mas que hoje me parecem bem ridículas. Mas todas as cartas de amor são
ridículas, aliás, se não fossem ridículas, não seriam cartas de amor, como
escreveu um dia o heterónimo Álvaro de Campos, pela caneta do grande Fernando Pessoa.
O exemplo de uma carta de amor que me parece bem ridícula, como convém. Tentei fazer uma aproximação à caligrafia da Escola Primária, mas não sei se resultou. |
Ainda
no que respeita à escrita manual creio que, com o passar do tempo, o tipo de
letra de cada um vai-se alterando, sento adotado de forma natural um estilo individual de
letra, o que parece absolutamente lógico, ficando apenas na escrita de cada
pessoa uma aproximação bastante variável à letra caligráfica, aproximação que
em alguns casos pode não ser suficiente para se conseguir fazer a sua leitura
com facilidade. Estou a lembrar-me, por exemplo, dos médicos que escrevem as
suas receitas com um tipo de letra praticamente ilegível, só entendível pelos
farmacêuticos que já estão habituados a essa letra. É por isso que é costume,
quando está algo escrito de forma ilegível, dizer-se que “parece letra de
médico”. O tipo de letra e a forma de escrever identifica cada indivíduo, pois
não há duas escritas iguais e até há quem diga que a escrita revela a
personalidade ou os vários traços do carácter de cada um.
Nos
dias de hoje, em que o tempo corre vertiginosamente, é necessário escrever
também de forma muito rápida e isso pode afetar também o desenho da escrita, de
tal forma que muitas letras acabam por se tornar ilegíveis ou serem confundidas
com outras o que pode até ter consequências graves, como no caso das receitas
médicas, pois não será descabido pensar-se numa troca de medicamentos, por
exemplo.
Mas,
agora, também já não se dá grande valor ao facto de se escrever bem ou mal.
Longe vai o tempo em que para a obtenção de um emprego era necessário uma carta
de apresentação, escrita pelo próprio punho e em que através do tipo de letra e
do modo de escrever se avaliavam muitas das capacidades dos candidatos.
Atualmente, tudo tem de ser processado por computador e pouco importa se um
currículo é feito pelo próprio ou por interposta pessoa.
A
máquina de escrever
A
máquina de escrever mecânica já existe há mais de dois séculos e por isso,
naturalmente, em meados do século XX esses instrumentos já tinham alcançado um
alto patamar de desenvolvimento no sentido de uma melhor qualidade de impressão
e também na rapidez de execução do trabalho de escrita, se bem que, mesmo com a
existência de máquinas de escrever eletricas, o grande salto na evolução dos
instrumentos de escrita, ocorreu com os processadores de texto, esses programas
de computador que vieram revolucionar completamente os modos de escrever, de
tal modo que hoje a escrita manual é, praticamente, só utilizada para
apontamentos ou rascunhos.
De
facto a máquina de escrever, quando comparada com os modernos programas de
processamento de texto de computador, tornou-se um utensílio completamente
obsoleto, dadas as diferenças abismais entre as possibilidade que cada um
oferece.
As
máquinas de escrever serviam mesmo só para escrever. Tinham apenas um único
tipo de letra e penso que o mais utilizado seria uma fonte semelhante ao Times
New Roman dos atuais computadores, sendo que as primeiras máquinas imprimiam
apenas caracteres maiúsculos. As máquinas de escrever que eu conheci nos anos 60
e 70 possibilitavam a impressão em duas cores e as fitas utilizadas tinham
normalmente as cores vermelho e preto. Permitiam também escolher um maior ou
menor espaçamento entre linhas assim como ajustar a margem esquerda do papel,
mas o texto tinha de ficar sempre alinhado à esquerda, a não ser que, de forma
manual e utilizando alguns cálculos, se conseguisse centrar ou justificar
partes de um texto.
O
teclado tinha que ser batido com alguma força e bastante perícia para evitar
que dois ou mais braços se engalfinhassem encravando o sistema e também a troca
de letras, o que a acontecer só podia ser remediado recorrendo a uma borracha
em forma de disco para apagar a letra errada e imprimir outra no seu lugar. O
dactilografista tinha de ser bom a português, como convinha, pois ali não havia
corretor de texto para substituir palavras com erros ortográficos, como
acontece com os modernos processadores de texto. Para quem tinha prática desse
trabalho era possível, por meio de alguns truques, fazer o embelezamento do
texto escrevendo por exemplo letras em relevo a duas cores e outros de que
agora não me recordo.
Um
dado curioso era que em algumas máquinas, talvez por uma questão de economia de
teclas, de braços e de caracteres, a letra l (L minúsculo) servia também para
imprimir o algarismo 1 e o O (maiúsculo) para o 0 (zero).
Como
naquele tempo também ainda não havia fotocopiadoras ou pelo menos ainda não
estavam muito difundidas, para duplicar qualquer documento recorria-se ao papel
químico que se entremeava nas folhas podendo assim obter duas ou três cópias.
Neste caso era necessário empregar mais alguma força no teclado, mas não em
demasia, pois não era caso raro algum caractere batido com mais força furar o
papel.
Os
processadores de texto
Microsoft Word. Um dos processadores de texto mais populares. Com estes programas de computador está um mundo de possibilidades à disposição de quem gosta de escrever. |
Atualmente,
com o aparecimento dos computadores, os processadores de texto vieram
revolucionar os métodos de escrita de tal modo que já quase ninguém utiliza as
máquinas de escrever exceto, talvez, nos escritórios para completar o
preenchimento de alguns documentos e, por isso, não é de admirar o facto de,
recentemente, ter fechado a ultima fábrica que ainda produzia máquinas de
escrever mecânicas. As vantagens dos processadores de texto são tantas e tão
variadas que seria fastidioso estar aqui a enumerá-las todas e, muitas há, que eu
nem sequer conheço. Mas, as mais importantes e que toda a gente conhece são,
quando na elaboração de um texto qualquer existe a possibilidade de se escolher
o tipo de letra preferida de cada um, assim como o seu tamanho; escrever em
negrito, itálico, alinhar, centrar ou justificar o texto, escolher a cor,
inserir imagens, gráficos, etc. Existe depois a possibilidade armazenar os
documentos que elaborar-mos no disco do computador ou em discos externos e ou
enviar os dados para uma impressora que os transmitirá para o papel, exatamente
como o visualizamos no monitor do computador.
Agora,
para escrever através dos computadores ainda é necessário usar um teclado, tal
como se fazia nas antigas máquinas de escrever, mas não tardará muito tempo até
que os processadores passem a ser comandados por voz, bastando dizer em voz
alta aquilo que queremos que apareça escrito…
Com
tanta e tão rápida evolução, como será daqui a mais meio século?...
Artigos relacionados:
A utilização profissional de equipamentos e sistemas técnicos
A evolução dos meios de reprodução de documentos
A evolução dos meios de reprodução de documentos
Boa tarde Amigo José Alexandre
ResponderEliminarBem...esta carta faz chorar as pedras da calçada...eh eh eh .
Era assim que nos nossos tempos aureos de marujo escrevíamos ás nossas amadas deixadas em terra a chorar pelo nosso regresso.
Não, não é exagero, juventude actual...era assim mesmo naquele tempo. Hoje já não há disto, nem sei se voltará a haver algum dia.
Quanto á escrita, tínhamos nesse tempo aulas de caligrafia e que hoje bastante falta fazem, numa época em que todos tem letra de médico, e raras vezes entendem aquilo que escrevem.
A propósito deste tema e de um outro postado pelo meu amigo há umas semansa sobre a escolinha do passado.
Estive há dias em Alvaiazere de visita a uns amigos e fui levado a visitar um museu etnográfico onde existe uma sala que é uma reprodução fiel das escolinhas do nosso tempo.
Está lá tudo, desde a menina dos 5 olhos até á orelhas de burro, não faltando o crucifixo na parede ladeado pelos líderes desse tempo.
achei uma maravilha e aconselho vivamente a uma visita...vale a pena.
Parabéns pelos temas que sempre leio
Um abraço
Camilo
A propósito deste comentário do meu amigo Camilo, quero dizer que já visitei o Museu de Alvaiázere e, na sala onde se encontra a representação da Escola Primária de antigamente, fiz uma viagem ao passado, que pode ser vista em: http://meioseculodeaprendizagens.blogspot.pt/2012/04/o-regresso-escola-primaria.html
ResponderEliminar