Quadro representando a zona de Santa Clara e o rio, onde outrora existia intensa navegação. |
O
Mondego foi, desde tempos imemoriais, uma importante via de comunicação. Já
Estrabão falava do movimento dos seus barcos e Edrisi referia que um viajante
que quisesse seguir de Coimbra para Santiago de Compostela deveria deslocar-se
até Montemor-o-Velho e aí tomar o navio que o levasse ao seu destino. Com
efeito, na Idade Média, Coimbra, Montemor e Soure eram portos interiores onde
com facilidade chegavam os barcos mercantis de alto mar, de árabes e normandos.
No tempo do nosso primeiro rei ainda atracavam a Coimbra navios de pequeno
calado.
O
assoreamento progressivo do rio foi reduzindo as possibilidades de navegação,
passando a exigir barcos de pequeno porte: as barcas serranas para cargas e as
bateiras ou barcos do lavardor, mais móveis e utilitários.
Outrora
o trânsito do Mondego era intenso. Todo o sal e grande parte do peixe consumido
no interior das beiras eram transportados dedes as salinas de Lavos e da barra
de Buarcos até ao porto da Raiva ou à Foz do Dão, donde os almocreves o
levavam. Na descida do rio as barcas serranas traziam vinho, batatas, frutos,
madeiras, carqueja e os mais diversos produtos que se destinavam a Coimbra ou à
exportação pelo porto da Figueira da Foz.
A
cidade de Coimbra sempre foi um fluir de rotas comerciais, pela sua posição
central onde se cruzavam, e ainda cruzam, um grande feixe de vias de
comunicação, sendo o rio Mondego a grande via de todo o movimento de transporte
da área – já que atravessa o concelho numa grande extensão, o que fez com tivesse
sido um poderoso fator de aproximação entre ele e as populações da área. Era através
do Mondego, dos seus afluentes e dos seus portos fluviais que, já desde a ocupação romana da Península, se lançavam
os produtos produzidos no concelho e os que lhe chegavam do outras regiões.
Uma
percentagem muito grande da população a Norte do Mondego (o Mondego foi a única
via de comunicação importante que Penacova teve até ao século XIX) dedicou-se
sempre à barcagem e atividades complementares ligadas ao rio: barqueiros,
carafetes, carroceiros, etc.
Muitos
eram os portos importantes no carregamento e descarregamento de mercadorias ao
longo do Mondego, a montante de Coimbra, ainda no século XX: Coimbra, Foz do
Caneiro, Rebordosa, Ronqueira, Carvoeira, Ponte de Penacova, Vila Nova, Raiva,
Carvalhal, Oliveira do Mondego, Almaça e Gondelim.
A localidade de Porto da Raiva, onde outrora existiu um dos mais importantes portos do Mondego. |
Um barco típico do Mondego exposto no jardim de Porto da Raiva. |
Uma barca serrana exposta no parque de lazer da Rebordosa. |
De
todos os portos a Norte do Mondego, há a salientar a grande importância
comercial do Porto da Raiva, que chegou a ser um dos maiores e mais
importantes do país até meados do século XIX e, até ao findar da navegação do
Mondego, o mais importante deste rio. Era principalmente na Raiva que
fabricantes de tecidos, negociantes, recoveiros e estudantes, vindos das Beiras
a cavalo ou em carros de bois, tomavam o seu transporte, as barcas, em direção
a Coimbra.
Aveiro,
Coimbra, Lavos, Ílhavo, Porto e província do Minho eram os pontos mais importantes
para onde se exportavam as mercadorias saídas da Raiva, (onde existia um cais
destinado ao empilhamento de lenha e madeira a exportar bem como armazéns para
a recolha do sal vindo de jusante que depois era distribuído pelas Beiras e
chegando até a Espanha.
Ainda
no séc. XIX outros dois portos. a montante de Coimbra, eram de vital
importância, que convém também salientar:
Foz do Alva (foto de verão). Neste local existiu um porto fluvial. No início do século XX ainda o rio Alva era navegável numa pequena extensão. |
Foz
do Alva (confluência do Mondego com o Alva) era o
porto mais importante depois da Raiva.
Foz
do Dão (confluência do Dão com o
Mondego) era um porto importante
principalmente no inverno, quando as águas enchiam o rio.
Outros
porto se seguem de somenos importância:
Foz
do Caneiro, onde as barcas vinham
carregar lenha e mato até ao cais da portagem de Coimbra.
Gondelim, o antigo porto dos Abraços, que é recordado ingratamente
por, de uma grande pedra lá existente, os habitantes das povoações próximas se
despedirem dos familiares que emigravam para além-mar.
Bibliografia:
Borges, Nelson Correia, Coimbra e Região, Pág. 26, Editorial Presença, Lisboa 1987.
Baixo Mondego, Região e Património, Actas do 1º Congresso do Baixo Mondego, Pág. 38/40, 1990.
Dos
portos a jusante de Coimbra, o de Montemor-o-Velho, do qual o geógrafo árabe,
Edrisi afirmou que partiam peregrinações por mar para Santiago
de Compostela, não deixa dúvidas sobre a sua importância num contexto fluvial-marítimo
e que deixa antever algum tráfego comercial de grande ou médio porte até aos
primeiros séculos do segundo milénio.
Encontrei
referências também ao porto de Soure, como tendo sido de grande
importância até à época medieval, pois a partir dali se escoavam os produtos da
região (trigo, centeio, cevada, azeite, vinho, linho, cânhamo, mel, cera), além
da abundância de caça e pesca.
Como
Soure fica localizado a uma distância considerável do rio Mondego, isso
significa que o porto de Soure seria no rio Arunca, um afluente do Mondego que
passa em Soure, ou então seria considerado o local da foz deste rio como o
porto de Soure. O rio Arunca é um rio que nasce perto da povoação de Albergaria
dos Doze e corre no sentido sul-norte, passando por Albergaria dos Doze, Soure
e Vila Nova de Anços. Desagua na margem esquerda do Rio Mondego, em plena
região do Baixo Mondego, a três quilómetros a jusante da vila de
Montemor-o-Velho, após percorrer 60 quilómetros e foi, até à época medieval, navegável
por barcos de pequeno calado entre Soure e a foz).
Esta placa informativa aponta para uma zona do rio onde, provavelmente, terá existido um porto fluvial. |
Outros
portos haveriam, certamente, a jusante de Coimbra. Em Taveiro há uma zona junto
ao rio Mondego que está sinalizada como “Porto de Taveiro”, nome que,
certamente, terá a ver com a existência ali, outrora, de um porto fluvial, no entanto não
consegui obter essa confirmação, pois algumas pessoas a quem pedi informações sobre
o local limitaram-se a dizer que não sabiam e que sempre tinham conhecido o
local com esse nome.
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