Os instrumentos de elevação
de água que vou mostrar neste post, apesar de serem na sua maioria de origem
muito antiga, são quase todos do meu conhecimento pessoal, tendo operado ou
pelos menos visto em funcionamento a maior parte deles. São instrumentos que
funcionavam através da força humana ou animal, à exceção da bomba eólica, da
roda de água e da bomba solar, sendo esta última a de origem mais recente. De
resto, estes instrumentos que começam no cabaço e terminam na bomba solar,
passando por sistemas que apesar de manuais demonstram na sua composição um respeitável
trabalho de engenharia mecânica, refletem a evolução havida nestes sistemas,
evolução que é comum, afinal, a todos os instrumentos de trabalho e a tudo o
que nos rodeia.
CABAÇO
Outras designações: Aguadoiro, aguador, regador, gravano.
Origem e antiguidade
O cabaço terá sido utilizado
desde os primórdios da agricultura de regadio (há cerca de 5000 anos. Apresenta
uma área de distribuição muito vasta, da Europa ao Extremo Oriente. Em Portugal
encontra-se um pouco por todo o país, mas com menor incidência no sul.
Funcionamento
O cabaço é mergulhado no
poço e logo que esteja cheio a água é despejada na caleira ou sulco que a
conduz ao local a regar, podendo também ser lançada diretamente sobre a
cultura.
Observações
Originalmente feito de
cabaça, como o próprio nome indica, pode também ser feito de lata, madeira ou
cortiça. A maior parte dos que conheci eram feitos em chapa zincada, creio que
nos tempos mais recentes seriam, na sua maioria, assim construídos, visto
tratar-se de um material leve e duradouro. Mas a verdade é que, atualmente,
ainda utilizo um destes instrumentos, feito com toda a simplicidade, de um
velho balde de plástico.
CEGONHO
Outras designações: Cegonha de rabo, baldeador, zorra.
Origem e antiguidade
Tudo indica que a sua existência
se confina a Portugal, podendo tratar-se de uma criação regional. Encontra-se
distribuído pela zona litoral sul, com maior incidência no Baixo-Alentejo e
Algarve. Desconhece-se quando terá surgido, mas terá sido, certamente, em
tempos remotos.
Funcionamento
Aplicação do princípio da
alavanca interfixa, sendo a potência exercida alternadamente nos dois braços,
conforme se eleva a água ou se vai em sua busca.
Observações
Em cegonhos de grandes
dimensões podem existir dois rabos, o que possibilita serem acionados por duas
pessoas em simultâneo.
PICOTA
Outras designações: Cegonha, gaivota, baldão, burra, morcego, picanço,
cambo, balanço, engenho, zangarela.
Origem e antiguidade
Desconhecidas. Este instrumento
já era utilizado no antigo Egipto e foi difundido desde a Península Ibérica ao
Japão, estando as maiores concentrações na Europa Ocidental e no Extremo
Oriente.
Em Portugal encontra-se
distribuído por todo o país, com menor incidência no Alentejo e Litoral norte,
a partir do rio Douro.
Observações
É talvez o mais antigo
sistema elevatório ainda em funcionamento.
ROLDANA
Outras designações: Corretã.
Origem e antiguidade
Desconhecidas. Difundida
desde tempos remotos por toda a Europa, África do Norte, Médio Oriente e China.
Em Portugal é muito comum no Litoral Norte, desde o rio Vouga ao rio Minho.
Funcionamento
É um dos sistemas mais
simples. Na roldana corre a corda onde está suspenso o balde, evitando o atrito
na borda do poço, facilitando assim o esforço do operador, que puxa de cima
para baixo. É o sistema da alavanca interfixa de braços iguais (equivalendo
estes ao diâmetro da roldana), constituindo o balde de água a resistência, e o
operador a potência.
Observações
Um sistema de roldanas
múltiplas foi desenvolvido por Arquimedes, que o utilizou para deslocar massas
consideráveis.
SARILHO
Outras designações: Rolete.
Origem e antiguidade
Difundido na Europa
Ocidental e Central, a partir da Idade Média, o nome “Sarilho” deriva do
“ensarilhar” (enrolar) da corda no cilindro de madeira. Em Portugal é um
instrumento muito comum no Litoral norte desde o rio Vouga ao rio Minho.
Funcionamento
Aparelho que assenta num
princípio semelhante ao da roldana; consiste num cilindro horizontal, com
espigões de ferro nas extremidades, um dos quais prolongado e que constitui a
manivela. O sarilho é, pois, uma alavanca interfixa, em que o braço da
resistência, é o raio do cilindro e o braço da potência o comprimento da
manivela.
Observações
Em alguns países, em vez de
um cilindro é utilizado um cone truncado.
Instrumentos deste tipo eram
utilizados também na abertura de poços para fazer a extração da terra. Na corda
era pendurada uma espécie de gamela de madeira que descia até ao ponto onde
decorriam as escavações. Depois de cheia pelos trabalhadores que operavam no
interior do poço era puxada por uma ou duas pessoas, pois estes aparelhos
podiam ter uma manivela em cada extremidade. Depois a gamela era puxada de zorro
e despejada num ponto um pouco afastado do local onde se faziam as escavações
de modo a ter sempre espaço livre junto ao poço.
RABIÇO
Outras designações: Bomba de picota
Origem e antiguidade:
Originária da Europa e
difundida a partir da Idade Moderna.
Em Portugal encontra-se
distribuída pelo Litoral Norte e Centro, principalmente entre os rios Lima e
Mondego.
Funcionamento:
Consiste num ou mais tubos
(ou troncos de pinheiro furados), em conjunto com um sistema de duas válvulas –
uma fixa e outra móvel (o Junco e a Cesta). O sistema é acionado por uma
alavanca de madeira; esta gira em torno de um eixo de ferro colocado no cimo da
bomba, que ao entrar em movimento faz
subir e descer um êmbolo de ferro, que tem na extremidade inferior a bomba móvel
que aspira a água. Esta é impedida de descer novamente por ação da válvula
fixa.
Observações
Os troncos foram sendo, progressivamente,
substituídos por tubos de fibrocimento.
BOMBA MODERNA
Outras designações: Bomba de Volante.
Origem e antiguidade
Difundida na Europa durante
o século XIX. Em Portugal é está distribuída irregularmente e é mais vista nas
proximidades de centros urbanos e em casas de campo.
Funcionamento:
É composta por uma roda de
ferro de quatro raios, suspensa num eixo, também em ferro, que gira apoiada
numas chumaceiras, com ou sem manivela. Esta é a parte mais visível do
aparelho.
Observações
No que toca à aspiração de
água, possui uma bomba cujo funcionamento é semelhante ao das bombas de rabiço.
(Pode ver uma destas
bombas em funcionamento neste mesmo blog, em “Bombas antigas de volante”.)
RODA DE ÁGUA
Outras designações: Roda Persa, Nora, Nora de corrente.
Origem e antiguidade
Terá sido introduzida na Península
Ibérica pelos Árabes, por volta dos séculos X e XI. Ainda existem um pouco por
todo o país, mas já poucas se vêem em funcionamento.
Funcionamento
As rodas de água ou noras de
corrente são sistemas antigos, utilizados para elevar a água de rios ou canais
de rega. Estas noras não necessitam de qualquer esforço humano ou animal para
se movimentarem, pois são impulsionadas pela força da corrente que é aplicada
às pás que têm entre cada alcatruz (recipiente metálico ou cerâmico que
transporta a água). Desde que exista água com corrente suficiente para a mover
pode trabalhar vinte e quatro horas por dia. Normalmente, a água que elevam
segue através de tubos ou caleiras para grandes tanques situados numa cota
superior aos terrenos destinados a irrigação sendo depois a água distribuída
pelas culturas, por gravidade.
Observações
Encontram-se muitas noras
com finalidade decorativa em rotundas e outros locais de grande visibilidade, funcionando
movidas por motores elétricos.
(Pode ver neste blog em “Construir uma roda de água para produzir energia” duas destas noras a funcionar, como atracão turística, em
rotundas.)
ENGENHO
Outras designações: Nora, nora de eixo curto alto, roda de tirar água.
Origem e antiguidade
Supõe-se que seja de origem
moura e tenha sido difundida a partir do Norte de África. Em Portugal está
muito difundida no Centro Litoral, principalmente na área compreendida entre o
rio Vouga e a Planície Ribatejana.
Funcionamento
Instrumento de tração
animal.
É acionado pelo movimento de
um animal (boi, burro ou cavalo) em volta do poço, ao qual se encontra presa
uma vara que faz girar uma engrenagem. Esta aciona a roda em que se encontram fixos
os alcatruzes (baldes) e mergulham no poço, trazendo a água que é despejada num
tabuleiro.
Observações
Utilizada para elevar água
de poços, valas ou rios, aquedutos ou terrenos situados a níveis mais elevados.
PRESA DE ENGENHO
Outras designações: Engenho, sifão, presa de taco.
Origem e antiguidade
São desconhecidas. No país
este sistema está distribuído irregularmente e é conhecido em Celorico de
Basto, Sta. Tecla, Terras de Bouro, Baião, Fafe, Penafiel, Vizela.
Funcionamento
Este instrumento faz a aplicação
do princípio do sifão para evitar que a água transborde e danifique as presas e
as culturas durante a época em que não é necessário regar. Desta, maneira ninguém
precisa de se preocupar com as presas, pois elas enchem-se e esvaziam-se sem a intervenção
do homem. O processo é o seguinte: escolhe-se uma pedra de granito com a altura
da presa e fazem-se dois buracos paralelos no sentido da altura. Depois abre-se
um entalhe na face superior da pedras, a ligar os bordos dos buracos e
coloca-se por cima outra pedra também com um entalhe semelhante, que se ajusta àquele,
de maneira a estabelecer uma comunicação entre os dois buracos verticais. A
pedra é colocada na presa de maneira que um dos tubos fica dentro da água e o
outro sobre o rego condutor. Quando a água sobe dentro da presa, o tubo vai-se enchendo
também, até que, chegando ao buraco horizontal, forma sifão e a presa
esvazia-se.
BOMBA EÓLICA
Origem e antiguidade
A origem dos aparelhos
existentes em Portugal não é consensual. Por um lado os que se encontram na
região algarvia terão mais semelhança com os que é possível observar na região
mediterrânica, principalmente na ilha de Creta. No entanto, aqueles que se encontra
nas regiões Centro e Norte serão mais semelhantes a sistemas do norte da Europa.
Mais recentemente, a adaptação industrial deste tipo de aparelhos deu origem ao
chamado moinho de vento americano, atualmente mais difundido, categoria em que
se inclui o exemplar aqui representado.
Funcionamento
A força motriz deste
aparelho é a força do vento (energia eólica), que faz girar a roda de pás
localizada no alto da torre. Esta roda aciona um veio que transmite a energia a
uma bomba que se encontra no interior do poço. Esta bomba, através de um sistema
de válvulas (semelhante à bomba de rabiço) faz a elevação da água sempre que o
vento faz girar a engrenagem.
Observações
Na construção original
destes aparelhos eram utilizados materiais como madeira (estrutura e velas),
tecido (velas) e ferro (elementos de ligação e transmissão de movimento.
No blog, em “Moinhos de bombagem de água tipo americano”, pode ver um destes moinhos, de construção muito recente,
em pleno funcionamento. Se pretender saber mais sobre a história destas bombas
pode consultar “A história dos moinhos de vento americanos”.
BOMBA SOLAR
Origem e antiguidade
Muito recente. Provavelmente
encontra-se ainda pouco divulgada.
Funcionamento
Trata-se de uma bomba cujo princípio
de funcionamento presente é semelhante a uma bomba manual, com as devidas
adaptações para um sistema cuja força motriz é a energia elétrica. Há imensas
bombas elétricas, desde as que se encontram presentes nas vulgares máquinas de
lavar roupa até às que fazem chegar a água às nossas casas. No entanto, a
particularidade da que aqui se encontra presente, é a fonte da energia. Trata-se
de uma bomba cuja energia elétrica é obtida a partir da luz solar.
Observações
Uma bomba deste tipo pode
ser montada em qualquer lado, sem grandes limitações. Pode trabalhar
continuamente bastando apenas que haja luz suficiente. (A bomba da imagem é apenas demonstrativa e não tem o painel ou painéis solares).
Fontes:
Mostra de instrumentos de elevar água tradicionais na Mata Nacional do Choupal, em Coimbra, onde foram captadas algumas das imagens presentes no post.
Pesquisas no terreno, em diversos locais.
O meu próprio conhecimento pessoal.
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BOMBA DE CORDA EÓLICA
Quase todos os engenhos caseiros que construímos foram elaborados um pouco ao sabor do acaso, porque não existia qualquer tipo de projeto ou plano escrito. A construção de uma bomba de corda que, em principio, era para ser mista, ou seja para funcionar à mão ou tocada pelo vento, foi apenas o início de uma grande aventura. Nenhum outro projeto do autor sofreu tantas alterações e deu tanto trabalho como este, para não falar de algumas desilusões... Quero ler o artigo
tem também a bomba carneiro simples e muito eficiente
ResponderEliminarvou colocar solar
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