O HOSPITAL MILITAR DE COIMBRA

O Hospital Militar Regional nº 2
O serviço militar é uma fase da vida que, como qualquer outra, tem os seus bons e maus momentos. Qualquer cidadão que tenha cumprido ou esteja a cumprir essa missão sabe isso perfeitamente. No meu caso estive na tropa apenas durante quatro anos, mesmo assim um tempo superior à média do tempo de serviço militar obrigatório, isto nos anos 70, num período que teve pelo meio a revolução de Abril.

Tive assim a possibilidade de conhecer duas fases distintas do serviço, pois a verdade é que a partir dessa data (25 de Abril de 1974) nada voltou a ser como dantes. Houve um grande abrandamento no rigor da disciplina e até, talvez, alguma anarquia, de certo modo compreensível, depois de tão grandes mudanças políticas. Claro que me refiro apenas ao que me foi dado observar na Unidade Militar onde prestava serviço e também nas ruas e nas viagens de comboio, por exemplo.

Esta conversa dava pano para mangas e eu hoje vou apenas falar dum curto período da minha vida militar, que considero o mais negro dos meus quatro anos ao serviço da Marinha, curiosamente numa Unidade do Exército, o Hospital Militar Regional nº 2., onde estive internado durante um mês, no ano de 1973, devido a um acidente quando me encontrava de licença, em casa.

Tratou-se de uma queda de bicicleta que me provocou graves danos no joelho direito, que aconteceu a doze quilómetros da minha residência, tendo cometido a imprudência de regressar a casa na bicicleta, com enormes dificuldades pois o pedal direito partira e a distância a percorrer ainda era considerável.

Quando cheguei a casa estava num estado lastimável, o joelho estava com um enorme inchaço e já mal conseguia pôr o pé no chão devido às dores que sofria. Os meus pais apercebendo-se do meu estado chamaram imediatamente um táxi para me transportar a um hospital.

Dei entrada nas urgências dos Hospitais da Universidade de Coimbra, mas quando souberam que estava na tropa, chamaram logo uma ambulância para me levar ao Hospital Militar. Dei entrada nesse hospital e, depois de ter efectuado algumas radiografias, levaram-me para uma enfermaria onde fui colocado numa cama com a perna totalmente imobilizada e metida numas talas.

Fiquei com muito má impressão deste hospital, pois apesar de apenas ter conhecido a enfermaria onde estava e pouco mais, devido a ter estado sempre imobilizado, lembro-me da falta de assistência e de ter ali sofrido a bom sofrer. Após uma semana de barriga para o ar, sem fazer evacuação de fezes, quando finalmente mostrei vontade de o fazer, alguém me deu uma arrastadeira e, como não tivesse papel, pelo menos em quantidade suficiente, deram-me também um jornal para me limpar.

A alimentação era péssima e houve um dia em que o almoço não chegou à enfermaria. Eu, na altura, era dos poucos, se não o único que tomava as refeições no local, pois a maioria deslocava-se ao refeitório e eu era talvez o caso mais grave daquela enfermaria. Soube depois que tinha havido um levantamento de rancho como protesto pela má qualidade da comida, que causou durante a tarde um grande alarido. Os resultados desta iniciativa foram completamente nulos. Ao jantar foi servida a comida que tínhamos recusado comer ao almoço! E daí para a frente acho que a qualidade da mesma pouco ou nada melhorou.

Mas este hospital, por vezes, mais parecia um manicómio. Durante a noite alguns doentes entretinham-se a jogar à lerpa fazendo uma barulheira infernal e houve uma noite em que chegaram, até, a fazer lançamento de penicos e arrastadeiras pelo chão dos corredores fora, atitudes invulgares, que aumentavam o sofrimento de quem se sentia verdadeiramente doente.

Passado um mês de internamento nesta unidade de saúde, já com a perna engessada e sem que tivesse feito qualquer outro tipo de tratamento, recebi ordem de transferência para o Hospital da Marinha, em Lisboa. Lembro-me de ter feito a viagem acompanhado por um soldado, num comboio que ia completamente cheio, tendo feito a viagem quase toda de pé. Penso que foi num comboio especial para militares e, normalmente, estas composições andavam sempre super lotadas, devido à grande movimentação de tropas que havia naquela época.

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2 comentários:

  1. Nossa .. fiquei com má impressão do hospital só de voce contar. Aqui onde moro tem um hospital militar não muito distante e, quando estou lá perto vejo sempre o entra e sai dos veículos militares, carregados de soldados. Como o hospital militar aqui atente também aos familiares dos soldados, já tive a oportunidade de ouvir dizer que eles são bons e que o hospital tem excelente serviço. O que , agora lendo seu artigo , acredito que seja realmente um hospital referência.

    E, aqui no Brasil, esta acontecendo algo parecido com o que voce descreve ai, notasse que tudo esta menos rigoroso porém ainda há disciplina =D

    abraço e excelente semana!
    Cintia (tin)

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  2. Cara amiga Cintia:
    Isto que eu relato aqui passou-se no já distante ano de 1973. Depois disso houve a revolução de Abril de 1974 e as coisas agora já não são assim, felizmente.
    Um abraço e uma boa semana também para si!
    José Alexandre

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