Na
Serra da Lousã existem algumas instalações militares que atualmente se
encontram abandonadas. Na subida para o Trevim, o ponto mais alto da serra,
encontra-se uma antiga casa de guarda florestal com alguns anexos que é agora
propriedade militar, o que é atestado pelos sinais de proibição de trânsito à
entrada da propriedade, identificando aquela como uma área militar.
A entrada para as antigas instalações florestais, agora área militar. |
De
facto, nos anos 70 e 80, esteve ali um destacamento da Força Aérea Portuguesa pertencente à Base de Monte Real que funcionava como uma estação repetidora
das comunicações da F.A.P., embora, provavelmente, também tivesse a missão de
manter as instalações do Centro Emissor do Trevim em segurança, dada a importância
daquele complexo no sistema de comunicações nacional, quando ainda ressoavam
alguns ecos da revolução de 1974.
Continuei
a subida para o alto da serra naquele domingo de manhã. Tinha sido anunciada
queda de neve para aquele dia, para os locais acima dos 600 metros de altitude e
por isso tinha a esperança de assistir a um nevão, dado que o céu estava
carregado de nuvens, de cor pouco carregada e estava nevoeiro, mas, pensando
melhor, àquela altitude eu estava já dentro das próprias nuvens e por isso a
visibilidade era bastante reduzida.
Centro Emissor do Trevim |
Perto
do cimo da montanha o solo começou a aparecer revestido de neve, mas em pouca
quantidade, mais parecendo um manto esfarrapado que cobria mal o mato rasteiro
do terreno xistoso. Comecei a escutar o som de pancadas e barulhos esquisitos
vindos do Centro Emissor; parecia que andava alguém às marteladas no cimo das
antenas… é estranho – pensei – certamente ninguém anda aí a trabalhar com este
tempo…
Cheguei
à entrada do recinto, que continua de portas escancaradas e com o mesmo ar de
abandono que tinha quando ali estive da última vez, já lá vão cerca de três
anos. Mas agora o local tinha um aspeto aterrador. As enormes antenas pareciam
fantasmas, ou melhor, aquele conjunto de torres enfeitadas com pratos e bombos
gigantes, meio difusas no meio das nuvens faziam lembrar uma orquestra saída de
um filme de Stanley Kubrick.
Das enormes torres, no meio das nuvens, caíam, com estrondo, pedaços de gelo. |
A
neve depositada nas antenas, que se transformara em gelo, estava agora a
começar a derreter e desprendia-se, caindo em cima daqueles instrumentos
esquisitos e essa era a justificação para as marteladas que escutara ao chegar
ao local. De vez em quando um pedaço maior, tocado pelo vento, caía um pouco
mais longe, por vezes até em cima do alcatrão do caminho, desfazendo-se em mil
pedaços e comecei a recear pela minha segurança.
Mesmo
assim decidi entrar no recinto, que parecia estar completamente deserto de
vida. A guarita, à entrada, onde outrora estivera um soldado de vigia, estava
naturalmente vazia e arruinada e era apenas uma inicial e triste indicação do
abandono, ou melhor do desprezo ou desmazelo a que o local estava votado.
Dentro
do recinto, logo à entrada, foi construído em pedra de xisto um edifício para
fins militares, que se não fosse uma placa afixada na porta dizendo tratar-se
de área militar, podia confundir-se perfeitamente com uma vivenda familiar de
qualquer aldeia serrana da zona. A parede ao lado do caminho é direita e só tem
uma porta e uma janela, que já apresentam visíveis sinais de degradação.
Curioso, decidi contornar o edifício e apreciar a parte posterior, que tem um
aspeto arquitetónico mais agradável, parecido com uma vivenda, ficando com a
ideia de que o edifício foi construído de costas para a estrada.
O edifício militar |
No interior degradado, na parede da lareira, está o que parece ser um símbolo militar. |
Esta
parte do edifício tem várias janelas, ou melhor a abertura das janelas, pois
estas desapareceram, ou pelos menos os vidros foram todos estilhaçados. Não
resisti a espreitar para o interior e pude constatar o estado avançado de
ruínas em que o mesmo está, certamente por obra de mão humana e também por
infiltrações de água, pois o telhado deve estar também em situação miserável.
O
caminho continuava a subir, o que significava que ainda não tinha chegado ao
ponto mais alto da serra. Do alto das torres, que iam surgindo
interminavelmente do meio das nuvens, continuavam a desprender-se pedaços de
gelo que batiam nos pratos e bombos, sendo aquela música esquisita o único barulho
perceptível. Soprava uma leve aragem e continuava sem haver precipitação de
neve ou chuva e, aliás, o sol parecia querer espreitar, não por entre as
nuvens, mas provavelmente por cima delas.
Para
além das antenas há por ali também vários prédios que, ao contrário do edifício
militar, não respeitaram a ambiência do local e ostentam as suas paredes
rebocadas. Em muitas janelas, foram instalados aparelhos de ar condicionado, o
que parece indicar que noutros tempos estiveram ali pessoas a trabalhar, cujas
funções terão entretanto sido descontinuadas e essa deve ser uma das razões do
local estar assim deserto, apresentando visíveis sinais de decadência, pelo
menos em relação aos edifícios.
Um disco voador! |
Perto
de um desses edifícios de grande dimensão, que ostenta uma grande área
envidraçada com vários vidros quebrados, encontrava-se algo que me levou a
pensar que aquele local poderia servir muito bem para rodar um filme de ficção
científica. A minha imaginação começou a voar, ou talvez a delirar… aquilo
era um disco voador e o Centro Emissor, fora ocupado por seres extra-terrestres
que tinham liquidado os soldados e destruído o edifício militar. Agora ali
aterravam naves espaciais e não se via ninguém porque esses seres tinham o
condão de se tornarem invisíveis, ou então estavam a espiar-me através das
vidraças e estariam num ápice a capturar-me e a fazer-me viajar pelo espaço, na
melhor das hipóteses…
Naquele
momento soltei uma gargalhada surda, rindo-me de mim próprio – que estúpido que
eu sou! … Aquilo são apenas peças de uma antena, pensei, não muito convencido.
Marco geodésico do Trevim. |
Finalmente,
cheguei ao topo da montanha, a 1205 metros de altitude, local que está
assinalado com uma pirâmide pintada de branco. Trata-se um marco geodésico com
cerca de cinco ou seis metros de altura, de formato diferente do habitual, mas
ao seu lado tinha um mais pequeno, cilíndrico, e ambos têm gravados num pedaço
de mármore branco a indicação de que pertencem aos Serviços Geodésicos e a data
de 1955.
Iniciei
a descida lentamente. Estava frio, mas a temperatura devia estar a subir, pois
o gelo continuava a despenhar-se das torres cada vez em maior quantidade e
caíam alguns pedaços no caminho. As nuvens estavam a descer e o sol fazia a sua
aparição. Segui em direção às nuvens…
Caro amigo esse lugar é mesmo magico. Estou admirado de saber que está tudo abandonado.
ResponderEliminarPena a degradação, mas valeu a caminhada, as lembranças e as imagens!! Se esse local ainda pertence às forças militares, começo a pensar em todo o resto e porque o Estado quer enfraquecer as forças armadas. Bom restinho de semana!
ResponderEliminarBons tempos aí passei, 4 meses no total!
ResponderEliminarO símbolo militar na sala, representava a esquadra da polícia aérea da BA5, suricates
ResponderEliminarUma correção, o destacamento funcionou muito para além do anos 80!
ResponderEliminarObrigado pelos esclarecimentos. É uma pena estar tudo cada vez mais ao abandono. Ainda no passado domingo lá estive e até a porta de metal, junto ao caminho, foi arrombada.
EliminarFiz aí serviço militar, pela força aérea 3 anos, de 66 a 69 de 2020 No Trevim, como Tec. Radar e microondas. Foram 3 anos maravilhosos. Fiquei a adorar a serra da Lousã.
ResponderEliminarAmanhã vou recordar a minha passagem por aí há 40 anos atrás. Eu era o cabinho das microondas. Estive aí destacado muitas vezes.Um abraço a todos que por lá conheci.
ResponderEliminarestive varias veses ai de servico paulo alves coimbra
ResponderEliminarpaulo alves fiz servico ai varias semanas
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