A INSPECÇÃO MILITAR

Apesar de apenas ter assentado praça em Janeiro de 1972, tenho de recuar seis meses e iniciar a história da minha vida militar, quando fiz o concurso para admissão de praças da Armada, auxiliado pelo antigo regedor da freguesia de Miranda do Corvo, que me forneceu todas as informações e impressos necessários para o efeito. Como era menor, tinha apenas 16 anos, tive de enfrentar a oposição dos meus pais, que a principio não queriam dar a necessária autorização, tendo acabado por ceder face à determinação e argumentos que apresentei.


Fui convocado para prestar provas e fazer a respectiva inspecção no dia 18 de Novembro de 1971. O local que me foi indicado para a realização dessas provas foi a Casa dos Pescadores de Matosinhos, onde me devia apresentar às 8.h30.
Iniciei a viagem de comboio, no dia anterior à noite, acompanhado por um antigo soldado meu conhecido que se deslocava ao Porto para tratar de assuntos pessoais. Mas esta foi uma viagem muito atribulada, pois o comboio em que embarcámos ia com destino à Guarda e nós devíamos ter feito o transbordo para outra composição na estação da Pampilhosa. Apenas tomámos conhecimento desta situação quando já nos tínhamos afastado em direcção à Guarda, cerca de uma vintena de quilómetros e porque o revisor nos abordou para a verificação dos bilhetes. Fomos informados pelo funcionário da CP que devíamos sair na próxima paragem do comboio e aqui apanhar um táxi para a estação da Mealhada, e daqui um comboio em direcção ao Porto. Foi uma situação aborrecida, mas que foi provocada pela nossa falta de atenção e também pelo facto de irmos a dormitar no comboio. O resultado de tudo isto, foi que chegámos ao Porto com algumas horas de atraso, o que no meu caso podia ter posto em causa, ou pelo menos ter adiado a minha admissão na Marinha, pois quando cheguei ao local indicado para a realização das provas, estas estavam a terminar; a minha sorte foi que este era o primeiro de dois dias que estavam calendarizados para este efeito, tendo sido informado disto ali mesmo e de que poderia regressar no dia seguinte e efectuar as ditas provas.

Andei a vaguear por ali durante o resto do dia, pois estava sozinho e não conhecia nada nem ninguém naquela zona. Só é quando a noite se começou a aproximar é que fui à procura de um sítio para dormir, pensando que com facilidade encontraria um quarto numa pensão qualquer onde pudesse comer qualquer coisa e passar a noite. Enganei-me redondamente, pois apesar da insistente procura não tive qualquer sucesso nesse propósito. Assim fui caminhando pela cidade, sentando-me por vezes em bancos de jardins e paragens de autocarros, tendo nessa condição passado pelo sono por alguns minutos. Assim que a manhã começou a romper dirigi-me a uma padaria onde comprei alguns pães acabados de sair do forno que devorei num ápice tal era a fome que sentia. De seguida dirigi-me então à Casa dos Pescadores, onde pude finalmente realizar as provas para a admissão na Armada.

A Casa dos Pescadores de Matosinhos


Estas provas consistiam em demonstrar conhecimentos básicos de português e matemática e também de cultura geral e acho que me correram bem apesar da noite que tinha passado, pois fui colocado na especialidade que tinha escolhido em primeiro lugar. Tínhamos duas opções de escolha livre e uma terceira obrigatória que era para a classe de Fuzileiros Navais. Também fui submetido a inspecções médicas tendo sido considerado apto para o serviço.

Os artigos relacionados com o serviço militar estão listados em ÁREA MILITAR

3 comentários:

  1. Não tive ainda tempo de ler todo o trabalho mas desde já os meus parabéns porque me parecem assuntos muito interessantes quer do ponto de vista documental quer de partilha de vivências pessoais. Há um blog também muito interessante que me parec ser dentro desta linha e do qual lhe vou enviar o endereço.
    Gostei muito!!

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  2. Caro amigo, como vi o seu comentário no Ferroada passei pelo seu blogue e gostei. Também estive na Briosa até há bem pouco tempo e digo-lhe uma coisa: se hoje as provas fossem as que mencionou, Português e Matemática, havia lá muito pouca gente.

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    1. És o Henrique Monteiro, sargento M, que em tempos esteve no Schultz Xavier?

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