VIAGEM AO INTERIOR

A capa do livro
Há um ditado popular que diz que o homem para ter uma vida completa deve ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Destas três tarefas a terceira é, talvez, a que é mais esquecida, o que não quer dizer que quem o não faz seja menos homem por isso.

Eu, pessoalmente, sempre desejei escrever um livro. Esse desejo já vem dos meus tempos de infância, quando frequentava a Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e eu e os meus companheiros de infância, por vezes, brincávamos aos escritores, influenciados pela leitura e porque achávamos que escrever um livro era como que um acto heróico.

Lembro-me de uma vez em que eu e um dos meus amigos de muitas brincadeiras e aventuras, organizámos uma biblioteca ao fundo de uma escada com “livros” que nós próprios escrevíamos. Esses “livros” eram feitos de embalagens vazias de cigarros das marcas “definitivos” e “provisórios”. Nós ajeitávamos aquilo de forma a parecer um livro, mas no fundo era apenas a capa e nós escrevíamos algumas palavras no seu interior e depois convidávamos os amigos e até pessoas adultas a irem lá “requisitar” essas “obras”. Claro que esses “livros” nunca mais eram devolvidos e aquilo não durou muito tempo, mas de qualquer modo foi uma das nossas brincadeiras de rua saudáveis, que ficou na memória.

Recentemente quando iniciei o meu processo de Reconhecimento, Certificação e Validação de Competências, de nível secundário, a minha imaginação algo fantasiosa veio ao de cima, quando entusiasmado com a escrita pensei em fazer o Portefólio Reflexivo de Aprendizagem, exactamente como se de um livro se tratasse, contando os meus conhecimentos, as minha experiências e histórias de vida, sem recorrer a qualquer pesquisas. Até já tinha um título para o livro e tudo! Chamar-se-ia “Viagem ao Interior” e esse título tinha sido originado pelas palavras de um autor desconhecido que um dia disse que “a viagem mais bela é aquela que fazemos para dentro de nós”. Ora, se essa é a viagem mais bela, porque não fazê-la nessa altura, aproveitando aqueles momentos de inspiração?

Isso não foi possível, apesar do meu percurso profissional longo e diversificado, com o qual interiorizei muitas experiências e conhecimentos importantes, mas as exigências dos temas propostos pelo programa não se compadeceram com isso e fui obrigado a mudar de estratégia mas, ainda assim, mantive no Portefólio, muito do conteúdo que faria parte do livro, apesar de não obter com isso qualquer tipo de créditos.

Mas não me sentia satisfeito comigo próprio e apesar de poder considerar o Portefólio como um livro, achei que o seu conteúdo tinha sido de algum modo “adulterado” pela adaptação que fui obrigado a fazer.

O serviço militar, uma fase da vida que eu muito prezo, faz parte das memórias deste livro


Assim resolvi escrever o meu livro agora intitulado “Meio Século de Aprendizagens” (título que deu origem ao nome deste blogue), baseado apenas nas minhas histórias de vida e experiências que geraram aprendizagens ao longo de cinquenta anos de existência.

Mas um livro nunca o será verdadeiramente se não tiver leitores. Mas quem é que estaria interessado em ler o meu livro? Ninguém certamente se iria dar ao trabalho de ler um livro de um autor que ninguém conhece e que relata apenas as experiências e histórias de uma vida simples.

Mas eu consegui leitores para o meu livro. E leitores muito importantes que o adoraram. E isso foi muito fácil de conseguir, bastou apenas fazer algumas cópias do livro e oferecê-lo a alguns familiares mais chegados, que neste caso foram a minha mãe e os meus irmãos. Todos eles adoraram o livro e eu nessa altura senti-me recompensado por todo o esforço que fizera, como se na verdade o livro tivesse sido lido por muitos milhares de leitores.

Atrevo-me a recomendar a todas as pessoas, com alguma idade, que experimentem escrever um livro contando a história da sua vida e o ofereçam aos seus familiares e amigos e irão sentir o mesmo que eu senti, pois eles irão adorar essa prenda que é uma das melhores que se pode dar ou receber.

Desisti do título que inicialmente me propusera dar ao livro, talvez por causa de alguma desilusão que na altura senti quando verifiquei que esse projecto não era exequível em sintonia com o Portefólio o que fez desvanecer o romantismo e fantasia em que estava envolto. Mas a verdadeira essência do livro mantém-se e o “Meio Século de Aprendizagens”, livro e blogue, constituem o relato daquela que eu considero uma verdadeira e fascinante “Viagem ao Interior”.

Artigos relacionados com o processo RVCC:
Portefólio Reflexivo de Aprendizagem
Entrega de diplomas RVCC
Saberes Fundamentais - O Elemento

1 comentário:

  1. Caro José Henriques
    Nunca li o seu Livro (um dia destes talvez me queira emprestar um exemplar) mas este seu Blog é como um bom Livro, onde todos podemos aprender. Acresce que é ainda mais eficaz, porque chega a muito mais pessoas. Eu sou apenas um dos seus habituais leitores.
    Abraço.
    Jorge Santos

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