Plantação de tabaco |
“Cada folha, uma nota”. Esta frase fazia parte, há alguns anos atrás, de um cartaz publicitário que apelava à plantação de tabaco em Portugal. Lembro-me de o ver afixado na cooperativa agrícola da minha terra e dele constavam também uma planta ou uma folha de tabaco e uma nota de vinte escudos. Teria sido na década de 80 ou talvez já nos anos 90, numa altura em que um pouco por todo o país se plantava tabaco. Era principalmente nos concelhos de Castelo Branco, Fundão, Idanha-a-Nova e Ponte de Sôr que existiam os grandes campos onde se cultivava o tabaco “Virgínia” que era curado artificialmente em estufas aquecidas. Por outro lado, o tabaco tipo "Burley" era curado ao ar livre e plantado em Pombal, S. Miguel (Açores), Leiria e Trás-os-Montes, em campos de menor dimensão.
Mas também se procedia ao cultivo do tabaco noutros concelhos, como por exemplo Miranda do Corvo e Lousã, por ser uma actividade em que os agricultores viram uma saída para algumas das suas dificuldades, pois naquela altura a torneira da Europa brotava grandes quantidades de notas e havia que aproveitar os bons ventos que sopravam.
Não deixava de ser curioso este paradoxo: se, por um lado, naquela altura já estavam muito difundidos os malefícios para a saúde provocados pelo tabaco e por isso se apelava ao seu não consumo apelava-se, por outro, à sua plantação e cultivo.
O facto é que esse período de expansão das plantações de tabaco que terá durado pouco mais de uma década, teve a vantagem de proporcionar muitos postos de trabalho, mas absolutamente precários, como sempre foram a maioria dos trabalhos agrícolas, sobretudo os sazonais, como era o caso deste, que se desenvolvia nos meses de primavera, verão e início de Outono, com a agravante de ser uma actividade sem qualquer tradição no nosso país e de assentar em bases pouco sólidas e até algo controversas, se tivermos em conta que ela só era rentável devido aos subsídios da U.E.
Como era um trabalho que estava pouco mecanizado exigia, por isso, muita mão-de-obra e os produtores tinham necessidade de contratar muitos trabalhadores, principalmente na fase da colheita e preparação para a secagem.
Eu próprio trabalhei durante algum tempo nesta actividade nas décadas de 80 e 90, mas era contratado apenas eventualmente e por poucos dias ou apenas algumas horas, pois tinha o meu trabalho regular, mas aproveitava as oportunidades que apareciam, naquela e noutras actividades agrícolas, para ganhar mais uns tostões que muito jeito faziam naqueles tempos difíceis.
Os trabalhos que efectuei na área do tabaco foram sobretudo na plantação dos pés e preparação do terreno, como abertura de regos, pois a fase de colheita e preparação do tabaco nas estufas para secagem era um trabalho mais dirigido para senhoras. Na minha zona estas estufas eram bastante rudimentares, na sua maioria eram feitas com varas de eucalipto e cobertas com plásticos, sendo algumas com o telhado construído com chapas de zinco onduladas.
Na altura da plantação eram contratados vários trabalhadores por alguns dias ou até apenas por poucas horas que efectuavam o trabalho da plantação e depois, durante o crescimento das plantas, era naturalmente necessário fazer a manutenção das plantações, o que já era feito com recurso a um menor número de pessoas e só a partir da colheita e da preparação para a secagem voltava a haver um maior número de contratações
O Jornal de Noticias, na sua edição de 14 de Setembro de 2008, dava conta de que a cultura do tabaco estava à beira da extinção:
Cultura de tabaco à beira da extinção
Produção cai de 6000 para 1500 toneladas em poucos anos. Cada vez há menos produtores.
Os números não enganam. Das quase seis mil toneladas de tabaco em folha produzidas em Portugal no ano 2000, já só restam memórias. Actualmente, a produção regista menos de 1500 toneladas.
O número de produtores também tem vindo a diminuir e tudo leva a crer que a campanha do tabaco deste ano seja uma das últimas em Portugal.
Na zona onde vivo já há muitos anos que acabaram as plantações de tabaco; muitos dos terrenos anteriormente ocupados com a planta do fumo nunca mais foram cultivados, noutros foram construídas habitações. Das estufas de secagem também já nada resta e essa actividade teve uma passagem efémera pela zona, tudo levando a crer que jamais voltará, mas de qualquer maneira ficará ligada à história da agricultura na região.
Artigos relacionados
Artigos relacionados
Este ano consegui uma boa colheita de batatas, mas, infelizmente, não tive os cuidados preventivos necessários para a sua conservação e a borboleta, que eu tentei combater evitando produtos químicos, recorrendo apenas à cobertura das batatas com ramos e folhas de eucalipto, não foi suficiente e muitos tubérculos foram atacados, de tal forma que parte da produção se perdeu... Continue a ler
Perante esta afirmação o leitor é capaz de estranhar o tempo referido para plantar uma sebe: “alguns anos?!” ou então ser levado a pensar que se trata de uma sebe muito grande, talvez com quilómetros de extensão…
tenho uma virginia que estou a plantar, sabe se há algum cuidado especial a ter com a poda das folhas, ou vou deixando crescer livremente - e em que altura é a mais indicada para cortar a folha para secar? Fico também a pensar, depois de retirar a folha, como será feita a secagem? C.
ResponderEliminarO trabalho que fiz nesta área foi na parte de plantar. Se pesquisar no Google por secagem e cura de tabaco irá encontrar as informações que pretende, em vários sites.
Eliminar