COMO SEMEAR FAVAS E ERVILHAS

Chegou a altura de começar a semear favas e ervilhas. Depois da satisfação pela ótima colheita de batatas deste ano que descrevi em o "Ciclo da Batata", chegou o desânimo pelo facto de mais de metade da produção estar muito deteriorada por ter sido atacada pela borboleta. Essa praga que eu tentei combater evitando produtos químicos, recorrendo apenas à cobertura das batatas com ramos e folhas de eucalipto, não foi suficiente e muitos tubérculos foram atacados, de tal forma que parte da produção se perdeu. As batatas que colhi em Julho seriam o bastante para a autossuficiência familiar desse produto, até às primeiras colheitas de batatas temporãs que deverá ocorrer entre Abril e Junho, no entanto, agora a maior parte delas estão de tal modo picadas que já nem metade se consegue aproveitar e, por isso, em breve terei de as começar a comprar. Mas a verdade é que, por vezes, se encontram batatas em promoção nos supermercados a um preço tão baixo que, certamente, ficava a ganhar se não semeasse nenhumas. No entanto, o hábito e também o “bichinho” pelo trabalho no campo fala sempre mais alto e lá para Janeiro/ Fevereiro estarei lançando à terra as primeiras batatas de semente.

A MINHA SEBE DE "LAUROS"

Já ando há alguns anos a plantar uma sebe na minha chácara…

Perante esta afirmação o leitor é capaz de estranhar o tempo referido para plantar uma sebe: “alguns anos?!” ou então ser levado a pensar que se trata de uma sebe muito grande, talvez com quilómetros de extensão…

A verdade é que se trata de uma sebe com a finalidade de delimitar o terreno e tem pouco mais de 100 metros de comprimento, mas a forma como eu tenho realizado o trabalho é que tem obrigado a tanta demora.

Claro que a sebe já poderia estar pronta e bastante desenvolvida se não fosse a necessidade absoluta de gastar o menos dinheiro possível. Mas vou passar a explicar:

BARCOS DO MONDEGO

Fui pela primeira vez à serra da Estrela, numa excursão, já lá vão umas dezenas de anos, por alturas da primavera para aproveitar a existência de neve na serra.

No percurso de regresso passámos pelas Penhas Douradas, estando anunciada uma paragem na nascente do rio Mondego. Eu estava muito entusiasmado com essa visita, pois sendo o Mondego o maior rio inteiramente português, imaginava a sua nascente provavelmente como uma enorme cratera na montanha, de onde sairia em turbilhão uma grande quantidade de água, que formaria gigantescas ondas de espuma, antes de começar a deslizar livre e serena por entre margens distantes…

O autocarro descia devagar pela estrada da montanha, quando se ouviu a voz do responsável pela excursão a dizer:

- Chegámos à nascente do Mondego. Vamos parar e sair por um bocado!

CONSTRUIR A PRÓPRIA CASA - Reboco de paredes e tetos

Rebocando paredes
Rebocar paredes e tetos manualmente é um trabalho que exige alguma perícia, não só para que possa atingir o grau de perfeição adequado ao fim a que se destina, mas também para que se obtenha rendimento na sua execução.

Os meus primeiros trabalhos de reboco foram executados aquando da construção da minha casa e, nessa altura, quando comecei, era mais a massa que caía para o chão do que a que ficava colada às paredes. Claro que para se levar a cabo um trabalho de reboco, nas melhores condições de rendimento e qualidade, é necessário muito mais do que o jeito para fazer o trabalho propriamente dito.

A massa tem de ser adequada ao tipo de reboco que se pretende e o suporte deverá também estar preparado para que se consiga uma boa aderência da massa na parede. A qualidade do reboco depende muito do tipo de areia que é utilizada na argamassa e isso tem especial importância em paredes exteriores que ficam expostas às influências climatéricas. Areias com alto teor de argila ou terra podem ser muito boas para facilitar o trabalho de reboco, mas retiram força ao cimento e a boa aderência e facilidade de trabalho inicial pode mais tarde ser motivo de arrelias.

Quando estive a trabalhar na construção civil, os rebocos exteriores que fazia eram quase sempre com uma massa composta por duas partes de areia dos rios (na minha zona essa areia era proveniente do rio Mondego, primeiro, mais tarde passou a vir do Tejo, da zona de Constância) duas partes de areia fina (vinda da zona de Mira) e uma parte de cimento portland normal. Com esta massa era possível deixar já as paredes rebocadas de forma a não ser necessário aplicar mais nenhum tipo de massa para acabamento, desde que o reboco fosse devidamente desempenado e afagado com uma esponja.

Nos anos 80 estava muito em voga o acabamento exterior com chapisco ou crespo, trabalho que era conseguido com argamassa de areia do rio de crivo grosso ou então de areia e areão misturados com cimento, mas os materiais inertes para este tipo de massas eram bastante variáveis, consoante o tipo de chapisco que se queria obter. Também havia uma mistura já preparada à base de pedra granulada e pó para este tipo de acabamento que era fornecida em sacos e a que depois se juntava cimento branco, o que originava um crespo de cor creme e que evitava, pelo menos durante alguns anos, a pintura dessas paredes. Também havia quem misturasse cal branca na massa de chapisco pois assim ficava com mais goma, facilitando a colagem, quando era aplicada. Para efectuar este trabalho era preciso mão certeira para que a massa fosse espalhada de forma uniforme pelas paredes. Como curiosidade refiro que na construção da minha casa utilizei este tipo de acabamento nas paredes exteriores, tendo lançado a massa de chapisco, composta de areia grossa do rio e cimento, diretamente sobre o tijolo, por uma questão de economia, pois essa não era uma prática corrente, uma vez que, normalmente, o acabamento em crespo era aplicado sobre reboco pronto, mas consegui mesmo assim um óptimo trabalho, tendo contribuído para isso o facto das paredes estarem direitas e bem aprumadas não tendo, após mais de trinta anos, tido qualquer problema com esse trabalho.

Uma parede exterior com acabamento em chapisco ou crespo.
Entretanto, esse método foi caindo em desuso, pois tinha alguns inconvenientes como era o caso da pintura dessas paredes, que se tornava um trabalho difícil e moroso e exigia um enorme volume de tinta para a sua execução.

Em paredes interiores, normalmente faz-se o acabamento com massa de areia fina, cal branca e cimento, que é aplicada sobre o reboco que, neste caso não necessita de tanta perfeição no que diz respeito ao seu afagamento, mas que deverá ficar direito e desempenado, para evitar aplicar depois demasiada massa fina para corrigir. Em paredes destinadas a serem revestidas com azulejos devem existir cuidados redobrados no que diz respeito ao desempeno das paredes, mas sem que fiquem demasiado lisas, para melhor aderência do cimento-cola e isto aplica-se também em relação às paredes que vão ser acabadas com massa fina ou estuque.

Uma parede lisa e bem afagada não significa que esteja perfeita, pois pode não estar direita e aprumada e isso é que é importante, uma vez que a existência de alguma aspereza no reboco até pode ser benéfica para o sucesso dos trabalhos seguintes.

Nos meus trabalhos de reboco costumava passar pontos nas paredes servindo-me de bocados de tijolo ou de tiras de peças cerâmicas (azulejos e mosaicos), que colocava em pontos estratégicos da parede para depois fazer as mestras que iriam regular os lanços de reboco, tentando sempre que a espessura do revestimento não ultrapassasse 1 cm, no entanto havia paredes em que era preciso aplicar vários cm de massa, em alguns pontos, devido a um mau trabalho no assentamento dos tijolos, o que remete para a importância das paredes serem construídas bem aprumadas e alinhadas.

Quem trabalha ou trabalhou em obras sabe que lhe é sempre exigido que faça muito e bem, seja em que tarefa for, mas no reboco como se trata já de uma fase de acabamento de uma parede a perfeição deveria ser mais importante do que a rapidez, caso uma não pudesse acompanhar a outra, pois num trabalho destes o que fica para a memória futura é o que fica visível (as paredes perfeitas), e não o tempo que demorou a fazer, pois mais tarde ninguém se vai lembrar disso.

Quando trabalhei na construção de blocos de apartamentos, na altura dos rebocos interiores, o encarregado tentava por os pedreiros a trabalhar ao despique, para que fosse realizado o maior número de metros de reboco no menor tempo possível. Alguns entravam nesse esquema, mas a glória de fazer mais do que outros era muito efémera e era o mesmo responsável que a fazia esfumar quando depois ia “apalpar” as paredes com uma régua e verificava que a maior rapidez, significava quase sempre paredes com reboco mal executado (paredes tortas).

Na construção civil existem várias categorias de profissionais que executam os diversos trabalhos de acordo com essa categoria, no entanto pode-se dizer que os pedreiros são uma classe muito flexível que executa grande parte dos trabalhos necessários numa obra. A aplicação de massas finas areadas em paredes e tetos é comummente feita por estucadores, mas eu também fazia esse trabalho e a esse respeito tenho uma história engraçada, ou melhor, sem graça nenhuma, e que até se podia ter revelado muito trágica, que passo a descrever:

Um casal de idosos para quem costumava efectuar alguns pequenos trabalhos na área da construção, certo dia contactou-me para fazer a aplicação de massa fina no teto da sua cozinha que era de chapisco grosso e bastante irregular. Fui lá para verificar e avaliar o trabalho e constatei que esse teto já tinha sido caiado, mas atendendo à sua aspereza não devia existir problema na aderência da massa fina.
Como o teto estava bastante irregular levou cerca de um cm de espessura de massa e, assim, para evitar que rachasse fiz a mistura com cimento e areia fina, tendo juntado apenas uma pequena quantidade de cal branca, pois a cal origina fendas quando a espessura é elevada.

Passados alguns dias voltei lá para pintar o teto e no final recebi o pagamento e o elogio daqueles patrões habituais que ficaram totalmente satisfeitos com o trabalho.

Passado cerca de um mês o senhor foi a minha casa. Parecia bastante nervoso, e o que me disse em seguida deixou-me bastante perplexo:

- Zé… a massa do teto caiu toda no chão! Eu e a minha mulher estávamos sentados à mesa e por pouco não levávamos com ela em cima. Tivemos sorte porque naquele canto a massa não caiu!

- Oh!... Oh!... ainda mais essa! O Ti António está a brincar! – respondi,  admirado e apreensivo.

- Não estou nada a brincar. Vai lá ver!

- Vamos lá imediatamente!

A cozinha estava em completo estado de sítio. Apenas nos quatro cantos do teto se conservava ainda algum revestimento e era precisamente num desses cantos da cozinha que estava a pequena mesa encostada à parede onde o casal de idosos tomava as suas refeições.

Apercebi-me imediatamente do motivo daquele desastre. Não fora a massa fina que eu aplicara que se descolara do chapisco, mas sim o chapisco que se descolara do suporte onde tinha sido aplicado. Aquele teto era uma placa de cimento e o chapisco tinha sido aplicado sobre papel de sacos de cimento que estava agarrado à placa. Não foi difícil adivinhar o que se tinha passado: os pedreiros que tinham construído a placa tinham feito uma cofragem em madeira e depois como deviam existir muitas brechas nas juntas das tábuas, cobriram completamente a madeira com papel para segurar a goma do cimento. Quando descofraram a placa não retiraram o papel que, nessa altura, talvez ainda se soltasse com alguma facilidade, facilidade que mais tarde, quando a placa estivesse completamente seca, já não deveria existir.

Fosse como fosse, o certo é que a massa de chapisco tinha sido aplicada sobre a camada de papel que isolava o suporte, impedindo a colagem do chapisco ao cimento da placa. Eu não tinha como saber nem ia imaginar que alguém pudesse ter feito o revestimento do teto sobre papel, pois a camada de chapisco não ostentava qualquer brecha, nem mostrava nenhum indício de descolagem ou de má aderência ao maciço da placa. Depois, com o peso da massa fina e com o aquecimento da placa pois esta não tinha cobertura, estando exposta ao sol, a somar a uma elevada temperatura que naquela altura se fazia sentir, a massa de chapisco descolou-se do papel que revestia a placa.

- Bem… Ti António, como é que vamos resolver isto? Para aplicar massa fina novamente é preciso picar o teto todo. E se puséssemos um teto falso? – sugeri.

- Tu é que sabes, mas eu gostava tanto dele como estava…

- Pois é… mas com um teto falso podemos colocar um isolamento e a cozinha fica mais fresquinha no verão!

Olha… faz como entenderes. Não quero é que ele me caia em cima!

Este episódio dá para aferir da importância que tem o suporte onde se vai aplicar qualquer reboco e em tetos são preciso cuidados redobrados, devido ao perigo que pode representar a queda do revestimento ou pedaços dele.

A seguir coloquei um vídeo mostrando a forma de chapiscar um teto como acabamento final, antes da pintura. Os últimos quatro minutos do vídeo não têm qualquer interesse para quem leu este post, pois trata-se da história da massa que caiu de um teto, já contada no texto em cima.





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