APANHA DA AZEITONA, PODA DE OLIVEIRAS E OUTROS TRABALHOS DE OUTONO

O outono é uma das estações do ano com mais trabalhos agrícolas a realizar nos campos. Começando logo no início da estação uma grande azáfama com as vindimas, a que se segue, quase de imediato, a apanha da azeitona. A safra da azeitona é uma das mais importantes tarefas agrícolas e também das mais trabalhosas, mas as vindimas e a azeitona são apenas duas das tarefas mais significativas do outono, mas não as únicas, pois há que contar com as sementeiras de favas, alhos ervilhas, couves e muitos outros trabalhos.

Este ano já fiz a minha sementeira de favas e ervilhas, mas não vou voltar a falar nisso para não ser repetitivo, pois já tenho uns dois ou três posts no blog a tratar desse assunto; refiro apenas que este ano estrumei bem a terra com o estrume produzido pelas galinhas que adquiri há uns meses atrás, sendo esta uma das vantagens de ter algumas galinhas, talvez até a maior, pois os ovos que elas põem mal pagam as rações e além das rações ainda têm de comer outras coisas, entre as quais muita verdura. Estas galinhas comem couves que se fartam e por isso mesmo plantei também mais duas centenas de couves galegas, também conhecidas por couves serranas, que são umas plantes que crescem bastante e durante vários meses produzem muitas folhas que se vão colhendo quando já estão bem desenvolvidas. É também com este tipo de couve que se prepara o famoso e apreciado caldo verde, havendo neste caso a necessidade de apanhar as folhas num estado mais tenro.

Como já disse um dos trabalhos mais significativos do outono é a apanha da azeitona e, nestas ultimas semanas,
tenho andado envolvido nesse trabalho, que não é uma tarefa muito fácil, sendo feito num tempo em que os dias são muito pequenos, com muito frio e por vezes com chuva, pelo que é preciso aproveitar o tempo ao máximo, começando logo manhã cedo, quando os campos estão na maior parte das vezes cobertos de geada ou encharcados com a chuva ou com o orvalho caído durante a noite. As oliveiras pela manhã estão sempre molhadas o que faz com que a apanha da azeitona pareça um trabalho desagradável de efetuar, mas essa sensação de desconforto desaparece após alguns minutos quando o corpo começa a aquecer com o esforço e também com o entusiasmo em colher os frutos e a certeza da obtenção de um bom azeite.

A apanha da azeitona, em oliveiras situadas em terrenos dispersos ou em pequenos olivais tradicionais, é feita de um modo um tanto anárquico. Contrariamente ao que acontecia há alguns anos atrás, em que se formavam grupos de pessoas onde havia sempre alguém responsável pelo cumprimento de normas inerentes ao bom tratamento das oliveiras, alguém que orientava o serviço, normalmente o patrão ou alguém por ele mandatado, hoje, devido em grande parte à necessidade de arrancar algum rendimento desse trabalho, muitas das vezes não existe qualquer orientação, nem qualquer trabalhador mais especializado no assunto e utilizam-se alguns estratagemas que podem ser considerados polémicos, uma vez que para se fazer a colheita mais depressa ou com mais facilidade se recorre, por exemplo, à poda parcial e antecipada das árvores cortando alguns ramos que, tendo fruto, estão mais altos ou difíceis de alcançar, para que depois em cima dos panos se faça o “repigar” da azeitona. Com a pressa não se verifica quais são exatamente os ramos que se devem cortar e às vezes acontece cortar aqueles que eventualmente poderiam produzir azeitona no ano seguinte. Não quero dizer que isto aconteça sempre, mas sei por experiência própria que assim é e de qualquer maneira a altura certa para podar uma oliveira não é exatamente aquela em que ocorre a apanha dos frutos.

Devido a este facto e principalmente por esta poda ser feita por trabalhadores que pouco ou nada percebem da arte de podar oliveiras, encontram-se árvores de tal maneiras mutiladas que até metem dó. Para além de cortadas em excesso, despojadas de ramos ou pernadas que iriam produzir azeitona no ano seguinte, lamentavelmente continuam a ostentar ramos secos o que significa que aquelas podas foram feitas apenas com o intuito da facilitação do trabalho, por podadores de ocasião.



Duas oliveiras podadas recentemente que contrastam em absoluto
 na qualidade da poda. Em cima trata-se de uma oliveira ainda jovem e
o trabalho foi feito a pensar na colheita seguinte. Em baixo não
parece ter existido esse cuidado.

Não há duas oliveiras iguais e por isso elas devem ser podadas de acordo com a sua idade e o seu estado geral. Em oliveiras decrépitas, com muitas pernadas e ramos secos é aconselhável fazer uma poda mais enérgica, a chamada poda de “arreia”, para provocar o seu rejuvenescimento, mas isso nunca deve ser uma prática habitual e é preciso depois fazer a gestão da sua rebentação, isto é, ir podando levemente a árvore até esta estar com a sua copa bem formada e depois continuar com podas ligeiras, de modo a que uma nova poda de “arreia” ocorra o mais tarde possível.

Quando, há várias décadas atrás, comecei a participar em safras e a podar as primeiras oliveiras, nessa altura também já se faziam as podas na altura da apanha, por uma questão de rentabilidade, claro, mas não havia ainda o “granel” que hoje existe; a oliveira era mais respeitada e o patrão de pé, no solo, e com uma vara na mão apontava-me os ramos que devia cortar. Dizia-me exatamente o ponto onde devia utilizar o serrote e quando entendia que não havia necessidade de cortar mais nada mandava proceder então ao “repigar” ou ao varejo do restante da oliveira. Os ramos que eram cortados não o eram só porque estavam difíceis de chegar e tinham azeitona, mas porque havia necessidade de os eliminar para o bom desenvolvimento e saúde da árvore. Essa aprendizagem não fez de mim um bom podador de oliveiras, mas serviu para praticar essa atividade com um mínimo de conhecimentos e para tratar as oliveiras com a sensibilidade que elas merecem.

No século passado existiam mesmo podadores profissionais de oliveiras. Nesse tempo estas eram muito estimadas e consideradas quase como árvores sagradas. Tinham um grande relevo na economia agrícola e por isso eram podadas por quem percebia do assunto. Para fazer esse trabalho existiam trabalhadores certificados pela Direção Geral dos Serviços Agrícolas, organismo que dependia do Ministério da Economia e que atribuía um Cartão Profissional de Podadores de Oliveiras a quem naturalmente estivesse habilitado a fazer esse trabalho após a frequência e aprovação em cursos onde se ensinava essa arte.
(pode visualizar neste blog um desses Cartões Profissionais)

Mas, nem tudo é mau com os novos processos caseiros da apanha e o tradicional, mas também prejudicial varejo das oliveiras, está agora mais em desuso, utilizando-se o “repigar” da azeitona à mão ou com a ajuda de um pequeno gadanho, o que é benéfico, mas, infelizmente, isso só acontece porque o varejo atirava alguns frutos para longe e que caíam fora dos panais. Ora, agora, já praticamente ninguém apanha a azeitona diretamente do chão, porque não é rentável esse trabalho e não fazia sentido nenhum estar a varejar a azeitona para não ser aproveitada. Ainda se utiliza a vara, mas com mais cuidado, em partes da oliveira em que não é possível chegar de outro modo.

É verdade que a tradicional apanha da azeitona, como atividade de subsistência família,r já não tem a importância de outrora. As safras agora acarretam muitas despesas, entre as quais sobressai a quantia devida aos lagares que exigem o pagamento em dinheiro, contrariamente ao que acontecia no passado em que estes cobravam em azeite o trabalho efetuado. As taxas a pagar vão desde 50 cêntimos a 1 euro, ou mais, por litro e esse valor multiplicado pelos litros de uma safra, que irão, é certo, abastecer de azeite as despensas para um ano ou mais, tem de ser pago de uma vez o que pode ser penoso para muitos orçamentos familiares menos robustos.

É por isso que muitos proprietários de olivais agora oferecem a azeitona para apanhar quem se dispuser a isso. Já não exigem que a distribuição do produto obtido se faça a meias ou a terços em que o dono ficava com um terço e o apanhador com dois. E também aqueles que antigamente contratavam pessoal para a apanha da azeitona agora não o fazem, porque os ganhos não dariam para pagar os salários. A atividade nos moldes tradicionais, agora só se justifica se for feita entre familiares e amigos e em que esses colaboradores de uma safra repartem o azeite entre si, porque os resultados não dão para contratar trabalhadores.

De qualquer modo a apanha tradicional da azeitona, depois de uma época em que foi uma atividade bastante desprezada, em que aconteceu a destruição de muitas oliveiras e em que encerraram grande parte dos lagares por falta de azeitona para moer e consequente desencorajamento para a sua modernização, parece estar a renascer e isso é visível não só pela presença de muita gente nos campos envolvida nessa atividade, mas também na sobrecarga de trabalho nos poucos lagares que se encontram em funcionamento, o que faz com que seja necessário esperar às vezes vários dias ou até semanas por uma vaga para a moagem.

Como já disse, agora praticamente ninguém apanha a azeitona que cai da oliveira para o chão, aproveitando-se apenas a que é recolhida nos panos durante a colheita, mas ainda me recordo quando, nos tempos da minha infância, no final das safras se procedia ao apanho da azeitona, não da que caía para o chão na altura do varejo das oliveiras, porque essa era apanhada na altura, mas daquela azeitona que ficava de algum modo esquecida ou escondida pelas ervas nos olivais. Chamava-se a essa atividade o “rebusco da azeitona” e era um trabalho bastante penoso e muito pouco produtivo, feito pelas pessoas mais necessitadas que não tinham oliveiras e procuravam desse modo conseguir algum azeite para ajudar o seu escanzelado orçamento familiar. Ainda me lembro daquelas tardes frias de inverno em que eu próprio buscava o fruto já semi-apodrecido no meio das ervas, com os dedos enregelados…

No meio das ervas daninhas,
Apanho a azeitona meio apodrecida.
A sua seiva vai escorrendo
Por entre os dedos gelados,
Destas mãos tão pequeninas.

O balde nunca mais enche?
Quando é que regresso a casa?
Ainda não apanhei meio alqueire,
Nem sequer uma quarta rasa!...

Vou para casa, são horas de regressar…
Amanhã apanho mais,
Tenho de encher um alqueire,
Para depois o trocar.

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6 comentários:

  1. Imagino que deve ser mesmo muito trabalhoso ... considerando o quanto pode custar um bom azeite, dá para entender a razão.
    Muito legal esse trabalho seu meu amigo, e se voce fabricar o seu azeite, gostaria de ver fotos e uma publicação sobre o processo, acho que deve ser interessante!
    Boa semana e beijinhos.
    tin

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    1. Olá, amiga Cintia!
      De facto é muito trabalhoso, mas depois dá gosto saborear um bom azeite.
      Quanto à sua sugestão, ela é muito boa, mas este trabalho foi feito em parceria com uns amigos e não fui eu que fui ao lagar tratar do fabrico do azeite, pelo que não tenho fotos, mas, mesmo assim, talvez venha a falar do assunto aqui no blog.
      Beijinhos e bom fnal de semana.

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  2. Caro Senhor, muito apreciei o seu texto com informações muito interessantes para quem, como eu, é um ignorante nestas matérias. Gostaria, por isso, de lhe pedir a sua opinião sobre o seguinte:
    no Minho, tenho meia dúzia de oliveiras. Devido à minha ausência (trabalho) as árvores estão abandonadas. Imensos ramos ladrões, alguns com as proporções de jovens árvores, são um denominador comum. Não conheço ninguém que saiba fazer uma poda adequada. O que me aconselha? Fico muito grata se me puder responder para o meu mail delcourt.ecomuseu@gmail.com. Tenha um bom Ano Novo! Maria Delcourt

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    1. Boa noite Maria Delcourt. Obrigado pelo comentário.
      É muito difícil, sem ver as oliveiras, opinar sobre a melhor forma de fazer o seu tratamento, no entanto pela sua descrição, as árvores devem estar a necessitar de uma poda enérgica para provocar o aparecimento de nova rebentação e o seu consequente rejuvenescimento. Quanto aos ramos ladrões de que fala penso que se refere àqueles rebentos que aparecem na base do tronco. Se algumas oliveiras estiverem muito decrépitas poderá, eventualmente, ser melhor ponderar o corte do tronco pela base deixando que alguns rebentos se desenvolvam e formem uma nova árvore.
      É tudo o que lhe posso dizer por agora.
      Um Bom Ano Novo também para si, com muita saúde.
      José Alexandre Henriques

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Dedico-me ao trabalho sanzonal de apanha de fruta (pera, uva, azeitona, maça e outras),poda e limpeza de arvores, terrenos baldios e agrários, plantação, rega e apanha de produtos horticulas em céu aberto e estuas------meus contactos são o telemóvel 915664622 e o e.mail trabalho.sanzonal@hotmail.com

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