Vila Franca de Xira, terra de toureiros
No passado mês de Julho, fui a Lisboa para visitar os locais que costumava frequentar durante o tempo em que estive a cumprir o serviço militar no Ministério da Marinha, tendo feito o relato dessa visita no meu artigo “Visita a Lisboa”. Nesse dia, em Santa Apolónia, comprei um bilhete para um comboio regional e saí em Vila Franca de Xira para dar uma volta pela cidade e matar saudades, pois desde que ali estive durante o ano de 1972, nunca mais lá tinha voltado.
Inicialmente não notei grandes mudanças na cidade, no percurso entre a estação e o Grupo 1, à excepção de alguns monumentos de homenagem aos toureiros, que não existiam na altura, mas que agora ali estão a fazer notar que Vila Franca é em primeiro lugar uma terra ligada às actividades taurinas, mas que em 1972 poderia ser considerada também uma terra de marinheiros. Na altura, nas ruas de Vila Franca circulavam muitos militares da Marinha fardados, mas naquele dia, como também sucedera em Lisboa, não vislumbrei nenhum, apesar do complexo militar apenas ter encerrado totalmente no dia 31 de Agosto.
Monumento de homenagem ao forcado
Foi após ter passado pela praça de touros e chegado ao Parque do Cevadeiro (penso que é assim que se chama), que comecei a notar algumas diferenças, a começar pelo próprio parque que em 1972, se a memória não me falha, era apenas uma área de terra batida e algumas árvores, mas que agora tem muito boas condições para lá se poderem passar algumas horas de lazer.
Neste parque encontra-se agora uma estrutura que a principio não consegui entender para que servia, mas após uma observação mais aprofundada verifiquei que se trata de uma passagem pedonal, superior à via-férrea, dando, portanto, acesso à margem do rio Tejo. Naquele momento lembrei-me do apeadeiro da Quinta das Torres, dos terrenos e do canavial que existiam junto à linha e às traseiras do Grupo 1. Movido pela curiosidade de ver como é que aquilo estaria por lá, resolvi subir as escadas da estrutura e ir até ao outro lado. Já no cimo da passagem e antes de iniciar a descida para junto do rio, sentei-me no cimo das escadas para descansar e poder apreciar a bela paisagem que dali se avista, tendo verificado que junto ao rio foi construída uma pista ciclo-pedonal, que já vinha do lado de Vila Franca e se estendia para as bandas de Alhandra.
A excelente pista ciclo-pedonal
Desci as escadas e comecei a caminhar pela pista em direcção à Quinta das Torres. É um percurso muito agradável e a espaços encontram-se mesmo à berinha do rio óptimos sítios preparados com bancos para se poder descansar e apreciar a beleza da paisagem ribeirinha, que incluem até alguns varandins sobre as águas. Quando cheguei ao apeadeiro e à zona das escolas, verifiquei que o canavial tinha desaparecido, o que não é motivo de admiração dada a grande distância temporal a que se encontra o ano de 1972. De facto aquela zona está bastante modificada para melhor e aquela excelente pista prolonga-se até junto da fábrica de cimento de Alhandra. Enquanto observava estes pormenores vieram-me à lembrança alguns episódios caricatos por que passara quando estava no Grupo 1. Quem é que ali esteve naquela altura e não se lembra do canavial ou as “canas” como era mais conhecido aquele local, e as actividades que ali se desenrolavam? Para as canas vinham senhoras aos fins-de-semana, exercer a mais antiga profissão do mundo em condições bastante degradantes. As autoridades da Marinha procuravam expulsá-las dali e para isso era feita vigilância que era denominada de “Ronda à Linha”, por um marinheiro e dois grumetes, mas não creio que isso fosse suficiente. Eu próprio cheguei a fazer esse serviço e lembro-me de episódios rocambolescos que por motivos óbvios não vou aqui descrever, mas que fazem parte das minhas memórias e de uma juventude irreverente e despreocupada.
Neste local, entre o rio e a linha do caminho-de-ferro, existe uma área relativamente grande que ainda é considerada zona militar. Ainda aqui se encontra um barracão que se não me engano servia para dar aulas sobre matéria relacionada com a especialidade de condutores de máquinas, penso que se tratava de algo sobre formação de vapor, ou coisa do género.
Recentemente fiz algumas pesquisas sobre a pista ciclo-pedonal que aqui foi construída e descobri que ela foi assente sobre terrenos conquistados ao rio, através de aterros, à excepção de 300 metros onde foi implantada sobre solo já existente. Embora não seja especificado esse local, não é difícil de adivinhar que foi nesta área da Quinta das Torres, devido a uma maior abundância de terreno entre a linha e o rio.
Recentemente fiz algumas pesquisas sobre a pista ciclo-pedonal que aqui foi construída e descobri que ela foi assente sobre terrenos conquistados ao rio, através de aterros, à excepção de 300 metros onde foi implantada sobre solo já existente. Embora não seja especificado esse local, não é difícil de adivinhar que foi nesta área da Quinta das Torres, devido a uma maior abundância de terreno entre a linha e o rio.
O apeadeiro da Quinta das Torres e o Grupo 1
Regressei ao Parque do Cevadeiro, após o que me dirigi até à entrada principal das Escolas, onde tirei algumas fotos, mas não pedi para entrar, pois a tarde já ia adiantada e estava bastante cansado. Pensando também que aqui as regras seriam as mesmas que vigoravam no edifício da Administração Central, onde apesar da minha insistência me foi impedida a entrada, resolvi encetar o caminho de regresso à estação e a casa. Naquele dia ainda não sabia que o quartel iria encerrar e pensei que podia ali voltar noutra altura, com mais tempo. De qualquer modo espero poder lá voltar um outro dia, antes que aqueles edifícios sejam todos demolidos, porque infelizmente, me parece ser esse o seu destino mais provável.
Saudades dessa Escola.
ResponderEliminarTemos que nos encontrar um dia. Agora que descobri alguns filhos da Escola, vou estar atento aos encontros. Se souberes de algum, avisa.
Um abraço.
Victor Gil