PORTEFÓLIO REFLEXIVO DE APRENDIZAGEM

No dia 25 de Maio deste ano, fui presente a júri para apreciação do meu processo de RVCC Escolar de nível secundário. Hoje completam-se exactamente seis meses após essa data. Em jeito de comemoração vou aqui fazer um pequeno balanço dessa etapa da minha vida que durou nove meses.


O meu principal objectivo, quando iniciei o processo RVCC Escolar NS, era a aquisição de mais qualificações e valorização pessoal para poder estar preparado para uma possível progressão na carreira profissional. Com a actual situação laboral do país e, especialmente da Função Pública, é pouco provável que o aumento das minhas qualificações venha a ter reflexos na carreira, pelo menos a curto ou médio prazo. No entanto é sempre bom estar preparado para o futuro e para enfrentar novos desafios que possam surgir.

Agora, passados exactamente seis meses após a conclusão desse processo vejo que, afinal, ele é muito mais do que apenas um meio para se conseguir um diploma do 12º ano. De facto, a elaboração do Portefólio Reflexivo de Aprendizagem constituiu para mim um enorme enriquecimento cultural, aliado a um aumento de prática de trabalho com as tecnologias de informação e comunicação. Desde a conclusão do 9º ano e do Dossier Pessoal, em 2003, que, apesar de pelo meio ter participado em algumas acções de formação, o meu gosto pela escrita estava um pouco adormecido, mas agora foi novamente desperto, sendo a criação do meu blogue uma prova disso mesmo. Com este processo fui “obrigado” a escrever sobre passagens da minha vida pessoal e profissional, recordando assim vivências e factos passados, alguns muito agradáveis, outros nem tanto, mas todos geradores de aprendizagens. De resto creio que este processo se adaptava muito bem a mim, por um lado devido ao meu percurso profissional extenso que abrangeu diversas áreas de trabalho e, consequentemente, uma história de vida também longa e recheada de bons motivos para aprendizagens, por outro lado por ser possuidor, julgo eu, de alguma capacidade de expressão escrita e também de alguma cultura geral.

Penso, pois, que a obtenção do 9º e também do 12º anos, através do processo RVCC é o justo reconhecimento da competência e do valor de todas as pessoas que, como eu, não tiveram possibilidades de estudar, devido a dificuldades económicas e que tiveram de ingressar precocemente no mundo do trabalho, fazendo deste a sua Escola.

Sei que há sectores da sociedade que criticam esta forma de conseguir habilitações, esquecendo-se dos enormes conhecimentos que se adquirem no exercício de trabalho efectivo, existindo pessoas com apenas o ensino primário a executar tarefas de grande exigência e responsabilidade e até cargos de chefia, que conseguiram por mérito próprio. Eu, que trabalhei durante quase trinta anos em empresas privadas, tenho pleno conhecimento disso.

Tinha, de início, a intenção de elaborar o Portefólio recorrendo à descrição das aprendizagens conseguidas ao longo do meu percurso de vida, sem efectuar grandes pesquisas em meios audiovisuais. No entanto depressa verifiquei que para o tratamento de alguns temas, era inevitável a consulta de livros e sobretudo da Internet, devido à sua complexidade e também de em algumas passagens da minha vida, como o serviço militar, não ter sido demonstrado, numa primeira apreciação ao meu trabalho, que aí existissem evidências de competências, o que me deixou bastante desiludido.

Foi por esse motivo que após o conhecimento do resultado dessa primeira apreciação, senti algum desânimo, tendo até chegado a ponderar uma possível desistência do processo. Decidi continuar tendo passado alguns dias a reflectir sobre a melhor forma de apresentar os trabalhos, tendo decidido fazer um estudo profundo do referencial de competências-chave, tentando compreendê-lo melhor, para então delinear uma estratégia. Resolvi então passar a fazer uma pesquisa e estudo intensivo de alguns temas, através da consulta de alguns livros e, sobretudo, de páginas electrónicas, através deste meio poderoso de comunicação que é a Internet.

Foi desta forma que consegui fazer a descodificação de algumas unidades de competência e também obter conhecimentos sobre as mesmas, tentando sempre fazer a conjugação e enquadramento da minha história de vida nos temas pesquisados.

Acho que estas consultas foram, além de indispensáveis para o fim em vista, também muito úteis, pois para além de um aumento do saber permitiram que ficasse com uma maior agilidade na prática de navegação e pesquisa na Internet. Sendo assim tenho de considerar que esta mudança de estratégia foi muito benéfica achando, no entanto, que alguns dos factos narrados no meu primeiro trabalho, foram bastante desvalorizados.

Outra estratégia que utilizei foi a de impor a mim próprio objectivos diários de trabalho, de acordo com o que em dado momento estava a fazer, como por exemplo: a finalização de um tema ou de um núcleo, ou a produção de uma ou mais páginas de texto, não olhando para o relógio, o que originou que algumas vezes ficasse a trabalhar muito para além da meia-noite.

Resolvi também voltar a entregar trabalhos para apreciação apenas quando tivesse abordado todos os núcleos e, dentro destes, o maior número de domínios de referencia possíveis. Achei que não fazia grande sentido escrever sobre um qualquer tema e entregá-lo para apreciação, o que certamente iria tornar o processo muito mais demorado, apesar de saber que corria o risco de poder ter mais trabalho, caso as coisas não corressem bem.

Não quero falar de falta de tempo para a elaboração do Portefólio, pois apesar de ter uma vida pessoal algo intensa, resolvi o problema abdicando de algumas coisas menos importantes, como ver televisão à noite ou dar alguns passeios aos domingos à tarde, pois foi nestes períodos que fiz a maior parte dos trabalhos, tendo tido a vantagem de ser numa altura que coincidiu com o Outono e Inverno o que, de alguma forma, me deixou mais tempo livre para o efeito.

De resto, sou da opinião de que para se conseguir produzir algo positivo na vida é preciso existir força de vontade e também fazer escolhas, pois as coisas não acontecem por acaso nem caem do céu e eu, quando tenho a realização de um trabalho em mãos, vivo com intensidade a sua realização, o que me tem causado alguns dissabores, devido ao grande apego ao mesmo, o que faz com possa, eventualmente, descurar outras coisas também importantes.

Procurei abordar dentro de cada núcleo, se não os quatro, pelo menos três domínios de referência em cada área de competência, tentando atingir sempre o nível de complexidade tipo III, o que, no meu entender, só poderia ser alcançado com o relato de experiências efectivamente vividas e intervenção prática de modo a evidenciar competências de acordo com os critérios de evidência.

Neste contexto penso que tinha boa capacidade de resposta para os três níveis de complexidade exigidos excepto, talvez, no núcleo Saberes Fundamentais, devido ao seu aparente elevado grau de dificuldade. No entanto quando me debrucei mais profundamente sobre ele verifiquei que, afinal, também aqui tinha factos da minha vida que se enquadravam perfeitamente no tipo de competências exigidas. Curiosamente este foi até um dos núcleos em que gostei mais de trabalhar, após ter desfeito as incógnitas iniciais.

Penso também que os domínios de referência, dentro de cada núcleo, acabavam por ter sempre algum elo de ligação, que abarcava não só as áreas de competências de STC e CLC, mas se estendia também, nalguns casos, à Cidadania e Profissionalidade, pelo que tentei explorar um pouco esse facto, o que fez com que, quando abordei esta área, já tivesse algum trabalho produzido que podia ir de encontro às exigências de algumas dimensões de competência exigidas.

Além do Portefólio em suporte digital e também em papel, em forma de livro, com 335 páginas e 136 imagens, elaborei um trabalho em PowerPoint, com 43 diapositivos, com imagens e texto e diversas animações, de que fiz uma apresentação na sessão de júri, com cerca de 15 minutos de duração. A este trabalho adicionei alguns trechos musicais, escolhidos de acordo com o meu gosto pessoal, mas de modo a enquadrarem-se no seu conteúdo. O Portefólio em papel, do qual fiz eu próprio a encadernação e também o PowerPoint, apesar de serem facultativos e de não contarem para atribuição de créditos, são para mim de um imenso valor, pois marcam uma etapa da vida que irá ser sempre recordada com nostalgia.

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3 comentários:

  1. tambem eu estou no mesmo processo. Iniciei em 07/2009 e estoa agora a frequentar 50 horas de formação em Inglês.
    Apenas tinha o 10º ano, concluido, ha mais de 30 anos e foi ,para mim, uma lufada de ar fresco, este voltar aos bancos do liceu.
    Gosto muito da tua forma de escrever, lê-se com bastante interesse.Quem me dera ,fazer assim uma apresentação do meu trabalho quando for a juri mas.. não me parece pois vejo-me muito dividida com variadíssimas tarefas. No entanto a palavra de ordem é " não desistirei"
    Muitos parabéns!

    Ana Isabel

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  2. Cara amiga:
    Agradeço a visita e as palavras amáveis que me dirigiu.
    Como está a fazer formação em inglês presumo que já estará numa fase adiantada do processo. Não pense nunca em desistir, pois chegar ao fim e obter a certificação é muito importante, não só para a nossa própria auto-estima, mas também para enfrentar futuros desafios que possam surgir. Eu aprendi imenso com este processo, principalmente na área das T.I.C. e, por esse motivo, criei este blogue para manter vivo o gosto pela escrita e para ir aprendendo mais sobre computadores e Internet, uma área indispensável nos tempos que correm.
    Desejo-lhe muita sorte!
    José Alexandre

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  3. Olá, estou em processo de RVCc secundario e estou com dificuldades em relação ao capitulo das projeções de futuro. Não sei por onde começar a escrever. Alguém me pode ajudar? Se puderem me responder podem fazê-lo pelo meu email? ina_silva@live.com.pt

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