A minha saída do serviço militar aconteceu numa altura em que era muito difícil arranjar trabalho, mas mesmo assim não era uma tarefa tão complicada como agora, porque se houvesse vontade de trabalhar sempre se conseguia algo. Decorria o ano de 1976 e os efeitos da revolução de Abril começavam a fazer-se sentir no que dizia respeito a melhoramentos no modo de vida das populações, com a efectivação de obras públicas como o abastecimento de água e saneamento básico. Depois de várias tentativas falhadas para conseguir emprego na área de escritórios, que tinha sido a minha ocupação imediatamente anterior ao meu ingresso na Armada Portuguesa e um pouco já em desespero de causa, pois via o tempo a passar sem conseguir uma colocação, resolvi, uma bela manhã, dirigir-me a um empreiteiro que se encontrava a construir a rede de saneamento e a proceder também à colocação de novas tubagens de água para abastecimento público, na minha terra, para tentar conseguir trabalho naquela área, apesar de ser uma actividade muito diferente daquela a que me tinha habituado nos últimos anos, não só na vida civil, mas também no serviço militar.
Quando pedi trabalho, a resposta que obtive da boca do próprio patrão foi, quando comparada com o que normalmente acontece nos dias de hoje, absolutamente surpreendente:
- Podes vir já amanhã, se quiseres!
Entusiasmado com aquela resposta tão pronta, sem hesitações e sem que me tivessem questionado sobre fosse o que fosse, resolvi, ansioso como estava por começar a trabalhar, tentar antecipar ainda mais o meu início de funções e retorqui:
- Com certeza que quero, e até posso vir já da parte da tarde, se não se importar!
- Está bem, está bem… podes vir da parte da tarde.
Creio que um diálogo destes nos tempos que correm e em relação à obtenção de trabalho, seja de que tipo for, deve ser completamente impossível, se bem que aquele não fosse propriamente um trabalho muito procurado, devido principalmente à sua dureza, dureza essa que senti na pele durante cercas de dois anos, que foi o tempo em que trabalhei naquela empresa.
Os primeiros dias foram terríveis. Sem qualquer experiência nem calo para aquele trabalho, foi forçosamente uma adaptação muito difícil, numa altura em que havia uma grande exigência em termos de produtividade, existindo apenas a pausa para o almoço e, se a meio da manhã quisesse comer um pão, por exemplo, esse pão tinha que ser guardado no bolso e ir dando umas trincadas de vez em quando, porque não se podia parar de trabalhar.
Outra grande dificuldade deste serviço eram as condições atmosféricas, porque com calor ou com frio, a chover ou a fazer sol, o trabalho tinha que ser feito e havia dias em que, devido à chuva, tinha que ter o fato impermeável vestido durante todo, ou quase todo o dia, por vezes dentro de valas e com lama por todo o lado. Ao invés, no verão, era o sol o grande castigador que, por vezes, não dava tréguas, obrigando a ingerir grandes quantidades de água, que depressa era expelida em enormes gotas de suor que brotavam da pele curtida pelo astro-rei.
Mas o mais curioso é que depois de vencidas as dificuldades iniciais, senti-me muito bem a fazer aquele trabalho; a pá e a picareta passaram a ser manejadas com uma grande destreza e com o corpo já habituado à dureza do serviço tudo era de uma grande facilidade, que ainda era mais real devido à franca camaradagem que existia entre o pessoal da empresa, que provavelmente não existe noutros trabalhos supostamente de natureza mais intelectual.
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Verdade seja dita, esse trabalhador é um lutador nato!
ResponderEliminarParabéns caro amigo, sua história de vida é composta de lutas e perseverança!
beijinho e Boas Festas !
Cintia ( Tin )
É com muito amor e carinho,
ResponderEliminarQue venho através desta pequena mensagem , desejar que tenhas um NATAL MARAVILHOSO!!
Que no seu lar, Reine a paz,o amor,e a união!!
Que seja um natal de muitas alegrias,
E que o Menino Jesus...
Abençoe você e toda sua família.
E que todos tenham um Ótimo Natal e um Ano Novo muito melhor!!
Mais uma estória de vida, desta vez da sua, que li e compreendi.
ResponderEliminarVenho aqui para desejar que o novo Ano nos traga discernimento, mudanças de atitude, sabedoria e solidariedade não de massas, mas individual. Dizem que novos ventos de mudança se avizinham, desta vez não de bonança, mas de tempestade.
Utilizando uma linguagem marinheira, saibamos virar as velas a nosso favor, para uma viagem de rumo certo.
Feliz Ano Novo.
Um abraço.
Guidinha Pinto