A finalidade do cimento é ligar entre si superfícies ou formar uma massa monolítica com partículas pequenas como as de areia ou cascalho. Embora o cimento Portland seja somente uma das classes de cimento que se conhece, é a mais importante para a construção devido à sua resistência e durabilidade. É empregado fundamentalmente em concretos e argamassas, devendo o seu nome “Portland”, ao seu descobridor, um pedreiro de nome Joseph Aspdin, que pensou que o seu aspecto era muito semelhante às rochas da região de Portland, na Grã-bretanha.
O cimento Portland é fabricado com pedra calcária e argila. A mistura é calcinada e o clínquer que daí resulta moído e convertido em pó. O processo de fabricação pode ser dividido em três etapas principais: a preparação das matérias-primas, a sua calcinação em fornos especiais e a moagem do clínquer para se obter o cimento em pó.
O cimento é um produto ao qual tenho estado ligado ao longo de vários anos devido não só ao meu percurso profissional na construção civil, mas também na vida pessoal, pois sempre gostei de fazer por mão própria pequenos trabalhos nesta área, para além de outros projectos de maior dimensão como a minha casa ou a minha pequena “quinta ecológica”. Posso dizer, sem exagero, que pelas minhas mãos já passaram muitos milhares de sacos, ainda na altura em que o seu peso era de 50 kg e era descarregado dos camiões de forma manual e transportado às costas para o local de armazenamento, o que provocava graves problemas na coluna vertebral. Entretanto, o seu peso foi diminuído e hoje os sacos já não ultrapassam os 35 kg, tornando mais fácil o seu manuseio, para além de outras melhorias nas condições de trabalho como o seu descarregamento e transporte em obra que agora, em grande parte, é feito com gruas ou empilhadores.
O cimento é, nos dias de hoje, um material indispensável em quase todos os trabalhos de construção e também um dos mais importantes e, talvez por isso, a indústria cimenteira seja uma indústria em expansão em muitos países e também em Portugal, onde se tem falado na implantação de novas fábricas, nomeadamente nas zonas de Figueiró dos Vinhos e Rio Maior.
A fábrica de cimento de Souselas |
Nos últimos anos tem existido alguma polémica envolvendo as cimenteiras, devido a tão propalada co-incineração de resíduos industriais perigosos nos fornos de cimento, principalmente nas fábricas da Cimpor de Souselas e da Secil no Outão. Esta polémica, que se tem arrastado ao longo de vários anos, com intensidade variável de acordo com a cor política dos governantes, parece agora ter terminado, ou pelos menos estar adormecida, pois já há vários meses que não se ouve falar em tal coisa.
Nunca trabalhei em nenhuma fábrica de cimento, no entanto no meu percurso profissional constam alguns anos de laboração num forno de cozedura de matérias cerâmicos e embora não se possam fazer grandes comparações com os fornos de cimento, o certo é que tanto nuns como noutros é necessário alimentá-los com algum tipo de combustível para que as suas altas temperaturas possam ser atingidas e mantidas. Esse combustível constitui uma das maiores se não mesmo a maior despesa da produção e por isso as empresas procuram sempre fazer funcionar os fornos com os produtos que possam ter a melhor relação entre preço e capacidade para produzir calor. É evidente que os resíduos industriais perigosos se forem de natureza a poderem ser queimados, ajudando a alimentar os fornos com custos mais reduzidos, os responsáveis pela produção terão isso em conta, pois a viabilidade e lucro das empresas estão sempre em primeiro lugar, relegando para segundo plano eventuais prejuízos ambientais.
Ramal ferroviário da cimenteira |
O prefixo co- significa “a par” ou “em simultâneo” quando o segundo elemento tem vida autónoma, o que quer dizer que a incineração de resíduos perigosos será feita juntamente com outros produtos numa percentagem variável, possivelmente de acordo com factores como os stocks de combustível e as suas características.
Os resíduos orgânicos incineráveis farão assim parte do ciclo da produção de cimento, essencialmente para servirem como combustível de alimentação dos fornos, e mesmo que as cinzas desses resíduos possam ser integradas no produto final, pode considerar-se esse processo como aceitável e até vantajoso em relação à sua queima numa incineradora construída propositadamente para esse fim, uma vez que sendo a incineração a melhor solução, em princípio, para o problemas dos resíduos, a sua queima nas cimenteiras tem a vantagem do seu aproveitamento energético, o que não aconteceria noutras incineradoras e a poluição ambiental seria a mesma.
Uma antiga "Bedford" a embelezar a entrada da instalações |
Quanto aos resíduos não passíveis de serem utilizados como combustíveis e que, podem eventualmente ser utilizados como matéria-prima, misturados com os produtos tradicionais como calcário, argila e outros, parece-me uma ideia bastante chocante e, possivelmente, um processo bastante tóxico e até repugnante bastando imaginar, por exemplo, os trabalhadores da construção civil que lidam diariamente com o produto e que muitas vezes, por força das circunstâncias, inalam pó de cimento, que assim estariam a ser contaminados com os resíduos, mesmo sabendo-se que eles foram anteriormente submetidos a temperaturas que rondam os 2000 graus.
Mas a verdade é que o alarido sobre a queima de resíduos tóxicos parece, por agora, ter terminado e, talvez movido pela curiosidade de saber como é que estão as coisas, resolvi no passado domingo ir até Souselas, para ver a cimenteira de perto e tentar saber se, afinal, se está a fazer ou não, a tão famosa co-incineração.
Por ser domingo não havia qualquer movimento junto às instalações da fábrica e, talvez também por isso, apenas saía fumo por uma das suas chaminés mas, no entanto, pareceu-me notar um cheiro característico a queimado, que já é com certeza habitual nas proximidades das instalações da cimenteira.
Vagões carregados com cimento |
Subi até junto do cemitério da pequena vila, local de onde se pode observar o ramal ferroviário da fábrica, onde se encontravam muitos vagões carregados com sacos de cimento e outros com silos próprios para o transporte de cimento a granel para além de uma imensidade de paletes com sacos com o produto pronto a sair e a ser utilizado em trabalhos de construção.
Foi nesse local que contactei uma senhora, habitante da vila, à qual perguntei se, afinal, se estava ali a fazer, ou não, a queima de resíduos perigosos. A resposta foi pronta mas pouco esclarecedora: - Nós pensamos que não, mas não temos a certeza!
A antiga fábrica de cal de Coimbra. Produzia cal hidráulica da marca "Rochedo" |
Andei mais algum tempo a deambular por ali, até que resolvi encetar o caminho de regresso a Coimbra passando por Brasfemes. Nesta direcção, já bastante afastado de Souselas, mas ainda junto à vedação dos terrenos da cimenteira, passei junto às ruínas de uma antiga fábrica de cal. Uma placa enferrujada num dos edifícios arruinados identifica essas instalações como sendo a Fábrica de Cal de Coimbra que produzia a cal hidráulica “Rochedo”. Os fornos com as suas chaminés piramidais dão àquele conjunto de ruínas um aspecto misto de história e mistério. Essa fábrica encontra-se dentro da vedação dos terrenos da fábrica de cimento, classificados como pedreira, e talvez tenha sido uma antepassada com laços muito directos à actual cimenteira.
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J. Alexandre, voce poderia ser detetive , não achas?
ResponderEliminarRealmente leva a fundo a pesquisa, e mais uma vez conseguiu uma publicação muito interessante!
Até eu que não tenho intimidade nenhuma com esse assunto, li até o final.. ótimo texto amigo!
beijinho da Tin
Cintia ;)
Boa tarde Amigo Alexandre
ResponderEliminarMuito interessante este trabalho sobre o cimento.
Curiosamente e entre várias das minhas actividades, estive já por várias vezes na Fábrica de cimentos da Cimpor em Alhandra a dar formação na área do Socorrismo, e cada vez que lá vou fico a saber algo mais.
Por exemplo fiquei a saber que existem 3 tipos de cimento.
Um tipo para a construção de habitações, outro para construção de pontes e infraestruturas similares e outro para a construção de barragens.
Também aprendi que o cimento leva cerca de 50 anos a endurecer, o que daí se concluí que a sua resistencia e solidez vai aumentando com o passar dos anos.
Quem passa na A1 nessa zona vê uma passadeira rolante que transporta do alto da serra os calhaus em pedra que depois são moídos na Central da Cimpor até ficarem reduzidos a pó ao qual chamam farinha, e daí obtem o cimento.
Como curiosidade, tenho comigo alguns fosseis de peixes e crustaceos que me foram oferecidos por operários que os retiram da zona de extracção da pedreira no alto de Alhandra, o que prova que aquele local já esteve coberto pelo mar.
Um abraço.
Camilo