Iniciei o meu percurso escolar no já longínquo ano de 1961, na Escola Primária de Miranda do Corvo. Esta escola estava situada no edifício onde hoje funciona a Biblioteca Municipal. Este edifício ainda mantém os traços arquitectónicos da antiga escola que, na altura, era um edifício com quatro ou cinco salas de aula, uma cozinha/refeitório, casas de banho e um pequeno espaço exterior para o recreio. As salas e o recreio dos rapazes eram separados do das raparigas, sendo o espaço para o recreio muito pequeno para a quantidade de alunos que frequentavam a escola. Naquele tempo o modo de ensinar, os métodos utilizados e a quase inexistência de materiais nada têm a ver com os dias de hoje. Os livros e os materiais utilizados eram transportados numa pequena bolsa de ganga ou, no caso dos alunos mais abastados, numa pequena pasta de cartão e consistiam numa pedra ou ardósia, (não me recordo de na primeira classe utilizar qualquer caderno), um lápis de pedra, uma caneta de pau, um livro e pouco mais. Neste pouco mais incluo o mata-borrão, utilizado para absorver borrões quando se escrevia com a caneta de pau. Esta caneta não tinha depósito de tinta; para escrever ia-se molhando o bico no tinteiro existente na carteira onde se sentava o aluno.
Os professores eram muito exigentes e não admitiam qualquer falta de respeito ou mau comportamento dos alunos. Creio que por vezes exageravam nos castigos aplicados aos alunos. Senti na pele a dureza desses castigos, apesar de ser um aluno sossegado e relativamente bem comportado, que até aprendia com alguma facilidade. Mas os tempos eram outros, vivíamos em pleno Estado Novo e creio que a orientação do ensino era de algum modo influenciada por esse facto.
Recordo a minha passagem pela escola primária, como uma fase importante da minha vida onde, em escassos quatro anos, se preparavam cidadãos para enfrentar o futuro porque a grande maioria, devido à falta de meios, terminava aqui os seus estudos. Foi o que aconteceu comigo porque, como fazia parte de uma família com fracos recursos económicos, tive que abandonar a escola quando concluí a 4ª classe e integrar o mercado de trabalho, para ajudar ao sustento da família.
Artigos relacionados:
O regresso à Escola Primária
7 de Outubro
Os professores eram muito exigentes e não admitiam qualquer falta de respeito ou mau comportamento dos alunos. Creio que por vezes exageravam nos castigos aplicados aos alunos. Senti na pele a dureza desses castigos, apesar de ser um aluno sossegado e relativamente bem comportado, que até aprendia com alguma facilidade. Mas os tempos eram outros, vivíamos em pleno Estado Novo e creio que a orientação do ensino era de algum modo influenciada por esse facto.
Recordo a minha passagem pela escola primária, como uma fase importante da minha vida onde, em escassos quatro anos, se preparavam cidadãos para enfrentar o futuro porque a grande maioria, devido à falta de meios, terminava aqui os seus estudos. Foi o que aconteceu comigo porque, como fazia parte de uma família com fracos recursos económicos, tive que abandonar a escola quando concluí a 4ª classe e integrar o mercado de trabalho, para ajudar ao sustento da família.
Artigos relacionados:
O regresso à Escola Primária
7 de Outubro
Muito interessante, lol. O mais interessante é que isso agora é uma Biblioteca Municipal... :) Boa continuação de um bom trabalho aqui no blog... Beijinhos e abraços **
ResponderEliminarAmigo José Alexandre
ResponderEliminarao ler os seus textos sobre a Escola Primária, revejo-me neles e não foi sem alguma emoção que revivi tudo o que fielmente retratou. Tanto no que se refere á Escola como aos métodos de ensino.
Afinal de contas o país era o mesmo, e fosse no norte ou no sul afinávamos todos pelo mesmo diapasão.
Para os meninos do nosso tempo a dureza era desproporcionada, como se não bastasse a dureza da vida, porque também nesse tempo passei privações, tínhamos de suportar a dureza imposta pelos professores insensíveis ás classes mais pobres.
Sim, porque se na mesma aula existissem filhos de gente abastada e de renome, embora pouco inteligentes, o tratamento era outro. Os ricos ficavam na fila da frente, os remediados ao centro, e os pé descalço, porque também os havia, eram atirados para as últimas carteiras. Era desumano.
Na minha terra ainda havia outra particularidade, quando era comemorada a data da implantação do Estado Novo, obrigavam-nos a vestir a farda da Mocidade Portuguesa e fazer continencia á bandeira que era içada no mastro da escolinha, de braço levantado, claro.
Recordo-me bem do óleo de fígado de bacalhau, intragável. Dos tinteiros nas carteiras, onde molhávamos os aparos, das reguadas no inverno no nós dos dedos, porque tinhamos frio e não abríamos as mãos, e era aí mesmo que as apanhávamos.
Isso tudo só nos beneficiou numa coisa, deu-nos traquejo e experiencia de vida, mas também foi á custa de sofrimento desnecessário, sofrimento esse que felizmente os nossos filhos não tiveram de passar por ele.
Hoje quando constato o descalabro que grassa no ensino em Portugal, costumo dizer o seguinte:
-Antigamente tínha-mos o Estado Novo, agora temos o Estado a que isto chegou...
Um abraço
Camilo
É verdade amigo Camilo, concordo com tudo o que disse. No Estado Novo o respeito era imposto à custa dos castigos e do medo; depois chegou a liberdade e muitos se têm aproveitado dela para benefício próprio, infelizmente. No ensino actual nem tudo é mau; existem casos de indisciplina por parte de alunos, mas são casos pontuais e agora as réguas já servem para outras coisas!
ResponderEliminarUm abraço e obrigado pela excelente participação.
José Alexandre
Boa tarde, Sr. Alexandre
ResponderEliminarEstava precisamente a pensar na famosa e temida palmatória. Entrei na escola alguns anos mais tarde, mas vivenciei muito do que aqui foi dito.
Lembro-me de como ficávamos em sentido só de ouvir a professora pronunciar a sórdida palavra régua.
Quando o inspector visitava a escola passava a pente fino a secretária da professora na tentativa de encontrar provas de violência sobre os alunos. Era uma tarefa vã. É que nós, os alunos, carregados de vasta inocência, escondíamos, a pedido da professora, esse instrumento de tortura e até suspirávamos de alívio perante a desistência do indesejado inspector.
Um bom fim-de-semana
Maria Gomes