O SERVIÇO MILITAR

O serviço militar foi uma fase muito importante da minha vida. Hoje vou iniciar uma série de publicações onde irei falar de aprendizagens e experiências adquiridas durante a minha passagem pela Armada Portuguesa.
As minhas postagens no blogue não obedecem a uma ordem cronológica de factos, pelo que poderei vir a falar de experiências e histórias de vida acontecidas em datas anteriores. Vou começar hoje por uma pequena introdução.

Durante toda a minha vida sempre fui um sonhador. Na minha infância e adolescência passava muitas horas a ler, embrenhando-me de tal modo nas histórias dos livros que lia, que já não me sentia um leitor, mas sim uma das personagens da história, fazia parte integrante desse livro. Durante vários anos fui um leitor assíduo das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian. Sentia-me feliz quando ia à Biblioteca devolver os livros já lidos, para regressar com outros envoltos em mistérios que iria desvendar até à próxima visita da carrinha.

Acho que a minha juventude foi muito influenciada pela leitura que incutiu em mim um espírito de justiça, liberdade e aventura que tem perdurado ao longo dos anos, que faz de mim uma pessoa irrequieta e sonhadora.
Foi esse espírito de aventura que me levou, quando tinha apenas dezasseis anos, a alistar-me na Marinha como voluntário. A Marinha exercia sobre mim um fascínio imenso; desde muito novo que sonhava ser marinheiro, navegar, conhecer novas terras; a minha mente era um rodopiar fervilhante de sonhos imensos, de projectos sem fim…
A Marinha foi uma passagem indelével da minha vida. Embora não tenha, em parte, correspondido àquela áurea de sonho e mistério que a minha imatura imaginação idealizara, foi um período da minha juventude que antecipou a maturidade, que fez de mim um adulto precoce, com uma enorme vontade de lutar contra as adversidades e injustiças.
Mas a minha passagem pela Marinha também ficou marcada por esse acontecimento histórico que considero um dos mais importantes do século XX, que foi a revolução de Abril de 1974.
Eu estive no meio da revolução, vivi esse acontecimento com enorme emoção e ansiedade, com algum medo, também. Afinal tinha apenas dezoito anos. Mas sentia um enorme orgulho por ser militar, pois esse orgulho era-nos transmitido pelas pessoas que se manifestavam, que nos agradeciam, que nos beijavam…

De facto esse orgulho das pessoas pelos militares foi patenteado de forma inequívoca naquele que considero o dia mais marcante que vivi como militar: o 1º. de Maio de 1974. Foi a loucura total, com as ruas apinhadas de gente, sorrisos felizes no rosto, distribuindo cravos e beijos aos soldados e marinheiros fardados que eram aos milhares misturados com o povo anónimo. Vivia-se um sonho feliz que naquele momento era real. O amanhã viria depois.


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