UMA AVENTURA NA NEVE

O título desta postagem pode sugerir um livro da nossa ministra da educação; por acaso não sei se ela tem alguma obra com este nome, mas para o caso de não ter, deixo-lhe aqui a sugestão para que escreva um livro com este título, que me parece bastante apelativo; o problema é que agora, com as funções que executa, não creio que tenha tempo para escrever, o que é pena.

Mas esta “aventura na neve” foi bem real, eu fui eu o seu protagonista e devo dizer que foi uma aventura um bocado “pesada” para a minha idade. Afinal já não tenho vinte anos…

Hoje, domingo, saí de casa pela manhã, para o meu habitual passeio de bicicleta. O tempo estava frio e a ameaçar chuva pelo que tinha intenção de andar poucos quilómetros e, sendo assim, não me preparei para um trajecto mais longo. Tinha-me afastado de casa cerca de um quilómetro, quando começou a cair alguma chuva misturada com flocos de neve, o que me fez deduzir que a uma altitude mais elevada provavelmente iria nevar a sério. Resolvi então dirigir-me para a serra, para apreciar o espectáculo que são as paisagens serranas cobertas de neve.

A minha intenção era ir pelo menos até ao Gondramaz, uma aldeia serrana que faz parte da rede de aldeias de xisto e fica a cerca de seis quilómetros de Miranda do Corvo; porém, quando iniciei a subida em direcção à Chapinha, estive tentado a voltar para trás, tal era a força do vento acompanhado agora por precipitação de neve já bastante abundante. Sabia que conforme fosse subindo o vento seria cada vez mais forte, no entanto como, naquele momento, soprava no sentido da subida era de algum modo um auxílio pelo que resolvi continuar.

Foi uma subida bastante penosa. A partir da Chapinha, a primeira aldeia que se encontra no trajecto, agravaram-se as dificuldades pois, como a estrada é bastante inclinada e com muitas curvas, o vento nem sempre era a favor e, por vezes, tinha de ir a pé devido às fortíssimas rajadas que faziam vergar os eucaliptos que ladeiam a estrada, de modo assustador.

Quando finalmente cheguei ao Gondramaz a neve tinha parado de cair, mas o vento parecia cada vez mais forte e, por isso, tive alguma dificuldade para conseguir captar as imagens que aqui publico, no entanto lá consegui.
O Gondramaz. O facto de haver pouca neve nos telhados era devido ao vento muito forte que a varria.

Miguel Torga andou por aqui.
O médico Adolfo Rocha exerceu a sua profissão durante alguns anos em Vila Nova
e conhecia bem o Gondramaz.
Só para ler este belo poema, com o branco da neve a colorir as palavras, valeu a pena o esforço da subida.
(Pode clicar na imagem para ampliar e ler o poema, ou fazer a sua leitura em baixo, pois é reproduzido exactamente como está na imagem)


BUCÓLICA
A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de um movimento;
De searas onduladas
Pelo vento.
De casas de moradias
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais.
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
Miguel Torga



Nesta altura hesitei entre continuar a subida em direcção ao cimo da serra, ou regressar pelo mesmo caminho; a prudência dizia-me que devia voltar, no entanto o meu espírito aventureiro falou mais alto e resolvi ir até ao Parque Eólico de Vila Nova, enfrentando a tempestade.
Quando cheguei ao Parque Eólico, em terrenos mais descampados, a fúria do vento fazia-se sentir de forma constante, agora novamente acompanhado pela neve que recomeçara a cair e me fustigava o rosto com violência. A partir deste momento não fazia grande sentido voltar para trás, pelo que decidi ir até ao Alto de Relva de Tábuas, a 940 mts. de altitude, e então descer em direcção a Vila Nova.

O marco geodésico de Relva de Tábuas a 940 mts. de altitude
A descida também não foi fácil e apesar da estrada estar livre de neve, pois esta era varrida para as bermas pelo vento, tive que a fazer a pé até à estrada que segue em direcção a Vila Nova. Perto da povoação de Souravas, encontrei alguns veados que se encontravam calmamente a comer as folhas das silvas na berma da estrada. Pareciam mais calmos do que é costume, pois só se afastaram quando cheguei muito perto deles o que não é muito habitual. Nas Souravas, antes de iniciar a descida para Vila Nova, ainda fui fazer um vídeo de um pequeno gerador eólico que se encontra em funcionamento numa propriedade particular.
Neste pequeno vídeo pode ver-se um aerogerador particular, a girar a grande velocidade, fustigado pelo vento forte e pela neve.

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