O MONTE DE TRÁS DE FIGUEIRÓ

Já aqui falei do Monte Germanelo, onde existe um castelo medieval e do Jerumelo, dois montes unidos por uma curiosa lenda sobre dois irmãos gigantes que eram ferreiros e habitavam cada um em seu monte e que, tendo apenas um martelo, dele se serviam alternadamente, atirando a ferramenta de um monte para o outro.

O Monte Germanelo (à esquerda) e o Jerumelo (à direita).
Estes dois montes situam-se na zona do Rabaçal, uma terra famosa pelos seus queijos, mas também pela sua Villa Romana e por muitos vestígios de povos que outrora habitaram estas paragens. Para além do Germanelo e do Jerumelo, existem na zona outras elevações interessantes como o Monte de Vez, o Monte de Ateanha e o Monte de Trás de Figueiró, do qual me vou ocupar neste artigo.

O Monte de Trás de Figueiró.
O Monte de Trás de Figueiró situa-se junto à aldeia com o mesmo nome e pertence à freguesia de Alvorge, concelho de Ansião. Para quem circula na estrada entre Ansião e o Rabaçal, quando chega à zona do Alvorge avista do seu lado direito este monte e no mesmo alinhamento, para norte, os montes Germanelo e Jerumelo, que formam como que uma guarda de honra que acompanha o viajante até este chegar à terra dos queijos.

Este terceiro monte tem algumas semelhanças na sua morfologia com os montes dos irmãos ferreiros, sobretudo com o Jerumelo, no entanto para que sem der ao trabalho de ir até ao topo dos dois irá notar grandes diferenças, logo a começar pelos acessos que no Trás de Figueiró são bastante mais praticáveis, pois existe uma estrada por onde se pode passar facilmente com um qualquer veículo todo-o-terreno. Mas também a forma do topo é bastante diferente, pois aqui ao contrário do cimo dos outros montes que são de forma cónica, existe uma área com alguma dimensão achatada, quase plana.

Vestígios da existência de um moinho de vento, sendo bem visíveis os sulcos provocados pelas rodas da estrutura.
O cimo deste monte é muito interessante e merece uma visita, pois aqui encontram-se muitos vestígios de actividade humana noutras épocas e até existem suspeitas de ter existido no local uma aldeia castreja. O local é de formação calcária, comum à geologia da zona, ao contrário, por exemplo, da vizinha serra da Lousã onde abunda o xisto e o quartzito. No local encontram-se vestígios claros de ali terem funcionado dois moinhos de vento de tipo giratório, pois ainda se lá encontram os círculos de pedra onde circulavam as rodas das estruturas, estando bem vincado o desgaste provocado por elas.

Um reservatório ou pia escavada na rocha.
Outros vestígios curiosos que encontrei, foram duas pias escavadas por mãos humanas nas rochas calcárias, certamente muito antigas, mas por mais voltas que dê à imaginação ainda não consegui descobrir para que terão servido.

A cruz no monte.
Mas, o que prende imediatamente a atenção do visitante quando atinge o cimo do monte, é uma cruz com cerca de quatro metros de altura que tem gravada a data de 1832. Deverá ser esta a data em que ali foi colocada, não sei com que finalidade e a esse propósito ainda tentei saber algo na aldeia, no entanto o senhor que interroguei não me pareceu muito seguro dos seus conhecimentos sobre o assunto, quando, um pouco hesitante, me respondeu que a cruz estava relacionada com antigas missões efectuadas por padres na zona.

A respeito dos moinhos disse que tinham lá existido três mas a verdade é que só encontrei vestígios de dois. Na povoação de Ateanha situada a poucos quilómetros dali, onde fiz também uma visita, foi-me dito por um habitante, que sabia que tinham existido em Trás de Figueiró alguns moinhos de vento, mas tinha oitenta e três anos de idade e nunca os vira a funcionar.

É uma pena que estes moinhos não tenham sido reconstruídos, como aconteceu noutros locais, pois essas estruturas emprestariam um ar natural à paisagem, recriando o ambiente histórico ali vivido, noutros tempos.

Sinais do presente, que a história do local dispensava em absoluto.
As marcas da modernidade também ali chegaram, infelizmente, pois uma estação de transmissão de rádio que lá foi instalada estraga não só a paisagem do monte, como também interfere com a ambiência do local, destoando completamente do sítio onde foi instalada, isto para não falar dos postes e fios que por ali se encontram em abundância.

Apesar de tudo é um óptimo sítio para ser visitado para quem gosta de descobrir locais pouco conhecidos, mas interessantes do ponto de vista histórico e também de contacto com a natureza, com a possibilidade de apreciação de vistas deslumbrantes.

Pode ler outros artigos do género, listados em Regional Centro.

1 comentário:

  1. O que gostei mais foi a lenda dos dois irmãos ... imagino o martelão voando de um lado para o outro dos dois montes

    =D

    legal essas lendas..
    Boa semana amigo!

    ResponderEliminar