A REVOLTA DOS MARINHEIROS DE 1936

Hoje, dia 8 de Setembro de 2010, passam 74 anos sobre a revolta dos marinheiros de 1936.

O objectivo principal da revolta em que estiveram envolvidos os navios “Afonso de Albuquerque” e “Dão” era passar a barra e, uma vez ao largo, fazer ao Governo de Salazar, um ultimato, para que fossem libertados e reintegrados 17 camaradas, punidos após uma expedição do “Afonso de Albuquerque” a Espanha, em Agosto, pouco depois de ali ter eclodido a guerra civil e também a libertação de todos os camaradas que já anteriormente tinham sido expulsos e presos.

Mas esta revolta estava irremediavelmente condenada ao fracasso, devido a não terem sido previamente assegurados os apoios de oficiais e sargentos e também do Exército e Força Aérea, como foi admitido por um dos chefes da revolta, em entrevistas que a Revista da Armada fez, em três números, a alguns ex oficiais e marinheiros participantes: “Agora tantos anos passados reconheço que, de facto, tal como foi planeada a revolta estava condenada ao fracasso. Naquela idade, porém, víamos tudo cor-de-rosa”. Estes artigos com o título “Conversa entre marinheiros – Histórias que não se podiam contar… A revolta dos navios de 1936 vista e vivida por alguns oficiais e marinheiros que nela tomaram parte”, foram publicados nas Revistas nºs. 34, 35 e 36, em 1974, poucos meses após a revolução de Abril.

O certo é que esta aventura veio a custar a vida a vários marinheiros: doze, segundo notícia do Diário de Lisboa desse dia e apenas seis segundo notícias do dia seguinte, mas outros acabaram por sucumbir nas prisões, para além de muitos anos de desterro a que largas dezenas de jovens foram condenados, na Colónia Penal do Tarrafal em Cabo Verde e noutras prisões e muitas mais consequências dramáticas.

Painel de azulejos em honra de Ismael Fernandes.

Do concelho da Lousã participaram quatro jovens nessa revolta. Um deles, de nome Ismael Fernandes, deu entrada no Hospital de S. José com uma perna esfacelada tendo falecido algumas horas depois, conforme relata o Diário de Lisboa. Outro marinheiro da Lousã, Hermínio Martins, ter-se-á lançado às águas do Tejo e, sob a metralha, conseguido nadar até uma das margens, onde foi capturado. Também no mesmo jornal é feita referência à prisão de Hermínio Martins, um dos revoltosos que foi desterrado para o Tarrafal, de onde regressou passados 14 anos com uma grave doença pulmonar.

Painel de azulejos em honra de Hermínio Martins.

Jorge Antunes dos Santos, foi outro jovem lousanense que participou na revolta e que veio a ser preso e perseguido pela polícia política de Salazar. Mais tarde exilou-se em França, onde veio a falecer.

O quarto marinheiro da Lousã envolvido nos acontecimentos de Setembro de 1936 foi Adelino Mendes, possuidor de uma história de vida fantástica, que há alguns anos foi largamente difundida na comunicação social.

Na casa onde viveu Adelino Mendes encontra-se este painel, para além do outro comum aos quatro marinheiros.
Este antigo marinheiro e antifascista, em 1941 exilou-se em Cuba, tendo participado activamente na revolução cubana e ajudado Fidel Castro a chegar ao poder. Por esse motivo em 1979, foi condecorado pelo governo de Fidel com a Medalha da Luta Clandestina.

A história de Adelino foi contada pela primeira vez em Outubro de 1996, no jornal “O Trevim”, com base em relatos de familiares e cartas enviadas daquele país das Caraíbas.

Foi deste jornal que partiu a iniciativa de uma homenagem conjunta aos quatro marinheiros da Lousã, participantes na revolta, que foi levada a cabo em 2006, por ocasião do 70º aniversário desse acontecimento histórico e que teve o apoio da Câmara Municipal.

Adelino Mendes já tinha sido homenageado, a título póstumo, no dia 16 de Outubro de 1999, com a presença da embaixadora de Cuba, Mercedes Aguiar Pena, que participou na cerimónia de descerramento de um painel de azulejos na casa onde viveu o homenageado.


Páginas do Diário de Lisboa dos dias 8 e 9 de Setembro de 1936, relatando os acontecimentos. Imagens cedidas pelo camarada António Moleiro
Fontes consultadas: Jornais "O Trevim", nºs. 744, 745, 766 e 768.
Revista da Armada nº 35/Agosto 1974.

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relacionados.

9 comentários:

  1. Olá meu amigo, como sempre um ótimo trabalho de pesquisa!
    Lendo esse texto, quando o rapaz fala que , naquela idade viamos o mundo cor de rosa, pensei exatamente isso, que quando somos jovens achamos que o mundo nos pertence e, justamente ai cometemos nossos maiores erros, com sorte às vezes, conquistamos algumas vitórias.
    Mas, o certo é que , a compreensão dos fatos e o aprendizado chegam somente bem mais tarde.

    Aqui do meu lado, hoje estamos comemorando nossa Independência , são 188 anos hoje ;)

    Abraço grande!!

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  2. Parabéns ao país irmão pelos seus 188 anos de independência. Que prossiga o seu caminho, sempre no rumo do progresso, da paz e da liberdade!
    Um grande abraço à amiga brasileira.
    José Alexandre

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  3. Boa Informação citada por sua excelsa pessoa, a pesquisa foi muito bem estruturada e elaborada =).
    Porém, fez-me lembrar a história do meu avô. Esse barco no qual se encontra no jornal fez-me lembrar o Paquete Vera Cruz, não sei se é esse ou não.
    Tenho imagens parecidas aqui no meu álbum antigo de fotografias originais que, levaram vários marinheiros e militares; e outras fotos na Guerra Do Ultramar em conjunto com um diário ainda não revelado por meios de privacidade.

    Boa Semana

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  4. Parabéns amigo José Alexandre, por se ter recordado desta data que foi um marco na história da nossa Armada.
    A propósito deste acontecimento lembro-me que a seguir ao 25 de Abril, foi feita uma comissão para readmitir aos quadros da Marinha os marinheiros revoltosos ainda vivos naquela altura e foram efectivamente readmitidos, tenho uma foto desse acontecimento que tentarei enviar para o seu mail.
    Desconhecia o que a Lousã fez pelos seus herois, é louvável.
    Há pouco tempo foi editado um livro alusivo ao acontecimento.
    Isto é história..
    Parabéns
    Um abraço
    Camilo

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  5. Caro amigo Jorge Palma:
    As fotos do navio que estão no jornal são do aviso "Afonso de Albuquerque" um tipo de navio de guerra que podia desempenhar várias funções. O termo "aviso" era usado como diminutivo de barco de aviso; muito diferente, portanto do paquete "vera Cruz" que foi um navio de passageiros.
    A história do seu avô deixou-me curioso. Ele foi marinheiro?
    Obrigado pela participação e pelas palavras amáveis a respeito do artigo.
    Um bom fim-de-semana.

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  6. Caro amigo Camilo:
    Obrigado por mais este excelente comentário, que é de grande valor para o artigo e também para o blogue. De facto foi uma excelente ideia do jornal “Trevim” (o jornal da Lousã) e também da Câmara Municipal, esta homenagem aos marinheiros da Lousã por altura do 70º aniversário da Revolta dos Marinheiros.
    Obrigado também pelas fotografias que enviou para o meu email.
    Um abraço e votos de bom fim-de-semana.
    José Alexandre.

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  7. Amigo J.Aexandre,um artigo histórico bem descrito,parabéns a tua página (blogue)continua fenomenal.
    A.Moleiro

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  8. Obrigado camarada e amigo António Moleiro, pelas tuas palavras, pois elas são mais um incentivo para continuar.
    Um abraço.
    José Alexandre

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  9. Caro senhor:
    O marinheiro Ismael Fernandes é de facto natural do concelho de Penela, freguesia de S.ta Eufémia, lugar do Farelo.
    Era meu tio, irmão da minha mãe Alice fernandes e tinha mais três irmãos.
    Possuo fotografias do meu Tio. Poderão ver em: http://www.facebook.com/album.php?fbid=198633796834882&id=100000647903267&aid=49702

    Casimiro M. Fernandes Serra

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