O grupo de jovens que organizou a comemoração, cantando o Hino Nacional. |
Realizou-se no passado dia 29 de Abril, no auditório da Escola José Falcão em Miranda do Corvo, o evento comemorativo dos 37 anos da Revolução de Abril, organizado por uma turma do 12º ano. Estiveram presentes, como convidados especiais o General Augusto Monteiro Valente, capitão de Abril, e Odete Santos, uma conhecida combatente anti-fascista.
O espírito de Abril esteve bem vivo e presente nas pessoas que ali se deslocaram para relembrar momentos da História do país dos últimos cinquenta anos ou, no caso dos mais novos, para escutar da boca de pessoas que a viveram intensamente, como foi o caso dos dois convidados presentes.
O programa foi iniciado com o grupo de jovens a entoarem “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, a que se seguiu a “Grândola, Vila Morena” e depois o Hino Nacional, cantado de pé, por todos os presentes.
O General Monteiro Valente, falou sobre alguns dos motivos que levaram os militares a organizar o Movimento e também sobre os códigos utilizados na revolução. |
O General Augusto Monteiro Valente, “Capitão de Abril», que assumiu em 25 de Abril de 1974 o comando do Regimento de Infantaria N º 12, na cidade da Guarda e ocupou a fronteira de Vilar Formoso, deu aqui uma interessante aula de História, pois ao falar dos códigos da revolução veio de algum modo “descodificar” um pouco os complexos mecanismos utilizados nas transmissões de comunicação utilizadas pelos organizadores do golpe militar. “O sucesso da revolução não aconteceu por acaso. Estava tudo preparado ao pormenor e todos os capitães envolvidos, entidades militares e políticas, cidades etc. eram designadas por um nome de código. Era necessário manter um secretismo absoluto e o certo é que na madrugada de 25 de Abril, já com as tropas na rua, as autoridades políticas ainda não desconfiavam de nada”.
Um dos documentos com os códigos utilizados na revolução. |
Foram também aqui reveladas algumas curiosidades da revolução, como um pequeno episódio que se passou com a coluna militar comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, quando a caminho de Lisboa, o condutor de um dos veículos parou num sinal vermelho, o que terá originado alguma perturbação no resto da coluna, por aquela paragem imprevista.
Outra curiosidade tem a ver com a canção que tinha sido escolhida para servir como senha para o desencadear das operações. Inicialmente tinha sido proposta a canção “Venham Mais Cinco”, de Zeca Afonso, mas os profissionais da rádio alertaram os militares para o facto de essa ser uma canção que já estava referenciada pela Comissão de Censura, ou mesmo já proibida, o que iria originar imediatamente a desconfiança das autoridades de então, pelo que foi escolhida a “Grândola Vila Morena”, canção que era ainda recente e que as referidas autoridades ainda não conheciam.
Por sua vez a Dr.ª Odete Santos, falou das dificuldades sentidas pelas mulheres, antes do 25 de Abril, para se auto-afirmarem na sociedade devido à descriminação de que eram alvo na época. Com um apurado sentido de humor esta senhora prendeu a atenção das pessoas presentes, tendo encantado pela sua simplicidade e pela forma descontraída como abordou o tema, mas sobretudo pela sua classe a declamar poesia como a “Luísa sobe, sobe a calçada” e a parte final do longo poemas “As Portas que Abril Abriu”:
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
As portas que Abril abriu, não se podem voltar a fechar, foi a ideia que ficou no ar, pois como foi ali afirmado ainda temos uma Constituição que tem de ser respeitada e a liberdade de escolher livremente aqueles que nos devem governar. O direito ao voto em eleições livres, uma das grandes conquistas de Abril, deve ser exercido por todos os cidadãos sob pena de depois, em caso de abstenção, não termos sequer o direito de exigir nem reclamar nada. No caso de não concordarmos, ou acharmos que nenhuma das forças políticas sujeitas ao sufrágio merece a nossa confiança temos sempre a opção de votar em branco, pois o votos em branco têm importância numa eleição e podem, a partir de uma determinada percentagem, anular o próprio acto eleitoral. A abstenção não conta para nada e, como bons cidadãos, todos temos o direito e o dever de participar na escolha dos destinos do país.
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