OS ÚLTIMOS VEADOS

As cegonhas são aves silvestres que, não se sentindo ameaçadas pois são uma raça protegida, fazem os seus ninhos, calmamente, sem se importarem com a presença humana.    



Os chamados animais silvestres ou selvagens são os que vivem fora do domínio do homem. Sozinhos procuram refúgio e alimento. Quase todos se assustam ou desconfiam da presença humana e fogem sem se deixar tocar, escapando quando o homem se aproxima a determinada distância, que varia de espécie para espécie e mesmo de indivíduo para indivíduo.

O Muflão é um carneiro selvagem oriundo do sudoeste asiático e é, provavelmente, o antepassado da ovelha doméstica. Perfeitamente domesticado, aproxima-se, curioso, dos visitantes do Parque Biológico.
Os animais domésticos, ao contrário dos silvestres, permitem que os donos ou as pessoas que habitualmente deles cuidam, se aproximem e até que os peguem. Animais especialmente dóceis, consentem que os toquem e comportam-se de modo a inspirar amizade. Domesticar um animal é habituá-lo a viver e a reproduzir-se na casa do homem ou perto dela. O processo de domesticação ocorre por meio de um sistema de aprendizagem muito simples chamado habituação. Todos somos seres de costumes e logo nos acostumamos às coisas, mesmo as desagradáveis. O mesmo acontece com os animais. Uma vez desaparecido o medo inicial, chegam mesmo a tolerar e inclusivamente a desfrutar a companhia humana.

Com os espantalhos pretende-se simular a presença humana nos campos e hortas para afastar os animais silvestres, sobretudo aves, mas como se encontram estáticos os animais acabam por se familiarizar com eles e assim os espantalhos acabam por perder eficácia. No entanto, são utilizados desde tempos muito antigos e são uma forma pacífica de manter as culturas a salvo, durante algum tempo, para além de alegrarem as paisagens rurais, como este casal simpático que alguém colocou, algures, numa pequena horta.

Menos simpática é esta artimanha, feita não para afugentar os animais, mas sim para os atrair, com a finalidade que facilmente se adivinha.
Por isso é muito ténue a fronteira que separa os animais selvagens dos domésticos. Os animais selvagens apenas fogem do homem porque sentem que este lhes pode querer fazer mal e certamente que têm razões para isso, pois este sempre os perseguiu por necessidade ou apenas por mero prazer.
Em 1994 começaram a ser introduzidos veados na Serra da Lousã. A população destes animais foi aumentando e há poucos anos atrás, quem se deslocasse à serra podia ter a certeza de avistar alguns. Lembro-me de os ver em várias zonas serranas e uma vez, num percurso de meia dúzia de quilómetros, avistei mais de uma dezena. Espreitavam por entre o arvoredo e fugiam logo que me pressentiam, nunca tendo conseguido fotografar nenhum. Agora, os veados parecem ter desaparecido. Nos últimos meses tenho percorrido muitos quilómetros na serra e nem sinais deles. Tenho-me interrogado sobre as razões desse desaparecimento e cheguei a pensar que a proliferação de parques eólicos os tivesse afastado para outros locais, mas entretanto encontrei algumas noticias em jornais que poderão ser uma das razões para a ausência de veados na serra: as caçadas ou montarias…

Aqui não é preciso legenda.
 As imagens falam por si.
Apesar de não nutrir simpatia pela actividade da caça, não tenho nada contra caçadores, mas ainda não consegui perceber como é há quem considere a caça como um desporto. É certo que os veados estavam a causar prejuízos a alguns agricultores, mas haveria certamente outras formas de resolver o problema, sem se optar pela chacina dos animais, a não ser que a finalidade de povoar a serra com estes animais, fosse essa mesmo: treinar mais tarde a pontaria em alvos em movimento…
Em muitas locais da serra encontram-se inscrições em rochas, muros ou paredes de edifícios, gritando pela liberdade dos animais, mas parece que não têm encontrado eco em quem exerce o poder. Na verdade eles ali vivem em liberdade, mas uma liberdade que poder ser cerceada, da pior maneira, a qualquer instante. É por isso que os animais silvestres fogem do homem. É o seu instinto e a sua inteligência que os faz agir assim!
Apesar de, como já disse, não ter nada contra caçadores não gosto de por vezes ir a circular de bicicleta ou a pé, numa qualquer estrada florestal e sentir os grãos de chumbo a bater nos arbustos das bermas ou até a saltarem para o pavimento, como já me tem acontecido, parecendo em certas zonas que se está no meio de uma batalha. E não gosto também de ver sinais de trânsito que mais parecem crivos, furados provavelmente por caçadores frustrados pelo insucesso das suas actividades cinegéticas.

Veado no Parque Biológico.
Para observar veados na serra da Lousã por agora, se calhar, só no Parque Biológico da Serra da Lousã, onde existem alguns, mas que estão longe da liberdade plena como os que habitam em plena serra. Estes animais e outros que ali se encontram que normalmente fogem do ser humano, aproximam-se das pessoas quase se encostando às redes, o que significa que não se sentem ameaçados, podendo assim serem considerados como animais domésticos. Mas estes animais têm de pagar um preço muito alto pela sua segurança: a privação da liberdade. Trocar liberdade por segurança já algumas mentes ilustres repudiaram, mas os animais não têm poder de escolha, são os homens que ditam o seu destino.

"Apoia veados livres" e "deixem-me viver feliz". Frases que se encontram espalhadas pela serra e que são um apelo à protecção da vida selvagem.


2 comentários:

  1. Boa tarde Amigo José Alexandre
    Ao ler este artigo que considero excelente, sem desprimor para todos os que habitualmente escreve e a que nos vai habituando...dizia eu,
    ao ler estas palavras, vem-me á memória a tão célebre frase: Quanto mais conheço os homens mais gosto dos animais.
    O homem, do alto da sua "sapiência", julga ser o ser mais evoluído sobre o planeta, mas ao sacrificar animais indefesos para seu belo prazer, revela ter menos senso do que as pobres criaturas.
    O homem com a sua "inteligência" congemina pretextos para matar tudo o que mexe como desporto.
    Ele é porque destroiem culturas, ele é porque matam criação, ele é porque são perigosos para o homem, etc. etc. etc.
    Nada mais errado...na natureza sempre houve equilíbrio entre todas as espécies, sómente o homem destruiu esse equilíbrio com a febre e a ganancia desmedida de tudo querer.
    Uma coisa é sacrificar para sobreviver outra bem diferente é assasinar espécies por puro prazer.
    E é isto que a humanidade tarda em condenar.
    Dizia S.Francisco de Assis que os animais são nossos irmãos.
    Ao ouvir isto ainda hoje "iminentíssimas" personalidades religiosas ficam tremendamente chocadas, pois custa a admitir que um qualquer animaleco chamado bicho seja seu irmão.
    Mas é , é nosso irmão, porque se somos todos filhos do mesmo Pai, então todos os seres vivos são criaturas divinas.
    Mas áparte outras trascendencias...quero com isto dizer que gosto e defendo todos os animais, sem hipocrisia, porque também eu cometo o crime de comer o bife grelhado.
    Os animais são nossos amigos e por vezes dão-nos grandes lições de lealdade, sejamos nós também amigos deles.
    Um abraço
    Camilo

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  2. Boa noite amigo Camilo,
    Concordo com tudo o que disse. Mas o que acho muito estranho é que alguém considere a caça um desporto. Eu já vi caçadores sentados à espera que a caça apareça para dispararem. Que desporto mais esquisito!
    Um abraço.
    José Alexandre

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