CONSTRUIR A PRÓPRIA CASA - POUPAR EM CONSTRUÇÕES

Poupar está na ordem do dia. A crise que Portugal atravessa a isso obriga, por isso as pessoas de fracos recursos e que, por essa razão, já estavam habituadas a poupar, terão de arranjar criatividade, para que com os seus magros ordenados ou reformas (aqueles que os têm) consigam algo mais do que só a própria subsistência.

É esta onde de austeridade sem precedentes no período pós-revolução de Abril, que está provocar uma enorme crise na construção civil e, sequencialmente, a obrigar ao encerramento de muitas empresas ligadas, direta e indiretamente, a esse importante ramo da economia nacional.

É que a actividade da construção é mantida não apenas com a construção de novos edifícios públicos ou privados, mas em grande parte também com pequenas obras de construção e manutenção que todos os cidadãos comuns têm necessidade de fazer em casa e que estão a deixar isso para trás, porque necessidades mais altas se levantam.

A alternativa para que essas pequenas obras não se deixem de fazer é nós próprios deitar-mos mãos à obra não recorrendo, ou fazendo-o apenas em casos específicos, ao trabalho de profissionais, o que é uma solução que tem o inconveniente de contribuir também para a crise, no que respeita ao mercado de trabalho. Claro que quando me refiro a situação de crise, refiro-me apenas a Portugal, muito embora saiba que este artigo irá ser lido por muitos leitores de outros países, nomeadamente do Brasil, onde a economia, segundo informações que tenho, está em franco desenvolvimento, mas, mesmo assim, espero poder ajudar alguém com as minhas ideias.

De facto, tratando-se de obras, seja na construção da própria casa, de um barracão ou garagem, trabalhos de manutenção ou outros, a melhor forma de poupar é trabalhando muito, com as mãos e a imaginação, até mesmo na manufactura de alguns produtos, como blocos de cimento, por exemplo.

Foi assim que eu fiz, há alguns anos atrás, quando andava envolvido na construção da minha casa e também de alguns muros, barracões e garagens. Já aqui falei de alguns desses trabalhos, como uma escada exterior, ou um arco de estilo românico, em que utilizei o pré-fabrico de alguns materiais, mas tenho outros para mostrar em que utilizei blocos de cimento feitos por mim, o que permitiu alguma poupança e também uma arquitectura algo diferente e até inovadora.

Na construção deste arco utilizei peças que eu próprio fabriquei, tentando dar-lhes um aspecto de blocos de pedra branca. Devo dizer que optei por um método difícil na elaboração das peças, pois estas foram feitas com o interior oco, de modo a levarem dentro uma armação em ferro para ligar toda a estrutura, que depois foi cheia com betão, o que à partida torna a obra muito segura e resistente, sem possibilidade da ocorrência de qualquer tipo de fissuras.

As peças dos pilares foram feitas com as medidas de 25X25X12, com um espaço livre no interior de 15X15. Em duas das faces exteriores foi feita uma junta artificial com uma pequena peça de madeira para que, depois de assentes, os pilares ficassem com o aspecto de terem sido construídos com dois blocos de 25X12. As quatro peças em cunha (as duas ultimas dos pilares e as duas das pontas do arco) e também o bloco central foram moldadas no sítio, através de pequenas cofragens. Os restantes blocos do arco foram feitos em forma de U, para que depois de assentes em cima de uma cofragem de madeira, pudessem levar a armação em ferro e o betão a ligar toda a estrutura.

Neste outro arco, que faz a separação entre a cozinha e sala de jantar, as peças foram feitas em cimento maciço e o molde foi uma simples vasilha de plástico. Neste molde improvisado a argamassa foi compactada e de seguida o molde era colocado com a boca para baixo e retirado sem dificuldades, uma vez que era um pouco mais estreito no fundo.

Os blocos que compõem esta parede foram feitos pelo mesmo método dos anteriores com a única diferença de ter utilizado um molde mais pequeno e as peças da escada foram também  pré-fabricadas conforme já referi em "construção de uma escada em caracol".

Já estes blocos foram feitos propositadamente para a construção de um muro de divisória entre propriedades e o seu fabrico foi feito do seguinte modo: primeiramente fiz três moldes em madeira, com apenas quatro pequenas tábuas com as dimensões de 0,60XO,20X0,10, o que permitia uma ligeira secagem antes de desenformar o bloco, uma vez que ia enchendo um e descofrando outro. Foram feitos em maciço e a composição da argamassa foi a seguinte:

No fundo do molde que era posto no chão em cima de uma folha de papel colocava uma camada de massa de cimento e areia crivada (quatro partes de areia e uma de cimento) não superior a um cm. De seguida colocava até ao nível de um cm abaixo do cimo, uma outra argamassa que ficava a constituir o “miolo” do bloco. Esta argamassa era composta de areia do rio com cascalho misturado, com uma proporção de cimento que não ia além de um para oito. No cimo levava uma camada de massa igual à do fundo que foi desempenada à talocha, mas que poderia ter levado outro tipo de acabamento. As partes do cimo e do fundo é que iriam ficar à vista, pois os blocos iam ser assentes ao alto, não necessitando de qualquer outro acabamento e, no caso do muro que eu fiz com estes blocos, a parte do fundo que ficara assente em cima de papel ficou voltada para terrenos agrícolas, pelo que também foi dispensada qualquer outra intervenção.

Os topos e os lados dos blocos é que ficaram bastante irregulares o que teve a vantagem de proporcionar uma melhor ligação entre todas as peças do muro. A largura destas peças é de apenas 10 cm o que é perfeitamente suficiente pois trata-se de um muro de divisão com apenas três fiadas de blocos em altura. No caso do material usado no miolo dos blocos em que utilizei areia grossa do rio, com cascalho, que extraí de um rio nas proximidades, pode também, em alternativa, ser usado brita misturada com areia, pois nem todos têm a sorte de viver perto de um rio.

O comprimento dos blocos foi um pouco exagerado (60 cm.) pelo que, atendendo à sua composição maciça, ficaram bastante pesados, o que dificultou o trabalho de assentamento.

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