Encontrava-me
a folhear o livro “Vida – um guia de autossuficiência” quando deparei com um
artigo sobre coelheiras que me levou a fazer um regresso ao passado e a
recordar um período de dois ou três anos em que me dediquei à criação de
coelhos, numa coelheira que construí, usando tijolos, cimento e madeira. Essa
coelheira tinha dois andares, foi um projeto imaginado para ser higiénico e
funcional e permitia uma produção de coelhos que ultrapassava a autossuficiência,
pois para além das necessidades próprias, dava para vender muitos animais. Hoje
essa coelheira já não existe e não tenho nenhuma fotografia dela, mas, mesmo
não tendo jeito nenhum para isso, fiz um desenho para tentar mostrar mais ou
menos como era.
Parte frontal da coelheira. Tinha cerca de três metros de comprimento, por um metro de largura e dois de altura. |
Como
já disse um dos materiais que utilizei foram tijolos cerâmicos, nas paredes da
parte de trás e nas laterais. A coelheira tinha dois andares e em cada andar
quatro divisões que eram separadas por tábuas de madeira. A separar os dois andares tinha uma placa em cimento, impermeável e
com uma boa inclinação. Essa placa recebia os dejetos dos habitantes do piso
superior e tinha um tubo para onde escorriam os líquidos e se faziam encaminhar
também os dejetos sólidos que escoavam para o fundo da coelheira onde tinha um
chão em terra, coberto de mato, que se transformava em estrume, pois aqui caíam
também diretamente os dejetos dos coelhos que habitavam o piso inferior.
O
fundo das coelheiras era em ripas de madeira que tinham um intervalo entre si
de cerca de 1,5cm o que permitia a queda das fezes para a placa de cimento ou para o fundo da coelheira. O telhado era em placas galvanizadas, mas tinha um forro em
madeira e entre o forro e o telhado tinha placas de esferovite que isolavam os
compartimentos do frio ou do calor, estando a parte da frente da coelheira voltada
para norte, o que evitava a incidência dos raios solares durante a tarde e
também os ventos dominantes durante o inverno. Penso que o aspeto mais original desta
coelheira era a placa em cimento que separava e isolava completamente os dois
andares e permitia servir de receptáculo para a urina e fezes dos animais.
Claro que esta placa tinha de ser limpa diariamente, mas esse trabalho não era
difícil de fazer, pois estava bastante inclinada, com um bordo na frente, e
tinha um espaço entre ela e o ripado dos compartimentos superiores de cerca de
cerca de 30 cm
sendo possível varrer e lavar a placa sem problemas, pois as sujidades
escorriam pelo tubo para o fundo onde, misturadas com o mato, se transformavam
em estrume.
Esta
coelheira funcionou muito bem e durante o tempo em que ali criei coelhos, cerca
de dois a três anos, nunca tive problemas com a saúde dos animais. Não me
lembro que algum tenha morrido devido a qualquer doença, mas a verdade é que
tinha grande cuidado com a limpeza e, de facto, a coelheira, modéstia à parte,
estava muito bem construída. Cheguei a ter lá meia centena de coelhos e tinha
apenas um macho reprodutor, que mesmo assim era suficiente.
Quando
iniciei esta atividade conseguia, com grande facilidade, vender no mercado os
coelhos de que não necessitava para consumo próprio. Havia uma grande procura
por parte de negociantes que se dedicavam a este tipo de comércio que era feito
sem qualquer fiscalização, não existindo por parte desses compradores grandes
exigências na qualidade do produto. Mas não era sempre assim e havia fases em
que existiam dificuldades para vender os animais e nessa altura o seu preço
descia muito, o que aliado ao custo das rações tornava a atividade pouco
rentável, apesar da sua alimentação não ser exclusivamente à base de rações,
pois também comiam produtos da horta e ervas. Acabei por reduzir a quantidade
de coelhos até que fosse em número apenas suficiente para consumo próprio.
Entretanto o espaço onde estavam as coelheiras foi necessário para outros fins e
essa atividade findou e nunca mais foi reatada.
A
criação de coelhos para consumo próprio ainda hoje é praticada por muita gente
que vive em zonas rurais e só não o será em maior escala talvez devido às
doenças que atacam a espécie, principalmente a mixomatose, que por vezes dizima
grande número de animais o que cria desmotivação por esta atividade.
Voltando
ao livro de que falei no início do artigo este ensina o modo de construir
coelheiras e contém também muitos conselhos sobre o tipo de materiais a
utilizar, dimensões das gaiolas e outros dados interessantes:
A
preocupação principal numa criação de coelhos deve ser a higiene. Dos animais
domésticos esse é o mais exigente e é através das instalações que se procura
evitar as doenças e focos de infeção a que estão sujeitos. Para a construção
das coelheiras poderá usará materiais de baixo custo: sarrafos, tábuas, arame
galvanizado, dobradiças, pregos e telhas de amianto ou francesas. É importante
lembrar que os abrigos devem ser construídos em locais tranquilos, bem ventilados,
sem humidade, sem correntes de ar exageradas e que não estejam dispostos
diretamente aos raios de sol.
Construção:
Para
uma unidade instale quatro estacas de 150cm de comprimento formando um
retângulo de 100x80cm. Deixe as duas estacas de trás 20cm a mais enterradas no
solo. Medindo de cima para baixo marque 70cm nas estacas da frente e 50 cm nas de trás, para
instalar as paredes. Ao instalar as paredes irá notar que sobra uma distância
do solo. As paredes podem ser feitas de tábuas ou de arames. Se optar por arame
coloque cortinas impermeáveis para proteger os animais de ventos fortes e da
chuva.
Instale
agora o piso, que deve permitir um fácil escoamento dos dejetos, ao mesmo tempo
que não prejudique as patas dos animais mais gordos. Aconselhamos a utilização
de ripas presas em telas de arame, o que facilita a limpeza. Pode-se instalar
abaixo do piso uma chapa de metal ou madeira, como nas gaiolas dos pássaros.
Além de facilitar a limpeza possibilita a construção de coelheiras por andares,
pois esse método evita que os dejetos caiam diretamente no chão.
Ao
construir as portas lembre-se de localizá-las na frente da coelheira. Elas
devem abrir para fora. As portas são a origem da ventilação. De tela de arame
ou madeira devem permitir o manejo adequado dos animais. Na ilustração cada
unidade tem duas portas de 50x35cm feitas de grade. Foram colocadas madeiras em
volta para acabamento e sustentação das dobradiças, com 10cm de largura. Caso
você vá confeccionar as portas com arame faça antes uma moldura de madeira para
prendê-la. No teto deve haver um vão livre entre telhas e forro, necessário
para ventilação. São colocadas três ripas no comprimento e duas na largura, ou
tantas quantas necessárias para sustentar as telhas que se forem usar.
Faça
os ninhos com caixinhas simples (conforme ilustração), para proteger os
filhotes (láparos) de possíveis pisões das fêmeas. Os comedouros ou bebedouros
são colocados dentro ou fora das coelheiras, bastando apenas que não virem com
facilidade.
No
caso de criações intensivas aconselha-se o uso de gaiolas de arame galvanizado,
nas medidas de 80cm de comprimento, 60cm de largura, por 40cm de altura. As
fixações podem ser feitas com o próprio arame, de forma a não deixar saliências
que provoquem ferimentos nos animais. Lembre-se de fazer a porta abrir para
fora.
Essas
coelheiras podem ser colocadas num galpão (barracão) construído no sentido
leste-oeste, protegido dos ventos frios e dominantes. Pode ser aberto ou
fechado, dependendo do clima da região. As gaiolas são penduradas até uma
distância de 90cm do solo, distribuídas em fileiras duplas, com corredores de
100cm entre elas. No galpão construa canaletas com 60cm de profundidade,
preenchendo-se 15cm com cascalho e 15cm com carvão. O restante servirá como
depósito de fezes. Nos galpões pode-se utilizar uma caixa d’água central,
havendo distribuição automática diretamente aos bebedouros.
A
madeira, caso disponível, pode baratear muito a construção, mas guarda resíduos
de urina. Importante lembrar também da tendência roedora dos coelhos e, em caso
de opção pela madeira, utilizar a peroba, por ser dura e amarga.
Para
instalar a criação é preciso considerar as intenções do criador. Para consumo
próprio um macho e duas fêmeas são suficientes para iniciar. Lembre-se que os
espaços nunca são suficientes, é preciso considerar sempre a alta taxa de
reprodução. Uma fêmea tem sete láparos por cria. O ninho é retirado 30 dias
depois, e os filhotes são colocados em gaiolas separadas quando estiverem com
50 ou 60 dias. Daí até três meses podem ocupar a mesma gaiola; depois, devido à
agressividade, devem-se separar os machos reprodutores.
Bom dia.
ResponderEliminarTenho cães e gostaria de gerir melhor o espaço
Gostaria de saber se posso colocar a coelheira por cima do canil pois, gostaraia de criar coelhos em pequena escala e quiça para abate(venda).
Será que posso partilhar o mesmo espaco das galinhas de abate. Pergunto isso por conta do cheiro das vacinas dos frangos.
Isto é, uma mistura de frangos, Caes, codornizes, coelhos e poedeiras mas tudo em pequena escala.
Misturar coelhos com aves, acho que não tem qualquer problema. Misturar com cães é que não sei, não... Não é comum misturar aves ou coelhos com cães.
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