“Um forno para todos os fins” é o título de um artigo
do livro de John Seymour, The Complete Book Of Sel-Sufficiency. O autor
relata a forma como construiu um forno na sua quinta, a que deu o nome de Fachongle,
o mesmo nome da quinta e que servia para quatro coisas: aquecer, servir
como forno propriamente dito, fazer de placa aquecida para cozinhar e servir de
esquentador para aquecer água.
Fascinado por este forno resolvi eu próprio construir
um idêntico, mas que acabou por ficar muito diferente, pois acabei por fazer
uma construção um pouco ao sabor da imaginação do momento, podendo, apesar das
grandes diferenças entre os dois fornos, considerá-lo como bem sucedido. De
resto, as minhas necessidades não eram as mesmas do autor do Fachongle
e, aliás, o próprio John Seymour aconselhava a quem se aventurasse a
construir um forno desses, que modificasse a sua conceção de acordo com as suas próprias necessidades.
De qualquer forma, o forno que eu construí, a que dei
o nome de forno caseiro multifunções e sobre o qual já escrevi um artigo
no blogue, foi inspirado no forno de John Seymor, ou pelo menos foi graças ao
que ele escreveu que eu me aventurei a construir o meu forno, um forno de
conceção bastante original, muito diferente dos fornos caseiros comuns.
John Seymour, para além das explicações sobre a forma
como construiu o forno e sobre todas as suas utilidades, tem também uma página
com o esquema da construção, que poderá ajudar quem queira meter ombros a uma
obra idêntica, pois trata-se um projeto com alguma complexidade. Passo a
transcrever o artigo de John Seymour:
A lenha é uma fonte de energia renovável e a floresta
constitui o melhor coletor de energia solar do Mundo. As árvores cortadas para
fazer lenha devem ser rebaixadas. Por outras palavras, corte-as de 10 em 10 ou
de 15 em 15 anos, de acordo com a rapidez do seu crescimento e deixe crescer os
ramos sobre as cepas. Se assim as cortar sistematicamente, um hectare ou um
hectare e meio de floresta dar-lhe-á um aprovisionamento quase permanente de
lenha ou de madeira, para construção.
Para queimar madeira eficaz e economicamente, têm de
ser reunidas várias condições. A madeira deve arder sobre o chão do forno e não
sobre uma grelha. O fogo deve estar fechado e você terá de poder regular,
cuidadosamente, a tiragem. Um grande fogo aberto é muito romântico, mas só
serve para aquecer o coração, gelar as costas e iluminar o céu. Quando há
madeira à vontade ainda se admite, de outro modo, nunca.
É muito mais vantajoso queimar madeira num “fundo
morto” e só deixar entrar o ar pela frente. Deve arranjar um meio de regular a
tiragem, de modo a poder extinguir o fogo, fechando unicamente a entrada do ar.
Evitará muita sujidade, se conseguir alimentar o forno pela parte de fora da
casa. Se conseguir enfornar grandes achas, poupará longas e desesperantes
sessões de serração.
Qualquer forno económico deve conseguir fazer, pelo
menos, quatro coisas: aquecer, servir como forno propriamente dito, fazer de
placa aquecida para cozinhar e servir de esquentador para aquecer a água.
Melhor ainda, se ele também servir para fumar carne e peixe. Construí um forno
que faz tudo isto, na minha quinta, e como esta se chama “Fachongle”,
batizámo-lo com o mesmo nome. Mas não se abalance a construir um, sem se ter
assegurado primeiro de que encontrará por bom preço tijolos refratários, uma
placa bastante grande de ferro fundido para cobrir todo o forno e uma sólida
porta também de ferro fundido.
O esquema do forno de John Seymour (clique na imagem para ampliar) |
Construir um forno
Começámos por construir dentro de casa, um túnel de
tijolos com 1,20 m de
comprimento. O fundo foi fechado com tijolos e a parte da frente foi recuada
cerca de 10 cm em relação
à parede da casa que, neste sítio, foi rodeada por uma cercadura de tijolos
refratários. De cada lado do túnel, construímos depois um muro ligeiramente
mais alto (a base deste não tem de ser de tijolos refratários, mas o cimo terá
de poder aguentar o calor). Por cima destes muros, colocámos uma placa de aço
(que se deformou com o tempo e por isso lhe recomendo uma de ferro fundido) que
vai desde o fundo do forno até à parede da casa. Sobre esta placa de aço
construímos o forno e, na extremidade oposta ao muro da casa, a chaminé.
Fizemos um buraco na parede da casa e fechámo-lo com
uma porta de ferro fundido e com a ajuda de tijolos refratários. O forno é
alimentado por esta porta. O calor e o fumo têm primeiro que ir até ao fundo do
forno, depois abrir caminho pelo buraco de 10 cm ,
em seguida aquecer a placa de ferro fundido, e fazer mais outro desvio, antes
de se escaparem, finalmente, pela chaminé.
No muro por detrás do túnel, construímos um
reservatório de água, cujo circuito passa entre os muros do túnel e os muros
exteriores. Enchemos, parcialmente, com areia, o espaço que fica entre estes
dois muros, para isolar e armazenar o calor.
O “esquentador” deste forno alimenta a cozinha, a
leitaria, a cervejaria, a lavandaria e as casas de banho, e sempre cumpriu bem
a sua missão desde que houvesse um bom fogo no forno. Aquecer uma tal
quantidade de água com um aparelho elétrico custaria uma pequena fortuna.
Estamos a pensar em pré-aquecer a água sobre um telhado “solar”, o que nos
evitará manter um fogo tão grande no verão, época em que não temos necessidade
de calor suplementar dentro de casa.
Dispomos ainda de um requinte que não se torna
absolutamente indispensável, mas que vale a pena: um forno para cozer o pão.
Uma parte do calor e do fumo passa através de uma fenda, cortada na placa de
ferro fundido e vai para a parte de trás do forno, passando por cima de uma
placa de aço que constitui a parte superior do forno do pão. Quando o fogo está
suficientemente forte cozem-se lá uns pães magníficos.
Fazer carvão de madeira num forno
Uma das vantagens do forno “Fachongle” é permitir-nos
produzir carvão de madeira. Faça um bom fogo e depois feche a tiragem. O fogo
extinguir-se-á e a madeira transformar-se-á em carvão de madeira. O “toque
final” é o fumeiro que arranjámos por cima do forno. É demasiado quente para
fumar presunto ou toucinho, mas é fantástico para fumar carne ou peixe.
Eu sempre quis ter um desses mas, onde moro não tenho espaço para ter um no meu quintal. Sei que as coisinhas assadas nesses fornos fica uma delícia!
ResponderEliminarBom trabalho amigo!
beijinho da tin
Olá, amiga Tin.
EliminarÉ verdade que se fazem coisas maravilhosas nos fornos a lenha. É pena não poder ter um em sua casa, mas... já sabe, se algum dia vier a Portugal tenho todo o gosto em lhe preparar uma chanfana à moda aqui da terrinha, que sei que irá adorar.
Bem... mas até lá desejo-lhe uma boa semana!
Um beijinho também para si.
Boa noite Amigo José Alexandre
ResponderEliminarHá lá coisa melhor do que cozido ou assado em forno de lenha...?
No meu caso embora tenha esquemas de fornos tipo os de John Seymour, nunca me dispus a construí-los. Optei por adquirir um fogão a lenha de ferro, com caldeira para água, e a minha Maria diz que foi a melhor coisa que se comprou para a casota lá do campo.
Fazem-se ali pitéus de se lhe tirar o chapéu. Até pão de todo o tipo lá fazemos.
No mesmo local temos um forno a lenha, de tijolo refratário, típico, daqueles que se vendem por aí, mas raramente é usado, preferimos o fogão. É um espectáculo, só gasta lenha e no inverno aquece a casa.
Recomendo.
Um abraço
Camilo
Boa noite, amigo Camilo.
EliminarEu também já tive, em tempos, um fogão desses de que fala. Nessa altura toda a gente comprava um, mas a verdade é que duravam pouco tempo, pois o fogo destruía a chapa de que eram revestidos isto, claro, falando daqueles fogões mais baratos porque aqueles todos feitos em ferro fundido duravam mais tempo, mas eram muito caros.
De qualquer maneira acho que não se pode comparar um fogão desse tipo com um forno como o "Fachongle", mas é claro que tudo depende das necessidades de cada um.
Agora, uma coisa é certa... como o amigo Camilo diz, não há nada melhor para fazer bons petiscos como um forno a lenha. Então a chanfana, nem se fala! Tem de experimentar a assar uma caçoila dela no seu fogão, vai ver que é de comer e chorar por mais...
Um abraço.
José Alexandre