Paragem de autocarros numa estrada serrana. |
Os
antigos sinais das estradas que eram feitos em cimento têm vindo a desaparecer
e a ser substituídos por sinalização em metal. Apenas nas estradas mais antigas
se encontram ainda alguns e estes já misturados com os novos de metal, que são
mais visíveis, sobretudo à noite, devido às suas propriedades refletoras e
assim vão relegando para segundo plano a antiga sinalização.
Não
se opta pela recuperação dos sinais antigos degradados, sendo substituídos os
que se encontram em mau estado e mantendo-se em alguns locais os antigos e os
novos sinais juntos, dando as mesmas indicações.
É
certo que a segurança nas estradas não pode nem deve compadecer-se com
nostalgias do passado, mas esse património (penso que se podem considerar os antigos
sinais como património cultural), bem que poderia ser preservado, mantendo-se
essa sinalética que ainda existe em bom estado e recuperando as peças que se
encontram bastante maltratadas. E, porque não equipar algumas vias municipais
mais antigas e com pouco tráfego com esses sinais antigos bem reparados e
pintados? Essa poderia ser uma boa maneira de os preservar e lhes dar
utilidade, mantendo vivas essas marcas do passado e o testemunho histórico que
representam, para além do atração turística que certamente proporcionaria uma
estrada assim sinalizada. Misturar ou colocar a nova sinalização de metal ao
lado da antiga, estando esta semi-destruída e não ficando ali com qualquer
utilidade, não parece ser a atitude mais lógica e correta.
Serra da Boa Viagem - Figueira da Foz. Aqui as estradas ainda conservam sinais e pavimento antigos. |
Outro sinal identificativo de localidade em estado um pouco melhor. |
Placa de divisão entre distritos. |
Um antigo sinal de stop. |
Este marco muito antigo, refere-se a a uma divisão de cantão ou secção de estrada. |
Esta placa aponta para um caminho de peões, tem as indicações pintadas em azulejos já danificados e em vez da sua recuperação, recebeu a companhia de um "companheiro" metálico. |
Nas
estradas antigas encontram-se também outro tipo de “sinais” como os edifícios
que eram destinados a servir de habitação aos cantoneiros e os depósitos para guardar
o material e as ferramentas utilizadas na manutenção dessas estradas. Muitas
dessas casas encontram-se abandonadas e em estado de ruína e trazendo-nos à
memória a figura desses trabalhadores das estradas que outrora cuidavam de
manter em bom estado o cantão (secção de estrada) que estava sob a sua
responsabilidade.
Uma casa de cantoneiro abandonada. |
Um antigo depósito de material, restaurado. |
Segundo
o Regulamento Geral das Estradas e Caminhos Municipais – Lei nº 2110 de 29 de
Agosto de 1961, algumas das funções dos cantoneiros eram:
Executar
continuamente os trabalhos de conservação dos pavimentos; fazer o serviço de
polícia, assegurar o pronto escoamento das águas, tendo sempre para esse fim as
valetas limpas, aquedutos e sangrias; remover do pavimento a lama e imundícies;
conservar as obras de arte limpas de terra, de vegetação ou de quaisquer outros
corpos estranhos; cuidar da limpeza e conservação dos marcos, balizas, placas
ou quaisquer outros sinais colocados no cantão; tomar, quando lhes for
ordenado, as notas necessárias para a estatística do trânsito; prevenir o chefe
dos serviços de conservação ou autoridade superior correspondente, quer
diretamente, quer por intermédio do cabo de cantoneiros das ocorrências que se
derem no cantão onde prestam serviço e cumprir rigorosamente e sem demora as
ordens dos seus superiores.
Levantar
autos por transgressão e desobediências às intimações e enviá-los, no prazo de
48 horas, ao chefe dos serviços de conservação ou autoridade correspondente,
diretamente ou por intermédio do cabo de cantoneiros.
Estar
todos os dias úteis no cantão, sem que as chuvas ou intempéries possam ser
invocadas como motivo de ausência e nele permanecer durante as horas indicadas
no horário em vigor. Durante as horas de descanso e refeição não poderão os
cantoneiros ausentar-se do seu local de trabalho.
Dar
aos usuários das estradas e caminhos as indicações e auxílio que lhes forem
pedidos e possam prestar.
Estas
eram apenas algumas das muitas funções dos cantoneiros, mas dá para ter uma
ideia da sua importância e da flexibilidade de tarefas que ia desde o
policiamento e auxilio aos utentes das estradas, até à limpeza das vias,
valetas etc.
Segundo
o mesmo Regulamento, só poderia ser admitido para as funções de cantoneiro quem
tivesse pelo menos a 4ª classe da instrução primária e cuja idade estivesse
entre os 21 e os 35 anos.
Fardamento do cantoneiros e dos cabos de cantoneiros. |
Os
cantoneiros usavam uma farda de trabalho oficial composta por calças e casaco em
tons cinza ou acastanhada, botas de ensebar e um chapéu de abas semi-largas,
arredondado no topo.
Segundo
o Manual do Cantoneiro, editado em 1954 pelos Serviços de
Conservação das Vias Municipais, o pessoal devia apresentar-se na
estrada convenientemente uniformizado, de harmonia com o que estava
estabelecido, barbeado e de cabelo cortado, não esquecendo nunca que devia
impor-se pela sua apresentação. Os cantoneiros poderiam trazer, por debaixo da
camisa regulamentar, os agasalhos que lhes fossem necessários, não lhes sendo,
porém, permitido envergar sobre a farda qualquer outra peça de vestuário, além
do casaco e calça impermeável, fato de couro ou fato de macaco, quando
estivessem trabalhando com betume. Durante o verão usariam a camisa com a gola
aberta nos dois primeiros botões e as mangas arregaçadas, se o calor a isso
obrigasse. Os chapéus regulamentares seriam usados sem que a copa e a aba se
apresentassem deformadas.
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Muito interessante este artigo. Nunca tive dúvidas sobre o facto de os antigos sinais de cimento serem património cultural mas desconhecia que era intencional (ainda bem) manterem o sinal antigo ao lado de um moderno, como pode ser observado em alguns locais.
ResponderEliminarOnde se podem encontrar ainda sinais destes ou qual a fábrica que os produzia?
ResponderEliminarPenso que era a antiga Junta Autónoma das Estradas que os produzia.
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