"Se um homem faz da vida um uso artístico, o cérebro passa a ser o seu coração" |
O Terreiro do Paço no verão de 2012. D. José I e o seu cavalo estavam verdes. Qual será a cor com que vão surgir, após o restauro? |
O
que é que um provinciano como eu sabe sobre estátuas de Lisboa, para vir para
aqui falar em tal coisa?... Pouco, muito pouco. Aliás, uma dessas estátuas
apenas a conheci na minha mais recente passagem pela capital, mais precisamente
na Rua Augusta. Mas vou falar sobre ela, porque me impressionou bastante pelo
trabalho artístico e humano que representa. A outra… bem a outra é uma minha
velha conhecida dos anos 70, pois nessa época quase todos os dias passava junto
a ela. Agora vim encontrá-la vestida com uma nova “roupagem”, que é apenas uma
proteção para os trabalhos de recuperação de que está a ser alvo. Trata-se da
estátua de D. José que se encontra ali, bem no centro do Terreiro do Paço, a maior
e mais histórica praça de Portugal.
Vindo
da parte alta de Lisboa cheguei ao Rossio e dirigi-me para a Rua Augusta,
esperando ver, por entre as paredes do Arco e a estátua de D. José, as águas do
Tejo. Sempre gostei de caminhar pela Rua Augusta, com aquela visão em fundo, a
fazer recordar que Lisboa é uma cidade de mar, mesmo estando este ainda a uns
bons quilómetros de distância. Mas ali o Tejo é como se fosse o mar, pois é
nele que se desenvolve toda a atividade portuária civil e militar da cidade,
com portos e estaleiros. Na margem sul, no perímetro militar do Alfeite,
situa-se a grande base naval da Marinha e também os seus estaleiros navais: o
Arsenal da Marinha, que antes esteve implantado na margem norte, perto do
Terreiro do Paço.
Sensivelmente
a meio da rua dei de caras com a nova estátua. Mozart estava ali, meio saído do
túmulo; tinha um pombo pousado em cima da cabeça e outro ao lado batendo as
asas, rodeado por anjinhos. Como bom provinciano não me apercebi logo do que se
tratava, mas, entretanto, vi que algumas pessoas tiravam fotografias deixando
uma moeda num pequeno recipiente; algumas delas faziam questão de serem
fotografadas junto à estátua, e então vi Mozart saudando as pessoas. Não
resisti a saquei também da minha máquina para captar aquela imagem viva de
Mozart e deixar a respetiva moeda.
Aquilo
era arte, tal como eu nunca tinha visto e senti-me bastante impressionado
perante aquela demonstração e também pela imaginação do autor. Numa altura de
crise em que o trabalho não chega para todos e, por isso, é necessário muito esforço
e imaginação para ganhar a vida honestamente, eis que encontro ali alguém com
esses predicados: um artista de rua que tentava assim, muito dignamente, ganhar
algum dinheiro e que enriquecia culturalmente aquela artéria muito movimentada
de Lisboa. Fiquei a pensar o quão difícil seria exercer aquela forma de arte;
era preciso estar pintado, ou maquilhado de forma a parecer feito de pedra e
estar ali imóvel durante não sei quantas horas, fazendo apenas pequenos gestos
para o público. Todas as profissões têm o seu grau de dificuldade e esta
pareceu-me de grau elevado, mas, claro, tudo depende da imaginação e do gosto
que cada um tem por aquilo que faz. O cérebro daquele artista era o seu coração
e ele estava ali a exibir gratuitamente a sua arte com gosto e orgulho;
gratuitamente porque todos podiam apreciar sem pagar nada e ele tinha que ter a
veia artística necessária para que as pessoas entendessem que era merecedor de
ser remunerado pelo seu trabalho. Em pensamento, dei-lhe os parabéns…
Quanto
ao D. José, esse agora está escondido do público, mas tem durante alguns meses
a companhia dos operários que estão a fazer a manutenção da estátua. No entanto
é uma pena as pessoas não poderem apreciar ao vivo a forma como esse trabalho é
feito. Sempre se aprenderia alguma coisa…
Como
que para compensar os turistas por aquela privacidade que envolve
temporariamente a estátua, esta foi rodeada por uma vedação em painéis de
“tabopan” onde está contada em língua portuguesa e também em inglês, a história
da estátua. A história está ilustrada com gravuras e eu tirei fotografias e
selecionei algumas dessas imagens com partes da história que achei mais
relevantes ou curiosas.
Todos nós sabemos que os monumentos publicos devem ser limpos e perservados, como é o caso aqui descrito da estátua de D.José. Agora, eu não consigo entender como é possivel ter a estátua em obras de conservação há cerca de cinco meses.
ResponderEliminarEntretanto e com a estátua de D.José ainda toda entaipada, começaram há cerca de 2 ou 3 semanas a fazer o mesmo ao arco da Rua Augusta.