Os voluntários da Marinha

Seis anos era o tempo de serviço obrigatório
para os voluntários.

O dia 14 de Janeiro de 1972 foi, para mim, um dia histórico. Para mim e certamente também para os restantes cerca de 900 jovens que nesse dia fizeram a sua incorporação na Armada Portuguesa, assim como também para os muitos milhares que o fizeram ao longo de muitos anos. Hoje, por ser dia 14 de Janeiro, resolvi vir falar um pouco sobre esse assunto focando-o, sobretudo, nos voluntários, porque essa foi também a minha condição.

Da incorporação de Janeiro de 1972, que era composta por 12 companhias com cerca de 80 elementos cada, faziam parte quatro companhias de voluntários, cujas idades variavam entre os 16 e os 18 anos. Nessa época faziam-se quatro incorporações por ano, o que significa que entravam anualmente mais de 3.000 jovens na Marinha, destinados à classe de praças e dos quais mais de um terço eram de alistamento voluntário.

De então para cá o país e o mundo mudaram. As necessidades da Marinha em recursos humanos, diminuiu bastante, não sei se a preparação militar, específica para a Marinha, se alterou de modo significativo, de acordo com as mudanças também operadas no país, provavelmente sim, pois a missão da Marinha também já não será forçosamente igual.

Mas o que importa realçar é a disponibilidade que havia para servir a Marinha voluntariamente, numa altura em que estava em curso uma guerra nas antigas colónias e, por muito romântica que a Marinha parecesse, tratava-se de um ramo militar e quem para lá entrava poderia, a qualquer momento, entrar em contato com essa guerra. Então o que levava essa multidão de jovens de muito tenra idade a inscreverem-se para fazer parte dessa Instituição, quando pairava uma sombra negra no país, que provocava muita incerteza e angústia.

Ninguém entrava para a Marinha para ganhar dinheiro, pelo menos durante algum tempo; o ordenado, ou melhor, o pré, durante a recruta, em 1972, era de 60 escudos mensais, o que na moeda de hoje equivaleria a 30 cêntimos de euro, sendo que muitos abandonavam os seus empregos, onde ganhavam muito mais, para se alistarem. Seria então para se autoafirmarem, atingirem uma maioridade antecipada, ou para provarem algo a alguém ou a si próprios?... O que levaria esses jovens a servir a Marinha?

Cada um é que sabia o que lhe ia na alma, quais eram os seus ideais, mas a atração pelo desconhecido, o espírito de aventura, o desejo de envergar o uniforme onde sobressaíam a listas brancas do colarinho de alcaxa e a fé num futuro risonho e triunfante, seriam certamente o motor de muitos dos que se apresentavam no Centro de Alistamento do Alfeite para envergarem pela primeira vez um uniforme da Marinha. Esses foram os meus motivos…

Passei debaixo deste arco, pela primeira vez, em 14/01/1972,
quando tinha dezasseis anos.
Naturalmente, entre os jovens que se apresentavam voluntariamente e outros que eram recrutados para o cumprimento do serviço militar obrigatório, para além da diferença na idade, existiam visões distintas sobre o porquê de cada um ali estar. Essa diversidade de opiniões era, nas semanas da Instrução Básica Elementar (recruta), motivo para algumas tensões, ou rivalidades, que tornavam esse período mais difícil, mas depois, no prosseguimento do percurso militar, esse facto era totalmente esquecido e a camaradagem era um forte apanágio que a todos unia.

Esses tempos deixaram saudades e é por isso que hoje na Internet se encontram imensos sites e blogues, grupos no Facebook etc. onde antigos marinheiros, contam histórias, postam fotos e fazem comentários, enaltecendo sempre esse tempo glorioso da juventude recordando com orgulho dias inesquecíveis, momentos que marcaram uma época e que compõem um capítulo épico da sua história de vida que muitos iniciaram aos dezasseis anos.  

1 comentário:

  1. Cá eu nessa altura era o 273/72 Grumete E da 4ª companhia, hehehe
    Nome de Guerra "PICASSO"

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