Os
materiais utilizados na construção de edifícios têm estado em constante evolução.
As paredes não fogem à regra e hoje já poucos se lembram da forma como estas
eram construídas até meados do século passado. Eu, por acaso, lembro-me bem
pois nasci e vivi numa casa que foi construída ainda no século XIX. A largura
das paredes exteriores era quase de um metro e tinham sido feitas com pedra
assente em barro cru, tendo levado um reboco de cal bastante imperfeito. Em construções
pobres ninguém se preocupava com isolamento térmico de qualquer espécie, mas
que as casas eram bastante arejadas lá isso eram. Frequentemente os tetos não
eram forrados e de noite, quando havia luar, conseguia-se que passasse alguma luz
através das frestas das telhas.
Bem,
mas no que a paredes diz respeito, o sistema utilizado para as divisórias era
bastante curioso: era levantado um pano em tabiques (tábuas com cerca de 4 mm ) no qual se pregavam
horizontalmente as espaços de cerca de cinco mm, ripas, paus e até canas, que
se destinavam a segurar a argamassa com a qual este tipo de paredes era
rebocado. Ainda hoje existem muitas casas com paredes construídas dessa forma e,
nos aterros onde são vazados restos de obras demolidas, encontram-se com
frequência restos desses tabiques com ripas pregadas.
Tijolo tradicional 30x20x11, muito utilizado na construção de paredes com caixa de ar. |
Hoje,
desse modo de construir paredes já só restam as lembranças, pois entretanto, com
o uso generalizado dos tijolos cerâmicos, estes passaram a fazer parte da
estrutura de todos as casas; inicialmente eram tijolos de dimensões reduzidas
maciços ou com dois furos, mas entretanto as suas medidas foram evoluindo até
que se chegou às medidas padrão que ainda hoje são utilizadas normalmente com o
comprimento de 30cm por 20cm de altura e com as larguras de 7, 11, 15 e 20 cms.
É
certo que os tijolos fabricados com argila não são o material exclusivo na construção
de paredes, pois entretanto foram introduzidas outras matérias-primas no
fabrico de tijolos e surgiram os blocos de cimento e de argila expandida, entre
outros produtos. Mas o certo é que os tijolos cerâmicos continuam a ser o
material mais usado na construção de paredes.
Acompanhando
a evolução dos materiais para o levantamento de paredes, foram também surgindo
novas técnicas para o isolamento térmico das habitações. As paredes duplas com
caixa de ar e a colocação no seu interior de placas de poliestireno,
vulgarmente conhecido por esferovite foi e ainda é um método muito utilizado
com vista ao isolamento dos edifícios, mas, a partir de finais do século XX, surgiu
em Portugal o método de isolamento pelo exterior que já era praticado há várias anos noutros
países da Europa onde é denominado de ETICS (External Thermal Insulation
Composite Systems).
Esse
método, não é mais do que placas de poliestireno expandido (EPS) coladas às
paredes com argamassa própria e também com peças de plástico ou metal e sobre
as quais é depois aplicado um reboco fino onde fica incorporada uma ou mais
redes de fibra de vidro, tratando-se, portanto de um reboco armado.
A
principal vantagem apontada ao isolamento térmico pelo exterior reside na
eliminação de pontes térmicas. Ou seja, fornece um isolamento integral do
edifício o que impede o ganho ou a perda de energia através dos elementos
estruturais, tal como acontece nos pilares de betão quando o edifício apenas
possui isolamento entre perfis (caso do isolamento na caixa de ar). No entanto,
o isolamento nunca é total, pois há que contar com as portas e janelas dos
edifícios e é por aí que resultam as maiores trocas de calor.
Este
sistema de isolamento pelo exterior dispensa a habitual caixa de ar, o que
significa que não necessita de paredes duplas, mas qual será o tijolo
aconselhado para aplicação deste tipo de isolamento?
Aparentemente
o ETICS pode ser aplicado sobre vários tipos de suporte e já li que esses
sistema permite um maior aproveitamento dos espaços, dado as paredes poderem
ser de largura mais reduzida, mas não me parece que essa largura possa ser
inferior a 30cm, pelo menos nas paredes onde esteja prevista a abertura de
janelas, pois é preciso ter em atenção a montagem da caixa de estores.
Tijolo térmico de furação vertical. |
Mas
as medidas e os formatos dos tijolos cerâmicos também evoluíram e surgiu o
chamado tijolo térmico, um tipo de tijolo que difere bastante dos tradicionais
tijolos de oito, doze e dezasseis furos. Estes tijolos, cuja largura vai dos 14
aos 29 cm ,
podem ser de furação vertical ou horizontal e o seu assentamento fica mais
simplificado pois não necessitam de levar massa nas juntas verticais, visto
esta ser de encaixe.
No
entanto, estes tijolos também me parecem ter alguns inconvenientes a começar
logo pela passagem de humidades para o interior, devido a serem mais compactos
e em principio não se destinarem a paredes duplas com caixa de ar. Logo as
peças terão de ser obrigatoriamente isoladas exteriormente, caso contrário como
não há uma separação entre a parte exterior e a interior da parede (ausência de
caixa de ar), os tijolos iriam fazer o transporte de humidades para o interior,
assim como aquecer por ação do sol e transmitir esse calor para o interior o
que no verão seria uma catástrofe. Outro possível inconveniente parece ser, nos
tijolos de furação vertical, a abertura de roços para as tubagens de
eletricidade e canalização. De recordar que nos tijolos tradicionais, nos roços
horizontais é comum fazer-se apenas um pequeno corte nas juntas verticais para
permitir a passagem dos tubos pelo interior do tijolo.
Em
habitações de construção económica o sistema de paredes duplas com caixa de ar
parece-me ser o mais indicado, pois embora haja quem diga o contrário, o preço
deve ser bastante inferior. Embora seja necessário fazer duas paredes, se
tivermos em consideração que o tijolo a utilizar pode ser o tradicional com as
medidas de 30x20x11, irá ficar mais barato, pois mesmo que se faça apenas uma
parede com tijolo térmico o preço de uma só destas peças, mesmo daquelas de
medidas mais pequenas, é bem mais alto do que o preço de dois tijolos
tradicionais de 30X2x11. O contra pode ser a mão de obra, mas, baseando-me na
minha própria experiência e fazendo uma ligação deste artigos aos outros que
escrevi sobre “construir a própria casa” essa desvantagem pode ser anulada se o
trabalho for, no todo ou em parte, feito pelo próprio.
É
certo que o isolamento pelo exterior pode ser aplicado sobre qualquer tipo de
tijolo, mas ninguém vai querer que a sua casa fique com as paredes demasiado
estreitas, pois isso irá dar sempre uma sensação de insegurança, para além de,
como já disse, poder ser necessário um mínimo de largura para o funcionamento
dos estores ou de outras aplicações no interior das paredes. Por isso os
tijolos têm de ser bastante largos e a caixa de ar parece ser de dupla
vantagem, mas fazer caixa de ar e aplicar o isolamento pelo exterior não parece
ser muito lógico.
Neste prédio as paredes foram construídas com tijolos térmicos. Aparentemente destinam-se a receber o isolamento pelo exterior (ETICS). |
O
ETICS deverá ser uma boa solução, por exemplo, para casas que foram construídas
sem caixa de ar ou em casos em que a caixa tenha ficado mal construída e que
esteja a dar problemas e ainda em prédios a necessitar de restauro exterior; no
entanto, em construções novas, principalmente naquelas em que se pretende uma
maior economia, mesmo que seja necessário abdicar de algum conforto (mas isso é
discutível), o sistema de paredes duplas com caixa de ar parece ser preferível.
Claro
que tudo o que escrevi aqui é apenas a minha opinião pessoal, baseada na minha
experiência e, certamente, existirão opiniões melhores, mas no que ao assunto
diz respeito sempre adianto que a minha casa foi construída com caixa de ar,
não tendo levado qualquer tipo de isolamento no seu interior e, mesmo nas
paredes viradas a sul, que são com frequência fustigadas pela chuva, nunca
observei qualquer indicio de humidade no interior e nem com o sol a incidir
fortemente no verão sobre as mesmas paredes verifiquei qualquer influencia
negativa sobre a temperatura do interior. Mas, neste último caso, tenho a
vantagem de as paredes estarem pintadas de branco, pois como é sobejamente
conhecido as cores claras não absorvem tanto as radiações solares.
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Taí algo que nunca prestei atenção! Olho quando já está pronto sem imaginar o recheio. Mas lembro de casas pobres no interior do país feitas de taipa - acho que é argila, numa técnica ensinada pelos escravos.
ResponderEliminarPerto da minha casa tem uma empresa que comercializa drywall. Não sei muito bem o que é isso, só sei que substitui tijolos diminuindo o tamanho ocupado, aumentando o espaço interno das construções.
Obrigada pela matéria!
Olá Luma. Obrigado pelo comentário.
ResponderEliminarA sua observação sobre esse material que substitui os tijolos, o drywall, deixou-me curioso. Vou tentar descobrir o que é.
Uma boa semana!
No meu caso vou fazer o aumento de paredes já existentes com perto de 50 anos com certeza não terão nada disso. Posso no aumento fazer a tal parede dupla com caixa de ar?
ResponderEliminarAcho que pode aumentar as paredes fazendo caixa de ar, não vejo por que não...
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