HISTÓRIA DOS MOINHOS DE VENTO AMERICANOS

Um moinho a necessitar de recuperação. O seu aspeto
decadente entristece a paisagem.
Estamos numa época em que as contas com os preços da energia elétrica e dos combustíveis fósseis atingem níveis elevadíssimos, não sendo de estranhar, por isso, que estejam a ser procuradas novas formas de fazer mover equipamentos e máquinas, utilizando energias alternativas que podem ser de mais baixo custo ou até gratuitas em alguns casos, como sejam as energias solar e eólica.

A utilização da energia eólica para fazer rodar os moinhos que faziam a trituração dos cereais, já vem de há muitos séculos atrás e esse termo: "moinho" deriva do latim molinum, de molo, que significa moer, triturar cereais ou dar à mó. No entanto, hoje em dia, chama-se moinho não só a esses engenhos de moagem de cereais, mas também a outros sistemas movidos pelo vento, como as bombas eólicas e também as grandes e modernas torres que transformam a força do vento em energia eletrica, destinada a ser utilizada para os mais diversos fins. Essa designação deverá estar incorreta, uma vez que esses equipamentos não se destinam a fazer a moagem do que quer que seja.

Um moinho de bombagem de instalação
recente.
Entre essas máquinas, a que por vezes se dá a designação de moinhos, estão os chamados moinhos de bombagem de água americanos e dos quais se vêm imensos nas zonas rurais, destinados a fazer a elevação da água dos poços, através de uma bomba de sucção que é acionada pela turbina metálica instalada, normalmente, numa torre em ferro. É verdade que muitas dessas máquinas foram construídas há muito tempo e encontram-se agora inoperacionais, mas o certo é que se estão a instalar outras, novas, e também se vêm muitas a ser recuperadas para voltarem a funcionar de novo.

Esse modelo de máquina, contrariamente ao que se possa pensar, não é só utilizada para bombagem de água, pois também existem muitos moinhos de cereais, que são ou foram movidos por turbinas desse tipo e que eram instaladas por cima do edifício onde funcionavam as mós.




Este moinho baseia-se no modelo americano e servia para moagem de cereais.
Está instalado em cima de uma casa de habitação, onde outrora funcionavam as mós. 

Este moinho americano situa-se em Alcabideche/Portugal. Foi absolutamente
 recuperado e pretende dar a conhecer a importância dos moinhos como
 património que deve ser preservado.
http://www.cm-cascais.pt/equipamento/moinho-de-armacao-tipo-americano-alcabideche

Essas máquinas, designadas de moinhos do “tipo americano” surgiram em meados do século XIX; eram eficazes e de fácil instalação e difundiram-se com sucesso, tendo chegado a Portugal nas primeiras décadas do século XX. Essas estruturas ganharam esta denominação pelo facto de se tratar de uma criação oriunda dos Estados Unidos da América. Foram muito importantes no desenvolvimento rural do novo continente e essa importância atravessou mares e fronteiras fazendo parte da história da agricultura desse e doutros países.

Os primeiros imigrantes que se fixaram no Hemisfério Ocidental levaram com eles a tecnologia de moinhos de vento que se tinha desenvolvido no Velho Mundo. Os moinhos do “tipo americano” tinham o mesmo projeto básico dos moinhos de vento utilizados na Europa.


Um moinho misto de madeira e metal de 1880 na cidade de Dakota do Sul.
Naquela época a madeira era o material que mais se usava. Repare-se que
o próprio depósito para a água era construído em madeira.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AOld_Windmill.jpg

Essas máquinas de vento, inicialmente eram construídas com uma mistura de madeira e metal e, tipicamente, tinham quatro grandes lâminas de madeira que convertiam a força do vento em movimento rotativo, que era utilizado para vários fins, entre os quais se incluía a moagem de cereais para a sua transformação em farinha. Os moinhos de vento de estilo europeu eram caros de construir e requeriam uma atenção constante para assegurar o seu bom funcionamento. Por isso foi necessário desenvolver novas máquinas, mais práticas e bastante diferentes na aparência.

Cartaz publicitário aos moinhos de
Daniel Hlladay.
Daniel Halladay, em 1854, projetou um moinho de vento que viria a ser bem sucedido, comercialmente, no Novo Mundo.  O seu moinho tinha um sistema que permitia que as suas pás se colocassem automaticamente na direção do vento dispensando a intervenção humana, podendo também, de forma automática, controlar a velocidade da roda de modo a não se destruir devido ao excesso de vento que ocorria em tempestades frequentes.

Halladay construiu o seu primeiro moinho de vento de auto-governação em Connecticut, onde a sua empresa laborou de 1854 até 1863.  Atrasos na produção e transporte, alguns causados ​​pela Guerra Civil Americana, levaram-no a mudar o local da fábrica para Batavia, Illinois. Ali, no rio Fox Valley, a oeste de Chicago no centro oeste americano, a empresa prosperou.  Halladay vendeu os seus moinhos de vento padrão aos milhares de agricultores e pecuaristas nas planícies e pradarias da América do Norte, chegando a comercializá-los ainda mais longe.

Mas, nos Estados Unidos da América existiram imensas fábricas que produziram este modelo de moinhos de vento. Na sua maioria eram pequenas oficinas que faziam estas máquinas para uso local. Muitas mostravam as fraquezas dos seus projetos logo após o primeiro vendaval. Mas mesmo assim alguns fabricantes prosperaram e produziram muitos milhares de moinhos, tendo até feito exportação das suas máquinas para todo o mundo.

O Oeste americano era propício à criação de gado. O problema mais grave enfrentado pelos fazendeiros era a obtenção de água. Para resolver esse problema, moinhos de vento baratos, feitos principalmente de madeira, foram vendidos em grandes quantidades. Os maiores podiam elevar a água até 100 metros.

Esses moinhos de vento de madeira iam cumprindo a sua missão, mas eram difíceis de manter. Muitas peças se soltavam e deterioravam-se rapidamente, o que obrigava a muito trabalho de manutenção. Eles também não estavam aptos a elevar a água de grandes profundidades e, por isso, os fabricantes começaram a substituir a madeira pelo ferro até que finalmente foi produzido o moinho todo em metal. Inicialmente, as máquinas de metal eram impopulares pois existia a preceção de que seriam mais caras e de mais difícil reparação e manutenção. Em poucos anos, com um grande esforço de marketing que prometia que os moinhos de aço iriam bombear muito mais água do que os moinhos de madeira, as máquinas de metal ganharam aceitação e passaram a dominar o mercado. Os construtores que não evoluíram deixaram de ter clientes para o seu produto. Finalmente, depois de muito trabalho de desenvolvimento, o moinho de vento americano era utilizado com sucesso para bombear água a mais de 1200 pés (400 metros de profundidade).


O moinho padrão de Halladay exposto no Mid-America Windmill museu em Kendallville, Indiana.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3AHalladay_windmill%2C_Lubbock%2C_TX_IMG_1653.JPG

Vários fatores económicos e tecnológicos contribuíram para o declínio do uso de moinhos de vento tradicionais nas planícies americanas.  Os primeiros competidores importantes que as máquinas de vento enfrentaram foram pequenos motores de combustão interna, usados ​​por alguns agricultores e pecuaristas para o trabalho mecânico, incluindo bombeamento de água.  O declínio dos preços dos produtos agrícolas em 1921, após a Primeira Guerra Mundial, reduziu a capacidade das pessoas para adquirir novos moinhos de vento, uma situação que se agravou com a depressão económica geral durante os anos 30.  A aprovação da Lei de Eletrificação Rural, em 1935, permitiu a muitos agricultores das planícies começarem a consumir eletricidade relativamente barata, que era muitas vezes utilizada para operar as bombas de água, diminuindo ainda mais a procura por moinhos de vento.


A imaginação de cada um fez com surgissem moinhos muito originais,
 baseados no histórico modelo americano, como este situado algures
no centro de Portugal.

Provavelmente o que fez diminuir a utilização dos moinhos de vento para a bombagem de água nos Estados Unidos (aparecimento de motores de combustão e elétricos mais baratos do que as máquinas eólicas) foi também o que restringiu esse uso noutros países incluindo Portugal. No entanto essas máquinas nunca deixaram de funcionar na totalidade e agora, como já disse no início deste texto, com o alto preço da eletricidade é natural que voltem a ser uma alternativa muito válida. De resto, quem é que não gostaria de ter uma máquina dessas instalada na sua quinta ou até numa pequena horta, trabalhando silenciosamente, sem fazer poluição e sem consumir qualquer combustível? Infelizmente o seu preço demasiado elevado continua a ser o maior obstáculo.

Sites consultados:
http://www.ironmanwindmill.com/windmill-history.htm
http://johnswindmillcorner.blogspot.pt/
http://plainshumanities.unl.edu/encyclopedia/doc/egp.ii.062#egp.ii.062


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11 comentários:

  1. Boa noite,
    Desde já os meus parabéns pelo artigo.
    Gostaria de saber, se possível, onde se situa a casa da terceira foto do artigo, aquela que possui a legenda "Este moinho baseia-se no modelo americano e servia para moagem de cereais. Está instalado em cima de uma casa de habitação, onde outrora funcionavam as mós.".
    Muito obrigado pela atenção.
    Cumprimentos,
    Armando Ferreira

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    1. Boa tarde. Obrigado pelo comentário.
      Não sei precisar exatamente o local, sei que fica numa estrada próximo de Santiago da Guarda e, não muito longe dali, próximo de Redinha, existe pelo menos outro moinho idêntico.
      Os meus cumprimentos.

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  2. De muito interesse esta nota sobre a História deste tipo de engenho a que na região do Grande Porto chamam MOTORES A VENTO.
    A roda motriz deste engenho tipo americano é composta por múltiplas pás, mais largas em alguns engenhos, mais estreitas noutros, mas sempre com uma ligeira torção ou inclinação a dar a ideia de hélice, por forma a ser empurrada pelo vento.
    Ora, na zona onde resido, estes elementos helicoidais têm um formato diferente. Não irradiam do eixo da roda, estão, sim, fixas na extremidade de varetas (raios) e são muito "côncavas" mas eficazes. Tenho pena de não possuir foto que mostraria a sua forma. Gostaria de saber, se isso for possível, se este modelo de pá é característico desta zona - MAIA -, ou se existem noutras regiões do nosso país.
    Agradeço a atenção.
    Sérgio O. Sá

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    1. Creio que a formato deste tipo de moinhos é comum a todo o país e até a outros países. Na minha zona (região de Coimbra) para além de imensos moinho de moagem de cereais, existem também muitos do tipo americano e os que conheço são mais ou menos como os que descreve como sendo da sua zona. Claro que existem diferenças no tamanho, número de pás, etc, mas não existem outras diferenças significativas.
      Obrigado pelo comentário.

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  3. Boa noite se me é permitido falar sobre estas máquinas posso dizer que no CADAVAL Região Oeste existe um grande cata-vento que já é museu mas servia para moer cereais e está sobre a casa onde existem as mós tem por nome moinho das castanholas...no entanto eu próprio já construí um catavento mas para fazer de eólico tem 24 pás e 2,60 mt de diametro mas como não tem a força desejada vou aumentar a turbina se assim se pode chamar para 5 mt de diametro para conseguir gerar no minimo 500 W ...OBRIGADO PELO COMENTÁRIO irei seguir atentamente este blog se ainda estiver activo...obrigado. João Pedro

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    1. Este blog está activo. Estão aqui muitos artigos sobre energia eólica e também no meu canal do Youtube postei vários vídeos sobre turbina eólicas e de bombagem de água que construí.
      Obrigado pelo comentário.

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  4. Eu faço reparações de moinho de vento tirar água poço ou furo com e vendo recuperados

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    1. boas. tenho um moinho americano que precisa da parte que faz elevação da água. arranja esse tipo de material?

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  5. Olá, possuo um cata-vento americano (centenário). Tenho interesse em vender. Ele está em ótimo estado. Preço R$25.000,00 (inclui a torre de sustentação). Localização Araruama, Rio de Janeiro.

    Maurilio Figueiredo.

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  6. Email para contato do anúncio acima: maurilioff@gmail.com

    Obrigdo.

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