AÇUDES, CANAIS DE REGA E MOINHOS DE ÁGUA

Esta é a nascente de um pequeno rio que tem, ao longo dos quarenta
quilómetros do seu percurso, várias dezenas de moinhos e lagares. A sua
água é logo aqui aproveitada para o funcionamento de um lagar.

É impressionante o número de açudes que outrora foram construídos nos pequenos rios. Há cursos de água onde eles chegam a ser, em média, na ordem de um por quilómetro, ou perto disso. Um açude, que também é conhecido como represa, pode servir para regularizar caudais ou abastecer povoações, mas, nos rios mais pequenos ou ribeiros, eles foram construídos sobretudo com a finalidade de elevar a água, permitindo assim criar uma levada ou um canal por onde, através de uma comporta, se controla a quantidade de água que entra nessa levada e que segue, durante algumas dezenas ou centenas de metros, numa cota um pouco superior ao terreno, o que permite através de portinholas colocadas ao longo da levada fazer sair a água necessária para efetuar regas por gravidade, ou seja, fazer circular a água por regos e pelas culturas.

A rega dos terrenos, pela ação da gravidade é, nos pequenos rios, um papel importante dos açudes, mas não é o único. Existem outros não menos importantes, como a utilização da força da água para fazer girar a roda de um ou mais moinhos de moagem de cereais e também de lagares. Parecem sistemas sustentáveis perfeitos e são-no de facto, mas para que existam é necessários que a configuração do terreno o permita e, por incrível que pareça, muitos, destes sistemas de rega e moinhos, instalados em locais onde foi possível a sua implantação, portanto em terrenos privilegiados, estão totalmente desativados. No caso dos moinhos e perante a evolução das tecnologias agrícolas, é permitido pensar que se tornaram sistemas obsoletos e deixou de ter interesse a sua manutenção em funcionamento, mas quanto aos sistemas de rega com água tirada dos rios sem qualquer intervenção mecânica e portanto, sem o consumo de qualquer tipo de energia, custa mais a compreender o seu abandono.

A explicação que encontro para esse abandono é que muitos destes empreendimentos: açudes, canais de rega e moinhos, eram levados a cabo por proprietários abastados, que possuíam grandes terrenos ou quintas nas margens dos rios e para quem a agricultura deixou de ter interesse, tendo abandonado ou vendido os seus terrenos. Neste último caso, alguma coisa se salvou, como esta levada que já não é utilizada para regas, mas que ainda leva a água ao seu moinho, fazendo girar as suas mós e produzindo farinha, mas agora apenas para turista ver.

Este moinho foi recuperado para servir como atracão turística e o pequeno vídeo inserido neste post mostra o funcionamento das mós e da roda de água em simultâneo, uma vez que o piso é gradeado deixando ver a água que cai da levada para a roda, fazendo-a girar.




Este sistema de rega e moinho pertenciam a uma propriedade privada, sendo portanto um sistema para uso individual ou familiar, mas existem muitos sistemas de rega por gravidade, cuja água sai dos rios ou dos ribeiros e segue em valas ou valetas atreves de aldeia inteiras. Neste caso são sistemas de regas comunitários que se encontram devidamente regulamentados e os agricultores por ele servidos têm água para regar as suas propriedades à disposição, durante períodos de tempo e em datas que constam dos respectivos regulamentos. Os agricultores servidos por essa água, apenas a podem utilizar nas datas e horas marcadas, que pode ser a qualquer hora da noite. Essa água, assim distribuída, é popularmente conhecida como “água de horas”. 


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