OS FORNOS DE TELHA DO VALE FEIJÃO

Telhas serranas produzidas no Vale Feijão
Miranda do Corvo tem uma grande tradição na arte de trabalhar o barro. A origem da olaria é muito remota, porém sabe-se que ela teve um grande incremento nos séculos XVI e XVII e todos têm conhecimento de que essa arte continua a fazer parte do quotidiano mirandense, focada principalmente na aldeia do Carapinhal.

No concelho para além da olaria, existem, ou melhor dizendo, existiram também várias fábricas ligadas à industria do barro para confeção de púcaros para a resina dos pinheiros, que fecharam há muito tempo, talvez quando começaram a aparecer as púcaras feitas de plástico. De desaparecimento mais recente foram as fábricas de produção de tijolo e tijoleira para a construção civil. Estas eram várias e quase todas elas encerraram possivelmente devido ao facto de se terem tornado obsoletas, no entanto, uma delas encerrou devido à crise que se instalou na construção civil de há uns anos a esta parte, pois tratava-se de uma fábrica de construção recente, que utilizava processos modernos de fabrico.

Tudo isto é de conhecimento mais ou menos generalizado, pois a maioria dessas instalações fabris, pelo menos as que existiram nas proximidades da vila ficavam situadas junto a estradas mais ou menos movimentadas e ainda se avistam as suas grandes chaminés e até algumas ruínas.

No entanto, e isso possivelmente muitos mirandenses mais novos não saberão, é que muito perto do centro da vila, até meados do século XX, se produziu a popular telha serrana com que ainda hoje muitos barracões e até casas de habitação se encontram cobertas. Esse centro de produção situava-se no Vale Feijão, num local com acessos rudimentares e que hoje está profusamente infestado por acácias. Ainda se podem ver os restos de alguns fornos onde essa telha era cozida, mas apenas um está mais ou menos de pé, se bem que em avançada ruína.

Parte frontal de um dos fornos do Vale Feijão

O interior do forno. Tem cerca de 6 m2 de área e foi invadido por acácias
Algumas dessas telhas eram bastante toscas, no entanto têm aguentado dezenas e dezenas de anos de intempéries, com mais resistência do que algumas de fabrico recente que têm dificuldade em resistir ao gelo. As telhas eram moldadas uma a uma através de duas peças de madeira que tinham o formato das telhas e por isso se imagina a necessidade de um elevado número de trabalhadores para fabricar esse produto em grandes quantidades.

Hoje, nada mais resta ali a não ser mesmo os restos semi-desaparecidos desses fornos e o murmúrio lúgubre do vento, agitando as acácias, como que a assobiar a música do requiem pelo local.





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