Já
escrevi alguns posts no blog sobre o meu sistema solar térmico, mas tenho de
falar novamente sobre o assunto, uma vez que estou a fazer uma restauração e
modificações importantes que, caso resultem, poderão aumentar
significativamente a sua eficiência nos meses mais frios do ano.
A
aparência deste sistema que funciona por termossifão, pode parecer rudimentar ou até inestético, mas o certo é que ele tem cumprido a sua missão de
aquecer água para banhos já há quase uma dezena de anos, sem grandes complicações.
O problema maior é a pouca pressão com que a água chega às torneiras e é esse
contratempo que estou agora a tentar resolver, com a introdução, dentro dos depósitos, de uma serpentina com 100 metros de tubo, 50 mts em cada depósito.
O
ideal seria, sem dúvida, a compra de um sistema novo que me resolveria o
problema e evitaria trabalhos adicionais e o certo é que estive quase a
concretizar a aquisição de um kit solar de tubos de vácuo, daqueles que
funcionam sem pressão e em que a água da rede circula numa serpentina instalada
no depósito e que é aquecida pela água que foi por sua vez aquecida pelo
colector devido à circulação por termossifão entre este e o depósito. A água
aquecida deste modo chega ás torneiras com a pressão da rede, sem que o
depósito ou o painel esteja sujeitos a pressão, a não ser a pressão atmosférica
natural.
Estes
sistemas são mais económicos, sendo que por cerca de 900 euros, poderia fazer
chegar um kit de 300
litros a minha casa e pouco mais gastaria, uma vez que
faria a instalação por mão própria aproveitando as tubagens já existentes. Isto
seria ótimo, mas…
Comecei
a deitar contas à vida e cheguei à conclusão que existiam outras prioridades e
que o meu rústico, e velhinho sistema solar ainda pode aguentar mais
uma meia dúzia de anos. No terraço, onde ele está instalado, consigo vislumbrar
o telhado e já ando há algum tempo a olhar de soslaio para a parte virada a
norte, onde as telhas estão a ficar completamente apodrecidas, necessitando de
uma substituição da cobertura a muito curto prazo. Esse foi um dos motivos da
desistência da compra do kit solar novo, mas existiram outros, como o risco de
tal aquisição sem conhecer ninguém que me pudesse dar uma opinião assente em
experiência prática e o “baixo preço” do equipamento suscitava-me algumas
dúvidas.
Mas
o que mais interferiu na minha decisão de continuar a utilizar o meu sistema
caseiro foi o gosto pelos trabalhos práticos e de me poder servir de algo que
fui eu próprio que fiz, pelo menos em parte. De qualquer modo aqueles sistemas
com depósito sem pressão e que funcionam um pouco ao contrário do que
acontece com os sistemas mais usuais deram-me uma ideia que acabei de colocar
em prática.
Serpentinas nos depósitos. |
Este
projeto caseiro incluiu a construção de um colector para colocar ao lado do já
existente e a introdução dentro dos depósitos de uma serpentina feita em tubo
de ½ polegada. Esta serpentina tem 100 metros e, mergulhada na água quente dos
depósitos, irá aquecer a água para usos sanitários e sairá para as torneiras
com a pressão da rede, o que permite a sua ligação direta ao esquentador a gás,
sempre que a temperatura da água não seja suficiente para tomar um banho
confortável.
A
água que saía dos depósitos para as torneiras, por gravidade, não tinha pressão
suficiente para fazer funcionar o esquentador e isto era um desperdício nos
meses mais frios do ano, pois mesmo em dias sem sol a água sempre aquecia
alguma coisa e, se fosse direcionada para o esquentador, iria mais facilmente
atingir a temperatura ideal e sempre se poupava alguma coisa.
Este
foi o principal motivo desta alteração no sistema de aquecimento da água, mas o
que deu mais trabalho foi a construção de mais um colector, uma vez que tinha
apenas um a funcionar. Esse painel que é de construção industrial foi-me
oferecido já usado e, no verão, era mais do que suficiente para ter sempre água
quente. Mas, nessa estação do ano, qualquer coisa serve para aquecer a água e, para mais, a água quente
consumida nessa época é muito pouca, pois, na generalidade, apenas se mistura
uma pequena quantidade na água fria da rede para tomar banho.
A
forma como construí o colector é completamente original e, embora vá descrever a
forma como procedi e os materiais que utilizei, não aconselho ninguém, por
enquanto, a tentar fazer um igual, uma vez que, estando a funcionar apenas há
dois dias, não sei qual vai ser o seu comportamento nem a sua duração, apenas
podendo afirmar já que aquece a água mais ou menos com a mesma eficiência do
que o painel de fabrico profissional. Daqui a alguns dias, ou semanas, darei
mais informações sobre o mesmo.
De
resto, a construção deste colector foi muito simples. Recorri a dos tubos de pvc de
pressão, um com ½ polegada e outro de 1 polegada . Estes tubos
foram cortados à medida da largura do painel e o mais estreito foi enfiado e
colado dentro do tubo mais largo para aumentar a sua resistência mas,
sobretudo, para engrossar as suas paredes que assim ficaram com cerca de 1 cm . de espessura. Depois
abri furos neste tubo reforçado e também roscas de 8 mm . Depois cortei um tubo de
alumínio em pedaços de 5 cm ,
nos quais abri também roscas. Estes tubos de alumínio foram enroscados e
colados nos tubos de pvc, convindo dizer que utilizei o máximo cuidado para que
as uniões ficassem perfeitas para que não existissem vazamentos. Numa ponta
desses tubos de pvc coloquei um tampão e na outra uma redução de latão de uma
para meia polegada. A vedação deve ser feita no tubo mais largo, para evitar
fugas de água que possa passar para o espaço entre os dois tubos.
Feito
isto, cortei pedaços de tubo de cristal de 8 mm de diâmetro , de boa qualidade, tendo depois aquecido,
enfiado e colado uma ponta nos tubos de alumínio. De seguida enfiei tubos de
rega gota a gota, dentro dos tubos de cristal. Estes estreitos tubos onde irá
aquecer a água entraram à justa e com a ajuda de um pouco de óleo nos tubos de
cristal e também um pouco dentro dos tubos de alumínio, tendo ficado bem unidos
e, por agora, não há sinal de vazamentos, mas se isso vier a acontecer poderei
utilizar braçadeiras apertando os tubos de cristal em torno dos tubos gota a
gota.
Este
foi o trabalho mais melindroso deste projeto original, mas não foi o único,
pois, naturalmente, tive que fazer um tabuleiro para assentar os tubos. Este
tabuleiro foi construído com restos de materiais das minhas obras, tendo o
fundo sido revestido com placas de isolamento e, por cima destas, uma chapa
metálica de zinco que foi lixada e pintada com tinta preto fosco. Para a
cobertura do colector recorri a uma placa de policarbonato, placa esta que me
foi recomendada como sendo durável e resistente aos raios solares e também a geadas, sendo muito utilizada em estufas.
Conjunto de passadores que permite alternar entre água aquecida só pelo sol, ou com ajuda do esquentador a gás. |
Termino
aqui a descrição textual do projeto, mas as imagens deste post poderão também
ajudar a compreender como o trabalho foi efetuado. Para além das imagens, este
post contém também um vídeo onde pode ser vista a água quente a entrar, por
circulação natural, no interior de um dos depósitos, antes de lá ter colocado
as serpentinas. Este sistema, denominado de termossifão, consiste geralmente
num ou mais colectores ligados a um depósito bem isolado e posicionado a um
nível mais alto. Não são necessárias bombas circuladoras,
pois a circulação de água faz-se de forma natural, induzida pela
diferença de densidade entre a água quente e fria. A água no colector fica
menos densa ao ser aquecida deslocando-se para a parte superior do circuito, dentro do depósito. A água mais fria (mais densa) desce para a parte mais
baixa do circuito à entrada do colector. Uma vez no colector, o ciclo começa
de novo e a circulação continua desde que haja radiação solar. O caudal de
circulação aumenta com o aumento da intensidade de radiação solar e a água a
utilizar é retirada da parte superior do depósito solar.
Este
modo de circulação da água é sobejamente conhecida, mas poucos conseguem ver
essa circulação de modo real, uma vez que os depósitos são fechados, no entanto
como o meu sistema é bastante original consegue-se ver a água quente a entrar
no depósito. É apenas uma curiosidade que fica registada no vídeo, numa altura
em que o sol brilhava, com a temperatura a rondar os 15 graus.
Nota do autor:
Este sistema foi, entretanto, modificado com a inclusão de mais um coletor e com a introdução de novas serpentinas nos depósitos. Os coletores de construção caseira foram também melhorados com novas tubagens. Brevemente escreverei um artigo sobre o assunto, deixando, para já algumas fotos...
Pode consultar o novo artigo em: Sistema solar térmico com tubos multicamada
Pode consultar o novo artigo em: Sistema solar térmico com tubos multicamada
Artigos relacionados
O autor escreveu este post em tom de brincadeira, dizendo que o seu aquecedor solar de água iria revolucionar o mercado e que iriam ser construídos milhares de equipamentos destes... Brincadeiras à parte o certo é que o sistema funciona muito bem, mas entretanto os tubos que eram de plástico tiveram que ser substituídos por outro tipo de material, devido ao aparecimento de algumas fugas de água. Veja como o sistema funciona, mas depois leia o post seguinte que está devidamente atualizado em relação a este assunto... Quero ler o artigo
Este sistema solar caseiro é, talvez, único no mundo devido ao modo como foi confecionado. Pode parecer rudimentar, mas o certo é que está a funcionar há vários anos, aquecendo água não só para banhos, mas também para lavar roupa ou louça, entre outros usos. No entanto este sistema não foi sempre como agora, pois tal como outros projetos foi sendo melhorado ao longo do tempo. O único inconveniente é a necessidade de alguma vigilância e manutenção, principalmente no inverno devido ao congelamento da água nos coletores... Quero ler o artigo
Sem comentários:
Enviar um comentário