Comecei a trabalhar aos dez anos, tendo exercido funções em áreas de trabalho bastante diversificadas. De entre as várias profissões que tive, conta-se uma experiência de três anos como empregado de escritório, numa empresa de serração de madeiras, nos anos de 1969 a 1971, emprego que se seguiu a um em que trabalhava como ajudante de serrador numa outra empresa do género.
É curioso como naquela altura, apesar de haver muitas carências a vários níveis e muitas dificuldades, era bastante fácil conseguir-se trabalho, pelo menos nesta zona. Num dia despedíamo-nos de um patrão, no outro íamos trabalhar para outro lado. Existiam por aqui várias serrações de madeiras que, só na área da vila, eram seis. Também laboravam no concelho algumas cerâmicas de barro vermelho, uma das quais era até há alguns anos atrás uma das maiores empregadoras da terra. Também, aproveitando as facilidades de deslocação entre Miranda do Corvo e Coimbra, proporcionadas pelo caminho-de-ferro, muitas pessoas optavam por ir trabalhar para a cidade.
Terá sido por este motivo que uma empresa de média dimensão que pretendia instalar-se no concelho foi impedida de o fazer pois, segundo ouvi falar, houve pressões por parte dos patrões da vila nessa decisão, motivadas pelo receio de não terem depois mão de obra disponível para as suas fábricas. Tratava-se da “Leca”, empresa de materiais para construção civil, que queria fabricar os seus produtos utilizando a argila que existe com alguma abundância na região. Esta empresa foi instalar-se no concelho de Ansião, nas proximidades de Avelar. Esta decisão seria impensável nos dias de hoje, em que um dos maiores problemas desta terra é a falta de trabalho, não se vislumbrando uma solução a curto ou médio prazo.
Mas voltando ao meu emprego no escritório, devo dizer que fui admitido sem que tivesse qualquer experiência desse trabalho e até confesso que nessa altura mal sabia escrever ou fazer contas, pois já tinha saído da escola há três anos e nunca mais pegara numa caneta ou num lápis.
A princípio as coisas estiveram bastante complicadas, mas graças à paciência dos patrões, principalmente de um deles que estava mais ligado à parte administrativa da empresa e que teve a ingrata tarefa de me ensinar, consegui lentamente ir assimilando alguns conhecimentos, tendo acabado por chegar a fazer a quase totalidade do trabalho do escritório.
Naquele tempo não existiam computadores, a escrita era quase toda feita à mão e os salários pagos semanalmente em dinheiro. Como as vendas de madeira eram geralmente feitas ao metro quadrado ou metro cúbico era necessário fazer muitas contas, valendo para isso uma máquina que considero espectacular que existia no escritório. Tratava-se de uma calculadora mecânica de manivela marca Schubert de fabrico alemão. Pode parecer ridículo considerar uma máquina dessas que hoje está completamente ultrapassada de espectacular, mas para quem tivesse prática a operar com ela, tratava-se de uma pequena maravilha devido à rapidez com que se efectuavam operações matemáticas de alguma envergadura. Passados tantos anos já não me recordo exactamente de como era o seu funcionamento, lembro-me apenas que rodando a manivela para a frente ela somava e para trás subtraía. Depois, como no fundo uma multiplicação é um conjunto de somas e uma divisão um conjunto de subtracções, creio que o seu funcionamento se baseava nesse método e assim se processavam as quatro operações aritméticas.
Quando iniciei o meu trabalho no escritório tinha por esta máquina um grande pavor, pois achava-a tão complicada que pensava que nunca iria aprender a trabalhar com ela. Quando via o meu patrão a operá-la com uma rapidez impressionante, fazendo contas complicadíssimas, ficava fascinado e sentia-me ainda mais pequenino, pois não conseguia compreender o seu funcionamento. Porém, aos poucos, lá fui descobrindo os seus segredos e, quando finalmente a consegui compreender na totalidade, vi que afinal era muito fácil trabalhar com ela. De resto, creio que é o que acontece com muitas coisas na vida. Quando não estamos dentro de determinado trabalho ou assunto, afligimo-nos com as dificuldades que eles aparentam ter. Depois quando nos inteiramos da realidade vimos que não são tão difíceis assim.
No escritório existia também uma máquina de escrever marca “Olímpia”. Nesta máquina a posição das teclas era diferente dos actuais teclados dos computadores e até de outras máquinas de fabrico posterior. As suas teclas começavam pelas letras HCESAR e o seu teclado numérico não tinha as teclas correspondentes ao zero nem ao um, sendo estes algarismos obtidos com a tecla da letra O para zero e L para um. Adorava escrever à máquina e ficava muito contente quando o patrão me entregava rascunhos de cartas ou ofícios da empresa para dactilografar. Como, depois na Marinha também exerci funções de dactilógrafo, adquiri muita prática neste trabalho, pelo que mais tarde quando comecei a trabalhar em computadores muitas vezes ainda, sem me aperceber, teclava na letra O e L para escrever o zero ou o um, devido à força do hábito.
Naquele tempo era fundamental saber escrever português correctamente, pois não existia esta pequena maravilha que é o Word, um processador de texto que nos dá a indicação de erros e sugestões para os corrigir. Quando pressionava-mos a tecla de uma letra errada a única hipótese de a eliminar era recorrendo à rasura utilizando uma borracha própria para o efeito, ou então meter outra folha na máquina e começar tudo de novo.
Outra curiosidade daquele tempo era o facto de os empregados de escritório serem popularmente conhecidos como guarda-livros, designação que tem caído em desuso ao longo dos anos.
Estive três anos no escritório, onde adquiri conhecimentos de escrita e contabilidade que me foram muito úteis no futuro, após o que me despedi para ingressar na Marinha.
Leia outros artigos do mesmo género, listados em HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DE VIDA
É curioso como naquela altura, apesar de haver muitas carências a vários níveis e muitas dificuldades, era bastante fácil conseguir-se trabalho, pelo menos nesta zona. Num dia despedíamo-nos de um patrão, no outro íamos trabalhar para outro lado. Existiam por aqui várias serrações de madeiras que, só na área da vila, eram seis. Também laboravam no concelho algumas cerâmicas de barro vermelho, uma das quais era até há alguns anos atrás uma das maiores empregadoras da terra. Também, aproveitando as facilidades de deslocação entre Miranda do Corvo e Coimbra, proporcionadas pelo caminho-de-ferro, muitas pessoas optavam por ir trabalhar para a cidade.
Terá sido por este motivo que uma empresa de média dimensão que pretendia instalar-se no concelho foi impedida de o fazer pois, segundo ouvi falar, houve pressões por parte dos patrões da vila nessa decisão, motivadas pelo receio de não terem depois mão de obra disponível para as suas fábricas. Tratava-se da “Leca”, empresa de materiais para construção civil, que queria fabricar os seus produtos utilizando a argila que existe com alguma abundância na região. Esta empresa foi instalar-se no concelho de Ansião, nas proximidades de Avelar. Esta decisão seria impensável nos dias de hoje, em que um dos maiores problemas desta terra é a falta de trabalho, não se vislumbrando uma solução a curto ou médio prazo.
Mas voltando ao meu emprego no escritório, devo dizer que fui admitido sem que tivesse qualquer experiência desse trabalho e até confesso que nessa altura mal sabia escrever ou fazer contas, pois já tinha saído da escola há três anos e nunca mais pegara numa caneta ou num lápis.
A princípio as coisas estiveram bastante complicadas, mas graças à paciência dos patrões, principalmente de um deles que estava mais ligado à parte administrativa da empresa e que teve a ingrata tarefa de me ensinar, consegui lentamente ir assimilando alguns conhecimentos, tendo acabado por chegar a fazer a quase totalidade do trabalho do escritório.
Naquele tempo não existiam computadores, a escrita era quase toda feita à mão e os salários pagos semanalmente em dinheiro. Como as vendas de madeira eram geralmente feitas ao metro quadrado ou metro cúbico era necessário fazer muitas contas, valendo para isso uma máquina que considero espectacular que existia no escritório. Tratava-se de uma calculadora mecânica de manivela marca Schubert de fabrico alemão. Pode parecer ridículo considerar uma máquina dessas que hoje está completamente ultrapassada de espectacular, mas para quem tivesse prática a operar com ela, tratava-se de uma pequena maravilha devido à rapidez com que se efectuavam operações matemáticas de alguma envergadura. Passados tantos anos já não me recordo exactamente de como era o seu funcionamento, lembro-me apenas que rodando a manivela para a frente ela somava e para trás subtraía. Depois, como no fundo uma multiplicação é um conjunto de somas e uma divisão um conjunto de subtracções, creio que o seu funcionamento se baseava nesse método e assim se processavam as quatro operações aritméticas.
Quando iniciei o meu trabalho no escritório tinha por esta máquina um grande pavor, pois achava-a tão complicada que pensava que nunca iria aprender a trabalhar com ela. Quando via o meu patrão a operá-la com uma rapidez impressionante, fazendo contas complicadíssimas, ficava fascinado e sentia-me ainda mais pequenino, pois não conseguia compreender o seu funcionamento. Porém, aos poucos, lá fui descobrindo os seus segredos e, quando finalmente a consegui compreender na totalidade, vi que afinal era muito fácil trabalhar com ela. De resto, creio que é o que acontece com muitas coisas na vida. Quando não estamos dentro de determinado trabalho ou assunto, afligimo-nos com as dificuldades que eles aparentam ter. Depois quando nos inteiramos da realidade vimos que não são tão difíceis assim.
No escritório existia também uma máquina de escrever marca “Olímpia”. Nesta máquina a posição das teclas era diferente dos actuais teclados dos computadores e até de outras máquinas de fabrico posterior. As suas teclas começavam pelas letras HCESAR e o seu teclado numérico não tinha as teclas correspondentes ao zero nem ao um, sendo estes algarismos obtidos com a tecla da letra O para zero e L para um. Adorava escrever à máquina e ficava muito contente quando o patrão me entregava rascunhos de cartas ou ofícios da empresa para dactilografar. Como, depois na Marinha também exerci funções de dactilógrafo, adquiri muita prática neste trabalho, pelo que mais tarde quando comecei a trabalhar em computadores muitas vezes ainda, sem me aperceber, teclava na letra O e L para escrever o zero ou o um, devido à força do hábito.
Naquele tempo era fundamental saber escrever português correctamente, pois não existia esta pequena maravilha que é o Word, um processador de texto que nos dá a indicação de erros e sugestões para os corrigir. Quando pressionava-mos a tecla de uma letra errada a única hipótese de a eliminar era recorrendo à rasura utilizando uma borracha própria para o efeito, ou então meter outra folha na máquina e começar tudo de novo.
Outra curiosidade daquele tempo era o facto de os empregados de escritório serem popularmente conhecidos como guarda-livros, designação que tem caído em desuso ao longo dos anos.
Estive três anos no escritório, onde adquiri conhecimentos de escrita e contabilidade que me foram muito úteis no futuro, após o que me despedi para ingressar na Marinha.
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A melhor mensagem de Natal
ResponderEliminaré aquela que sai em silêncio de nossos
corações e aquece com ternura
os corações daqueles que nos acompanham
na nossa caminhada pela vida.
Desejo-te a ti e teus familiares um
Feliz Natal e um Ano Novo
cheio de Paz, Amor, Saúde e amizade.
BEIJOS DOCES