Pilhas de madeira a secar. |
Dois dos meus primeiros empregos, antes de iniciar o serviço militar, foram em serrações de madeiras, no final da década de 60 e início de 1970. Já aqui falei do meu trabalho numa serração de madeiras e de o guarda-livros, trabalhos bastante diferentes mas que foram executados em duas empresas do mesmo ramo.
As condições de trabalho na década de 60 eram bastante difíceis, pois existiam imensas tarefas que ainda eram executadas manualmente e muita madeira era transportada aos ombros dos trabalhadores, o que certamente originou muitos problemas de saúde, nomeadamente na coluna cervical, o que terá originado muitas reformas por invalidez, no sector. Nessa altura existia uma categoria profissional que era designada por “alombador”, o que não deixa dúvidas sobre o trabalho que era efectuado. Essa categoria mudou o nome, julgo que já na década de 70, para “não diferenciado”, o que no fundo significava a mesma coisa.
O empilhador veio efectuar muito do trabalho braçal, que era feito pelos "alombadores". |
Entretanto foram sendo introduzidos novos equipamentos e o trabalho passou a ficar mais facilitado, embora o reverso da medalha fosse o que normalmente é nestes casos: a diminuição dos postos de trabalho. Um desses equipamentos que marcou e veio revolucionar completamente o modo de trabalhar nas serrações foi, sem dúvida, o empilhador. Grande parte do trabalho braçal que era feito por muitos trabalhadores, como o empilhamento da madeira para secar em pilhas altas e quadradas em que era exigido grande esforço, ou o carregamento de carrasca e serradura que era feito utilizando poceiros de verga, ou ainda o carregamento e descarregamento de camiões, passou a ser efectuado pelo empilhador, uma máquina bastante versátil, capaz de efectuar quase todos os trabalhos braçais, até então feitos pelos “alombadores”.
Um outro trabalho muito difícil era o descasque dos toros de pinho, que era feito manualmente com um machado, o que diz bem da dureza dessa tarefa. Era talvez um dos trabalhos mais duros numa serração, pois estar um dia inteiro a manobrar um machado à volta de grandes troncos, tendo que os fazer rodar e pôr a jeito para o descasque, à força de braços, não era propriamente uma tarefa agradável.
A descascadora mecânica substituiu os operários no descasque dos toros, trabalho que era feito com um machado. |
Foi então que a partir da década de 70, começou a surgir nas serrações da zona a descascadora mecânica, tendo este trabalho então passado a ser feito dessa forma, no entanto os troncos da base dos pinheiros resinados a que se chamava “arredondas”, ainda continuaram a ser descascados à mão, devido ao facto dos resineiros, na altura, empregarem peças metálicas para fazerem a bica na sangria do pinheiro. Não sei se ainda é assim mas na altura essas peças metálicas davam origem ao rombo de muitas lâminas de serra, pelo que passaram a ser utilizados detectores de metais para a detecção e posterior extracção de metais que não eram visíveis no exterior dos troncos.
Mas mesmo o trabalho mais técnico, que era efectuado pelos operários com a categoria de serrador, era também muito duro, pois a serragem dos toros era apenas parcialmente mecanizada e os charriots (carros que transportavam os troncos na fase de serragem) eram empurrados à força de braços, antes do aparecimento das modernas máquinas automáticas que efectuam esse trabalho, com o operador a ter apenas que fazer a sua manobra através de sistemas eléctricos.
Apesar de toda esta evolução nos equipamentos, que originou uma menor necessidade de mão-de-obra humana, muitas serrações de madeiras não resistiram à grave crise dos últimos anos, que afectou sobretudo a área da construção civil e hoje, pelo país fora, encontram-se inúmeras fábricas do género que pararam a sua laboração, muitas foram mesmo abandonadas e estão em estado de ruínas, à semelhança do que acontece com as cerâmicas de fabrico de tijolos, que já apenas têm à vista a imponente chaminé.
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