JOÃO PERSIANA (barco construído com materiais reciclados)



João Persiana é um barco que construí propositadamente para navegar em lagos ou pequenos rios e em que foram utilizados, entre outros materiais, peças de persianas de plástico que encontrei em aterros ou lixeiras e daí o nome que escolhi, tentando também fazer um trocadilho com "João "Pestana" a personagem mitológica das crianças que significa "o sono a chegar".

A intenção foi construir um pequeno bote, leve e barato, mas com alguma resistência também e sobretudo com uma aparência alegre e artesanal, porque no fundo trata-se apenas de um meio para saborear alguns momentos de lazer ou praticar um pouco de exercício, remando.

Creio que é uma ideia original a construção de um barco desta forma atendendo a que alguns materiais utilizados foram reaproveitados, de restos de obras, alguma encontrei-a também em lixeiras, mas madeira em bom estado e de boa qualidade, como três aros de portas de cerne de pinho, que utilizei nas travessas, e ainda alguma madeira de castanho que ficou a fazer parte da amurada. De início tinha em mente construir o barco todo com madeira, mas desisti da ideia, pois isso seria caro e difícil de executar, devido a ser um trabalho de carpintaria para o qual não me encontro habilitado e também porque iria ficar muito pesado o que tornaria difícil o transporte do barco, principalmente a sua retirada da água. Foi então que surgiu a ideia de usar chapas galvanizadas, mais leves e fáceis de moldar, mas que teriam de algum modo de ser reforçadas devido à sua espessura mínima e também porque ao menor embate sofreriam amolgadelas que dariam mau aspeto à embarcação. Por esse motivo dirigi-me a uma carpintaria para adquirir algumas peças de madeira (tipo umas ripas finas e aplainadas) para reforçar as paredes do barco, mas a importância pedida obrigou-me a desistir desse material tendo então optado por revestir exteriormente o bote com peças de persianas, visto ser um material que se encontra facilmente, pois de algum tempo a esta parte parece que toda a gente resolveu substituir os estores de casa e encontram-se depositadas por vezes em locais impróprios grandes quantidades desse material, que mesmo não sendo novo é bastante resistente e a prova é que as persianas de minha casa já têm mais de trinta anos e ainda estão em bom estado.

Terminado o revestimento exterior achei por bem forrar também a parte interior com o mesmo material para dar um aspeto ainda mais original ao barco e, porque estava a gostar do efeito, o fundo foi também revestido da mesma maneira.

As persianas de plástico são muito leves, mas mesmo assim o barco ficou mais pesado do que imaginara a principio e talvez também um pouco maior do que o desejável, tendo em vista que terá de ser retirado da água após cada utilização, mas assim acho que tem estrutura suficiente para aguentar com um pequeno mastro para navegar à vela em lagos ou rios que permitam esse modo de navegação.

A minha principal preocupação foi sempre a mobilidade do barco fora de água e por esse motivo decidi fazer um carro em madeira para o seu transporte e também equipar o mesmo com duas pequenas rodas na popa e uma perto da proa, esta direcionável, que permitem colocar com alguma facilidade o barco em cima do carro e, ainda com mais facilidade, (espero eu) fazê-lo deslizar para a água. 

As suas medidas são: 3,80m do bico da proa até à popa, 1,30m de boca e 0,50m de altura; tem mais dois bancos para além do banco do remador e deverá ter capacidade para transportar quatro ou cinco pessoas.

Seguem-se fotos das várias etapas da construção e uma breve explicação sobre a mesma:

O esqueleto ou cavername do barco. Utilizei duas varas de eucalipto para fazer o arredondamento do casco. As travessas do fundo a as laterais são de madeira de pinho. A sua ligação foi feita com parafusos, inicialmente apenas com um em cada ponta para permitir regular a inclinação do costado.

Esta foto representa o barco já com o fundo feito em ripado, a pensar na sua leveza.

Aqui o esqueleto já foi coberto com “pele” e também já tem as três rodas aplicadas. Como disse, optei por fazer as paredes e o fundo com chapas de zinco lisas, por serem impermeáveis, leves e fáceis de trabalhar. Nas dobras coloquei um perfil de plástico para fazer o arremate das tiras de persiana que iriam ser coladas no exterior do costado de zinco. De notar que as costuras da chapa foram perfeitamente vedadas e coladas com um selante de boa qualidade.

Um aspeto do trabalho quando estavam a ser coladas as persianas. Para a colagem utilizei silicone e cola de contato. Por não ter as ferramentas adequadas fui obrigado a recorrer a alguns truques para me desenrascar.

O barco já revestido exteriormente, com persianas. Nesta altura a ideia era ficar com a parte de dentro com o metal à vista, mas, posteriormente, resolvi forrar também o interior com o mesmo material uma vez que o mesmo era de graça e muito leve.

Esta foto representa a fase  da colocação da amurada. Foi feita com tábuas de castanho com 0,08mX0,035 onde abri um sulco a fim de encaixarem e darem resistência às paredes. Foram aparafusadas nas travessas verticais e coladas à chapa e às persianas, mas, no entanto, este trabalho deveria ter sido feito apenas após o revestimento interior do costado. Esse revestimento ainda não estava previsto e a sua colocação depois da amurada estar concluída dificultou esse trabalho.

 Trabalho de lixagem da madeira.

Colocação do revestimento interior e do fundo, com persianas.

O trabalho aproxima-se do fim, com a pintura do barco.

Carro em madeira para transporte do barco. Pode ser tracionado à mão ou engatado à moto-enxada. Na traseira tem rodas viradas para cima com a finalidade de facilitar a colocação do barco em cima do carro e também a sua entrada na água.



O João Persiana em cima do carro, pronto a ir para a água.






9 comentários:

  1. Boa tarde Amigo José Alexandre
    Que Espectáculo...parabéns. O que é preciso é imaginação,engenho e arte. Agora o nosso Amigo já tem meios para navegar no Rio Dueça e não só, porque quando o nível do mar subir, já tem barco para ficar á tona, he he he .
    Eu aqui no Vale do Tejo não me safo, serei dos primeiros a comer com elas, ou me afundo ou vou na onda até ás faldas da Serra da Lousã, onde haverá porto de mar, eh eh eh .
    Um abraço
    Camilo

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    1. Ora viva, amigo Camilo!
      Tem de fazer um barco também para estar prevenido. Por aí também devem existir persianas usadas e depois já vem a navegar até à Lousã.
      Agora, a falar a sério, quem me dera que o rio Tejo passasse aqui à minha beira, para testar o "João Persiana" e poder remar à vontade. Assim vou ter de esperar mais umas semanas ou uns meses até que coloquem as comportas no rio Dueça para poder fazer o lançamento à água. Vamos a ver se vai resultar ou não...
      Um abraço.

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  2. Amigo José Alexandre.
    Parabéns ao "Arquitecto" do "João Persiana"
    Gostei.
    Abraço
    Moleiro

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  3. Vim parar a este blog quando procurava moinhos de água a funcionar e encontro um professor dos sete instrumentos. Cá em Ovar há um professor reformado que construiu muitos mecanismos básicos (engenhocas como alavancas, planos inclinados, circuitos, ...) e vai às escolas do 1.º Ciclo pôr as crianças a manusear e fazer outros idênticos. Aliás, na praia do Furadouro, há uma espécie de mini-centro de Ciência Viva, desse professor. Mais uma vez, parabéns pelas ideias práticas, que deveriam ser capacidades de qualquer cidadão.

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    1. Obrigado, prof Vaz Nunes, pela visita e pelas palavras amáveis.
      O que faço são tudo coisas simples, sem qualquer importância, mas gosto de partilhar o pouco que sei e por isso vou escrevendo algo por aqui.
      Parabéns pelo seu site pessoal que, na minha modesta opinião, me pareceu excelente.
      Os meus cumprimentos.
      José Alexandre

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  4. Parabéns pela criatividade, João Perciana ficou lindo.
    Abrs

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    1. Obrigado pela visita e pelo comentário amável. Fica convidada para dar uma volta no barquinho, se vier a Portugal...
      Abraço.

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  5. PQP!!!... É O BARCO MAIS FEIO QUE JÁ VI!... kkk ... DESCULPA JÃO... VAI TENTANDO, AMIGO...kkkkk

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    1. Pelo nome que usa e pelo comentário vê-se que deve fazer barcos muito lindos... ou talvez comprá-los...
      Porque não os mostra para poder dar também uma opinião?
      Ah!... Já me estava a esquecer... este não está à venda, foi construído com materiais reaproveitados e, para mim, é o barco mais bonito do mundo. Isso me basta!

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