O Esmeralda na Ilha do Cabo, em Luanda. |
Na
sequência do que escrevi sobre o navio Esmeralda, no meu artigo anterior “Barcos de Cimento”, recebi um email do Sr. Luiz Felippe Ribeiro Gomes, neto do antigo
proprietário do navio, contando um pouco da história do Esmeralda, também
apelidado de navio mistério, um navio construído em concreto armado e que fez
parte da frota de navios da Marinha Alemã.
Diz
Luiz Felippe Gomes: - Eu, o meu pai e os meus irmãos chegámos ao Lobito no
inicio de 1955, por solicitação de meu avô, Amadeu Pereira Gomes, quando eu
tinha somente sete anos de idade, para acompanharmos o início das atividades da
fábrica de conserva de atum, montada a bordo do Esmeralda. Concerteza será
bastante interessante desvendar um pouco do seu mistério…
Este
navio pertenceu à frota de graneleiros da marinha de guerra de Hitler (II
Guerra Mundial) que efetuavam o transporte de carvão mineral a granel que era
descarregado num depósito existente no Lobito Velho (hoje extensão do cais do
porto do Lobito), para o reabastecimento dos navios da esquadra de Hitler, bem
como dos aliados da Alemanha nazista. Seria uma atividade bem discreta uma vez
que Portugal, aparentemente não era parceiro da Alemanha nazista.
Após
o término da II Guerra, o navio e o depósito foram arrestados pelo governo
português e, posteriormente, levados a leilão, tendo sido arrematados por
Amadeu Pereira Gomes, industrial do ramo da pesca. A intenção inicial seria a
de formar uma frota de pesca de bacalhau com base no Rio de Janeiro, mas devido
a diversos desentendimentos com as autoridades portuguesas e a proibição da
saída do navio de território nacional, Amadeu Pereira Gomes optou pela montagem
de uma fábrica de conserva de atum no interior do próprio navio, que se poderia
deslocar acompanhando os barcos de pesca.
Amadeu
baptizou o navio com o mesmo nome de sua filha Esmeralda. Homem ativo e
empreendedor desmontou uma das duas caldeiras de cobre do navio e negociou com
alguns ingleses a sua troca por uma linha completa de processamento e fabrico
de atum em conserva. Os barcos de pesca descarregavam o pescado atracados ao
costado do Esmeralda, pescado que aí era transformado em conserva, saindo já
enlatado. Infelizmente, os conflitos com as Organizações de Pesca continuaram e
o alvará de funcionamento definitivo somente seria concedido em troca de metade
da sociedade da empresa para o almirante Henrique Tenreiro, figura com altos
cargos ligados ao setor das pescas e com grande influência no governo,
sendo considerado como o “patrão das pescas”, na época. Não aceitando tal condição Amadeu Pereira Gomes preferiu deixar o
navio fundeado na baía do Lobito renunciando ao funcionamento da sua fábrica de
conserva flutuante.
O
Esmeralda ficou durante alguns anos ancorado, durante os quais, apenas terá
ficado um marinheiro no navio, fazendo vigia e manutenção. Durante este período,
as dificuldades continuaram e o navio, por uma ou duas vezes, quebrou a amarra
e ficou à deriva, até ser rebocado de novo para o local de fundeio.
Mais
tarde a Marinha rebocou o Esmeralda para o porto de Luanda, onde serviu de
armazém e atracadouro para os navios da Marinha de Guerra Portuguesa até que,
em 1969, foi afundado ao largo da costa de Luanda.
Artigo relacionado
Boa noite Amigo José Alexandre
ResponderEliminarInteressante este relato do Esmeralda. Passámos por ele algumas vezes quando navegávamos na costa de Angola e desconhecia a sua história.
Quanto ao afundamento em 1969, eu diria antes encalhado num banco de areia á entrada do porto de Luanda, pois o navio estava de tal modo assente na areia que toda a sua estrutura acima da linha de água estava visível como se estivesse fundeado. Estávamos nos anos 70, e ele lá ficou em 1975 quando deixámos Angola.
Parabéns pela postagem.
Um abraço
Camilo
Boa noite amigo Camilo.
EliminarMuito me conta... então o navio não foi afundado em águas profundas?
Pelas pesquisas que fiz, estava convencido disso, aliás o nosso amigo Moleiro participou ou, pelo menos, presenciou o seu afundamento em 1969. Será que se trata do mesmo navio, ou haverá aqui alguma confusão?
Um abraço e obrigado pelo seu testemunho.
Camaradas José Alexandre e Camilo.
ResponderEliminarDeixei neste espaço um comentário anterior,mas pelo que me pareceu não foi aceite,volto então a comentar sobre o navio Esmeralda.
Primeiramente o agradecimento ao Camarada e Amigo José Alexandre por investigar e dar conhecimento publico do historial do navio que vi descer para o fundo do oceano.
O Camarada e amigo Camilo deve estar confuso com outro navio que permanecesse na baía de Luanda.
o esmeralda foi afundado com cargas explosivas que lhe abriram rombos e o fizeram descer ás profundezas do oceano bem longe da costa Angolana.
Na Foto acima publicada o rebocador preparava-se para largar o esmeralda,pela proa aproxima-se um bote de borracha que transporta a equipa de que colocaria os explosivos e transportaria para a fragata os elementos da guarnição que fizeram a viagem no Esmeralda,bem visíveis próximos da proa do Esmeralda.
Este acontecimento decorreu entre Setembro e Outubro de 1969
No Final de Outubro a comissão em Angola findou e rumamos a Moçambique
Abraço
Moleiro
Camarada e Amigo António Moleiro:
EliminarObrigado pelo testemunho e esclarecimentos que são excelentes contributos para o artigo e também para a história do navio, mesmo tratando-se de um final inglório para o mesmo, penso eu.
Um abraço.
Boa noite Amigos José Alexandre e António Moleiro
ResponderEliminarMeus caros Amigos, penitencio-me aqui quanto ao navio Esmeralda em virtude das afirmações do Amigo António Moleiro que presenciou o seu afundamento.
Então se não era o Esmeralda, havia outro navio de cimento á entrada do porto de Luanda. Que navio era esse...?Confesso que não sei o nome.
O nosso Amigo Ferrão deve-se lembrar dele certamente porque passámos várias vezes rente a esse navio. Em tudo era semelhante ao navio que aparece nas fotos e o mesmo estava encalhado num banco de areia.
Assim sendo, o mistério adensa-se...vamos ter de descobrir que navio era esse que em 1975 continuava lá e garanto-vos que era de cimento.
As minhas desculpas se induzi alguém em erro, mas que era de cimento lá isso era.
Um abraço
Camilo
Boa tarde a todos os amigos deste espaço. Prestei o meu serviço militar na Marinha de Guerra portuguesa, de 1966 a 1971.
ResponderEliminarEm 1966, ouvia dizer que Portugal tinha apreendido aos alemães, na altura da II guerra mundial, um navio feito em concreto!!! Fiquei admirado da sua existência e pensei que o tivessem feito por falta de ferro!!!
Hoje lembrei-me de fazer uma pesquisa sobre este assunto "mistério", e com sorte encontrei a resposta completa do que eu gostava de saber.
Obrigado ao Sr LUIS FELIPE GOMES e ao Sr José Alexandre Henriques e ao Camarada ANTONIO MOLEIRO.
Abraço
António da Silva Martins