FILOSOFIAS DE UM ERMITÃO MODERNO


Mário Santiago, apresentando o seu livro.

Decorreu ontem, na Associação Recreativa e Musical de Ceira, o lançamento do livro de Mário Santiago “Filosofias de um ermitão moderno”.

“O seu tecto é caiado pelas estrelas, que por aqui pelas serras, longe da luz intensa das grandes cidades… parece que brilham mais… A sua cama e colchão é um macio monte de feno ou um areal… e se estiver muito frio ou chuva, qualquer caverna, cabana ou tão-somente uma árvore frondosa, lhe serve de abrigo…"

O que pode levar um homem culto a abandonar o conforto de um lar, para vaguear de serra em serra, alimentando-se apenas com o que a mãe natureza lhe oferece e tendo como teto o azul do céu ou as estrelas, ainda que elas ali brilhem mais?...

É para tentar responder a essa pergunta que Mário Santiago e dois amigos, todos estudantes de Antropologia, encetam uma viagem de sete dias pelas serras da Lousã, Açor e Estrela, que começa em Góis e termina em Gouveia. Têm como companheiro o Sr. José, o ermitão, um homem que tomou como opção viver em contato com a natureza e que tem uma visão do mundo e da sociedade muito realista como se comprova por algumas das suas palavras:

“Sabe, é que eu durante mais de cinquenta anos pensava que era livre de pensar e de dizer, mas vim a verificar que passava a maior parte do dia a ter que pensar uma coisa e a ter que dizer outra… sim, as pessoas raramente podem dizer aquilo que na realidade pensam, pois a sociedade exige que para uma pessoa ser boa, tem é que parecer ser, e não ser…”

No entanto, José, o ermitão, não está totalmente isolado do convívio com outras pessoas, pois tem muitos amigos em vários pontos da Serra que vai visitando durante as suas deambulações. Amigos que Mário Santiago define como sinceros e puros, tal como a Natureza que os rodeia.

Mas, Santiago descreve também, com mestria, toda a beleza ímpar da Cordilheira Central desde os Penedos de Góis, passando pelos vales profundos e escondidos do Açor até à magnitude da Estrela, sem esquecer de mencionar algumas caraterísticas socioeconómicas e arquitectónicas das aldeias serranas por onde passou.

O autor revela também algum inconformismo com estado atual do país e do mundo, que se deduz pelas palavras com que termina o livro:

“Gostaria de poder anunciar… o fim da fome e da miséria…” 

1 comentário:

  1. Um abraco de sucesso na interminavel senda pelo elementar, pelo etimo existencial da comtemplacao , vic

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