CONSTRUIR A PRÓPRIA CASA - Aplicação de mosaicos e azulejos

Fiz a minha primeira aplicação de mosaicos já lá vão mais de três décadas. Na altura usavam-se muito os ladrilhos com as medidas 0,20X0,10 e foi com peças desse tamanho que revesti o chão da minha cozinha, tendo escolhido aquele material mais pelo seu preço do que por outro motivo. Tratava-se de material referenciado como de 3ª qualidade, mas essa classificação devia ser devida apenas a pequenos defeitos no vidrado ou no desenho que contêm, pois até hoje não lhes notei outros e, mesmo com trinta anos de uso e colocados num local muito utilizado, ainda lá se mantêm (e manterão) apresentando apenas um pequeno sinal de desgaste nos locais de maior pisoteio. Acho que tive alguma sorte, pois devido à minha inexperiência podia-me ter acontecido, como aconteceu a algumas pessoas conhecidas, que tendo adquirido outro material, até porventura mais caro e rotulado de 1ª qualidade, colocado mais ou menos na mesma altura, o tiveram entretanto de substituir devido ao desgaste prematuro da parte superior das peças.

Assentando mosaicos.
Acho que o mais importante a ter em conta quando se adquire este material é a sua dureza e a qualidade do seu vidrado e menos pequenos defeitos que porventura possa ter, defeitos que muitas vezes podem ser disfarçado ou até anulados, fazendo-se uma escolha e reservando alguns em que esses defeitos sejam mais visíveis para cortes ou para colocar em sítios de menor visibilidade. No entanto é preciso ter em atenção que às vezes existem peças que aparentemente não têm qualquer defeito e até nos interrogamos sobre o motivo daquele material estar rotulado como de 2ª ou de 3ª qualidade e só depois, quando procedemos à sua aplicação, é que notamos os seus defeitos quando as pontas de algumas peças teimam em ficar levantadas. O defeito desse material é estar empenado, o que impede um assentamento perfeito. Um profissional, ou mesmo qualquer pessoa que esteja habituada a fazer esse trabalho, consegue disfarçar um pouco esses defeitos, mas de qualquer maneira esse trabalho nunca irá ficar nas devidas condições.

Naquela altura ainda não havia ou não estava muito difundido o emprego de cimento cola na aplicação de mosaicos e azulejos e o material, normalmente, era colado com lasso de cimento (cimento em pó amassado). Esta massa convinha que fosse aplicada no suporte ainda fresco e por isso no chão, depois da aplicação dos pontos de nível e das mestras, os mosaicos eram assentes ao mesmo tempo que se ia estendendo a massa, ficando assim o trabalho a necessitar apenas do acabamento final (aplicação de cimento branco ou de cor nas juntas). De notar que neste método os mosaicos deverão ficar imersos em água durante algum tempo para que colem melhor ao suporte onde foi espalhada a massa de cimento em pó.

Este modo de fazer este trabalho veio, entretanto, a ser gradualmente substituído pela colagem dos mosaicos com cimento cola, havendo neste caso a necessidade de se preparar previamente o suporte, onde só depois de seco serão aplicadas as peças, devendo também estas estar secas. Neste caso, o cimento cola depois de amassado, conforme as instruções da embalagem, é espalhado numa determinada área e nivelado com um pente ou outra ferramenta indicada para o efeito.

O primeiro método poderá parecer, à primeira vista, mais económico, mas também tem o inconveniente de o trabalho ser mais difícil de executar, no entanto, curiosamente, conheci alguns empreiteiros que preferiam fazer o trabalho dessa maneira o que leva a crer que será mais vantajoso, para além de que se o trabalho for bem executado haverá uma menor probabilidade de descolagem das peças. De uma maneira ou de outra a massa de regularização do chão deverá ser aplicada de modo a que adira à camada primitiva do pavimento para evitar que venha a abrir fissuras o que pode provocar a descolagem ou quebra de algumas peças. Por isso da massa de betão primitiva deverão ser removidas todas as massas que lá tenham caído provenientes das paredes ou dos tetos e deverá ser lavada de modo a eliminar todo o pó que contenha.

O suporte para assentamento dos mosaicos ou de outro tipo de revestimento assume especial importância, pois se não estiver bem direito e nivelado irá provocar problemas na colocação do revestimento com consequências como maior gasto de cimento cola e mais mão-de-obra. Mais grave ainda é, como já disse, se não colar à camada primitiva e vier a fender, poderá, como limite, obrigar à substituição da camada de acabamento e, tenho isso como experiência, pois numa empresa de construção onde trabalhei teve de ser substituída a camada de massa colocada em várias divisões de um prédio, destinadas à aplicação de parquet, pois quando o profissional encarregado de fazer esse trabalho se preparava para o começar verificou que partes do chão estavam com fendas e descoladas, o que obrigou ao arranque dessa massa de regularização e à colocação de uma nova camada o que causou uma grande bronca quando se veio a verificar que a camada primitiva não tinha sido devidamente limpa. É certo que isso aconteceu devido à pressão que era exercida para que todos os trabalhos fossem feitos com a maior rapidez, mas, neste caso, as pressas deram mau resultado.

Numa divisão quadrada ou rectangular onde as paredes estejam em boa esquadria o assentamento de mosaicos não oferece grandes dificuldades, e ainda poderão serão menores se for utilizado cimento cola, pois mais facilmente se ensaia a aplicação utilizando peças soltas. Para o trabalho ficar mais apresentável deverão alinhar-se os mosaicos pela parede da porta, onde a partir do meio do rebaixo do aro, deverão ser colocados peças inteiras e depois traçar uma esquadria com a outra parede mais distante e perpendicular à da porta, e começar o assentamento por aí. Isto é apenas no caso de a porta dar para um corredor ou para outra divisão onde vai ser aplicado um revestimento diferente, pois com a porta fechada não se vê a junta entre os materiais desiguais. No caso dos mosaicos do corredor e de várias divisões serem iguais poderá ensaiar-se a aplicação de forma diferente, pois, normalmente, nos corredores para que o serviço fique perfeito deverá calcular-se o trabalho de modo a que os mosaicos fiquem centrados, com os da linha das paredes cortados com o mesmo tamanho. Para que o serviço corra bem é indispensável ensaiar primeiro o trabalho e traçar esquadrias correctas.

Depois dos mosaicos serem assentes deverão passar-se dois ou três dias antes de se proceder ao assentamento do rodapé. Por uma questão de economia eu sempre utilizei para o rodapé mosaicos cortados, iguais aos do chão, pois as peças destinadas a este trabalho são proporcionalmente muito mais caras e existe a vantagem de poderem ser utilizados mosaicos cortadas ou que sobraram do chão. Para a sua colagem deverá ser utilizado cimento cola. Depois deverá proceder-se ao rejunte com o cimento branco ou de cor de acordo com a cor dos mosaicos ou com o gosto pessoal.

Esquina onde os azulejos foram
desgastados nas pontas de
de forma a esconder o topo
das peças.

O meu primeiro trabalho de aplicação de azulejos foi efectuado também na construção da minha casa e, nessa altura, as medidas mais usadas eram de 0,15X0,15. Naquele tempo as dificuldades eram muitas e as ferramentas bastante caras e, por isso, uma maquina de cortar azulejo que é hoje um acessório absolutamente indispensável para este tipo de trabalho, não fazia parte do meu equipamento, nem sequer uma rebarbadora e para cortar os azulejos recorria apenas à ajuda de um alicate torquês e a outros métodos arcaicos e pouco eficientes. Talvez por isso o trabalho não tenha ficado muito perfeito, mas, pelo menos até hoje nenhum rachou ou se descolou.

Tal como para os mosaicos, o assentamento era feito logo após o reboco da parede e, com este ainda fresco, espalhava o lasso (massa de cimento em pó). Nas esquinas, tal como em ombreiras de portas e janelas os azulejos eram desgastados à meia esquadria, pois não existiam ainda, como agora, os perfis em pvc ou alumínio que são colocados nessas esquinas e que facilitam muito o trabalho. Para se fazer um buraco no meio de um azulejo partia-se a peça na linha do buraco para permitir o trabalho da torquês… enfim, hoje isso são métodos completamente ultrapassados e uma boa máquina de cortar azulejos e também uma rebarbadora são objectos de preço acessível e ninguém vai atrever-se a fazer trabalho de ladrilhador sem estar munido deles.

Não há dúvidas de que o cimento cola veio facilitar muito este tipo de trabalho, pois é um produto que puxa pouco, ou seja: não seca rapidamente e adere instantaneamente às paredes e aos azulejos, permitindo ainda que durante algum tempo se façam pequenas correcções no assentamento.

Indispensável mesmo é que o reboco esteja em perfeitas condições, bem direito e desempenado, pois um reboco torto põe em causa a perfeição do trabalho, para além de dificultar a execução do mesmo.

Esquina onde foi aplicado um
perfil de pvc branco.
Como normalmente os azulejos são colocados nas paredes quando o chão ainda está apenas com a primeira camada de betão, não estando, portanto, ainda regularizado, há necessidade de pregar nas paredes réguas de madeira que irão servir de suporte às peças, impedindo que deslizem para baixo. O fundo dos aros das portas representam o nível do chão final pelo que é a partir daí que as réguas deverão ser niveladas, perfeitamente niveladas, para evitar problemas que inevitavelmente surgirão, se assim não se proceder.

Se não houver espaço suficiente entre o chão e os azulejos do fundo para pregar as réguas, terão de se encarar outras soluções e uma delas é a de colocar as réguas ao nível do segundo azulejo, sendo as peças do fundo coladas mais tarde, quando não houver risco dos azulejos já aplicados deslizarem.

Nos cantos os azulejos são encostados de topo e, quando há necessidade de fazer cortes, são aplicados nas paredes os dois pedaços do azulejo cortado e isto ainda é mais importante quando os azulejos são ornamentados com desenhos, pois para uma boa estética nos cantos e também nas esquinas o desenho deve ficar completo.

Finalmente é feito o rejunte através da massa própria feita de cimento branco ou de outro produto apropriado que pode ser espalhada com um pincel. O excesso deve ser retirado passado algum tempo, que é variável, consoante a temperatura, ventilação do local, etc. Mas é preciso cuidado para não secar de mais, pois poderá ser mais difícil a limpeza das paredes.

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4 comentários:

  1. Boa noite Amigo José Alexandre
    Cá está mais um tema assaz interessante. Azulejaria.
    Sou apreciador de azulejos desde muito novo, na minha terra, que para além de ser a capital do Gótico, existe um enorme repositório de azulejaria antiga nos edifícios e monumentos do centro histórico. Igrejas, Mercado e Estação de Caminho de Ferro, são exemplo disso. As igrejas tem azulejos setecentistas a forrar o seu interior e os edifícios antigos são forrados exteriormente com azulejo em relevo.
    O que mais me espanta é que no prédio onde vivo que tem cerca de 15 anos e é forrado a azulejo, todos os anos os azulejos caem e tem de ser recolocados.
    Os edifícios com mais de 200 anos, expostos ás intempéries de toda a ordem, os azulejos mantêm-se inalterados até aos dias de hoje. E naquele tempo não havia cimentos-cola especiais e tudo o mais, como hoje. Vamos lá entender isto.
    Há uns anos armei-me em azuleijeiro e decidi fazer um painel de azulejos para decorar uma tertúlia que tenho no campo.
    Como desconhecia a técnica, vai de aprender como se faz e meti mãos á obra. Adquiri chacotas, desenhei-as, pintei-as e quando chegou a altura de por a cozer, tive de recorrer a uma pessoa amiga com forno de alta temperatura para fazer o vidrado.
    A coisa não saiu mal, mas verifiquei no final que os tons de azul ficaram demasiado claros. Isto porque a pintura de azulejo requer muita prática, porque a tinta é um pó cinzento que se dilui em água, e a tonalidade mais ou menos escura tem a ver com a maior ou menor concentração que se diluir. Engana muito.
    Mas saiu o trabalho que lhe vou enviar para o amigo ver.
    Não é nada de especial, mas é só por dizer que tem a minha chancela…eh eh eh he
    Um abraço e parabéns pela postagem.
    Camilo

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    1. Caro amigo Camilo
      O facto dos azulejos caírem tem muito a ver com as mudanças de temperatura e consequente dilatação das paredes, embora a forma como são colados, o tipo de cola, etc, também tenha influência, mas agora também se usam tipos de cola que acompanham as contracções dos materiais e por isso é um bocado estranho terem de andar a colar os azulejos todos os anos.
      Mas, deixe-me que lhe diga… o meu amigo é um poço de surpresas! Então também aprendeu a arte da azulejaria? Bem… toda a gente sabe que os marinheiros são pau para toda a obra, mas o Camilo tem uma veia artística que nem lhe conto… são painéis de azulejos, quadros, navios…
      Acho que deve divulgar o seu trabalho porque tudo o que fazemos de bom, se for aberto ao mundo dá-nos mais satisfação e pode ajudar à criatividade de outras pessoas, além da carga didáctica que comporta e que pode ajudar também, por exemplo, alunos de escolas que fazem pesquisas para os seus trabalhos. Foi talvez por isso que um dia lhe propus que criasse um blog.
      Resta-me dar-lhe os parabéns pelo seu excelente trabalho em azulejaria, agradecer pelas fotos que me enviou, assim como todas as mensagens que me tem reencaminhado e desejar que continue a usar esse dom artístico e essa capacidade criativa que demonstra em todos os seus trabalhos.
      Um abraço.

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    2. Boa noite Amigo José Alexandre
      Grato pelas suas palavras, mas eu não divulgo muito as minhas pseudo art...imanhas, por não achar qualquer interesse nelas. Isto longe de qualquer falsa modéstia, pois sou apenas um curioso que gosta de "fazer" sem plagiar , aquilo que os verdadeiros artistas fazem, só que á minha maneira, claro. E o que sai depois da obra feita deixa muito a desejar, de modo que, tenho muita coisa, mas no baú.eh eh eh
      Um abraço
      Camilo

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  2. Gostei do comentário do senhor camilo,e tomei como referencia alguns trabalhos por ele realizado,e em especial quando se quetiona sobre a qualidade do mesmo.tudo também tem haver com a origem do material e as temperatura que é submetido durante o período de armazenamento.

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