ENTREVISTA A UM CONSUMIDOR DE GPL


Depois do sucesso obtido com o artigo “Entrevista a um candidato à reforma antecipada”, a equipa de reportagem do “Meio Século” foi novamente para a rua, desta vez para entrevistar um automobilista que usa GPL na sua viatura. O alto preço dos combustíveis parece ser difícil de combater numa altura em que o país atravessa uma crise dramática e o Estado não pode ou não quer abdicar dos altos impostos que arrecada com o negócio dos combustíveis. Quem deles necessita, sejam empresas de transportes, empresas de outros ramos de atividade ou mesmo particulares que se têm de deslocar para o seu local de trabalho, não tem grandes alternativas que não seja abastecer o seu camião ou automóvel, tendo apenas a possibilidade de optar por escolher o posto de abastecimento em que se praticam preços um pouco mais baixos, como sejam as bombas dos hipermercados.

No entanto, existe a possibilidade de consumir um combustível muito mais barato, possibilidade que, por razões diversas, poderá não estar ao alcance de todos, como sejam as características dos veículos, custo do equipamento ou outras, mas essa possibilidade existe, é sobejamente conhecida, no entanto ainda não convence muitos automobilistas apesar do seu baixo custo que é de menos de metade do preço da gasolina. Estamos a falar do GPL e uma das razões, entre muitas outras, que causam alguma desconfiança aos automobilistas é o receio que o uso desse combustível possa causar algum acidente ou mesmo danificar o veículo. Os instaladores e técnicos dos sistemas de GPL tentam dissipar esses receios, mas o “Meio Século” entendeu que o melhor era falar com um consumidor de GPL que já estivesse familiarizado com esse tipo de combustível, para tentar esclarecer algumas dúvidas e dar a sua opinião sobre consumos, rendimento do GPL, comportamento dos motores, possíveis perigos, vantagens e desvantagens do seu uso, etc.

Vamos apresentar a entrevista que fizemos ao sr. António Poupadinho, um automobilista que já utiliza GPL há mais de dez anos, indo já no segundo carro com o sistema instalado.

São dez horas de uma solarenga manhã de domingo. A nossa equipa de reportagem foi encontrar o sr. António na rua, à porta da sua residência, de mangueira em punho lavando a sua viatura. O sr. António vive numa aldeia e por ali muitos automobilistas lavam os seus carros na rua, porque não têm outro lugar para o fazer ou porque querem evitar o gasto de uma moeda numa lavagem automática.

MEIO SÉCULO (repórteres falando alto e um pouco afastados para evitar um banho de mangueira) – Ora viva sr. António. Disseram-nos que o senhor já tem há muito tempo um carro a GPL…

Sr. ANTÓNIO (virando-se para nós, mas mantendo o fluxo de água sobre o carro) – Bom dia! É verdade, já uso GPL há vários anos…

MEIO SÉCULO – Nós temos um blogue na Internet e gostávamos que o senhor nos contasse um pouco da sua experiência com o GPL, para tentar elucidar um pouco os nossos leitores sobre o assunto, se não for muito incómodo.

SR. ANTÒNIO (fechando a agulheta da mangueira) – Com certeza, não é incómodo nenhum, mas têm de me deixar acabar de lavar o carro, primeiro. É só dar uma rápida ensaboadela e depois passar com água limpa…

MEIO SÉCULO – Esteja à vontade sr. António. Nós esperamos o tempo que for preciso.

SR. ANTÓNIO (Despejando um pouco de detergente da louça num balde e de seguida ligando a água para encher o recipiente) – Sabem… eu utilizo líquido da louça para lavar o carro, porque além de ficar mais barato, parece que a pintura fica mais brilhante e de vez em quando dou-lhe uma polidela com um produto apropriado.

MEIO SÉCULO – De facto, estamos a reparar… o seu carro é de 95, por isso já tem 17 anos e parece que acabou de sair do stand… vê-se que o estima bem!

SR. ANTÓNIO (passando uma esponja embebida em detergente sobre a capota) – Pois estimo… estimo… da maneira que está a situação este ainda vai ter que durar pelo menos mais dezassete anos! Não é por acaso que me chamo António Poupadinho…

MEIO SÉCULO – Ora aí está!... O senhor António faz jus ao seu nome, pois nota-se perfeitamente que é muito poupado e se calhar é por isso que usa GPL no carro, uma vez que é um combustível muito mais barato do que a gasolina…

SR. ANTÓNIO – Essa é, de facto, a principal razão e também será essa razão que leva um número considerável de automobilistas a optarem pela instalação dum kit de GPL, uma vez que se pode poupar 50%, ou até mais no combustível, mas quem for mais sensível aos problemas ambientais também porá em conta o facto do GPL emitir uma menor quantidade de gases poluentes.

O senhor António nesta altura está a esfregar com vigor o para-brisas do carro e os repórteres do “Meio Século” decidem não perturbar o seu trabalho e afastam-se um pouco, apreciando as casas antigas da rua e os poucos veículos que por ali vão passando. Estranhamente, aquela rua é bastante larga ao contrário do que acontece em muitas aldeias onde os caminhos foram concebidos para peões e carros de bois, sendo por isso estreitos e mal dando para permitir o cruzamento de dois automóveis, ficando a ideia de que, aqui, os primitivos habitantes quando construíram as suas casas já estariam a prever o futuro em termos de trânsito. Excetuando alguns carros que vão rolando calmamente, não se vê por ali vivalma e o ar puro da manhã, vindo das serranias em frente é misturado com os odores provenientes das habitações ou, mais concretamente, de alguns pátios ou de estábulos onde, de quando em vez, se houve o berrar de uma ovelha, o grunhir de um porco, ou até o zurrar de um burro…

O senhor António, nesta altura, já está a passar o carro com água limpa que, saindo da mangueira em forma de chuveiro e com alguns raios de sol que espreitam por entre os quintais incidindo sobre ela, forma um arco íris entrecortado sobre a viatura do sr. António.

SR. ANTÓNIO (enrolando a mangueira e apontando para um banco de cimento que se encontra debaixo de uma oliveira, num pequeno largo a algumas dezenas de metros) – Pronto, já está… vamo-nos sentar ali para podermos conversar melhor…

MEIO SÉCULO: - Obrigado sr. António, de facto aqui sentados à sombra da oliveira, estamos muito melhor…

SR. ANTÓNIO – Nós chamamos a este banco aqui, o banco dos reformados, pois geralmente são pessoas já de alguma idade que se vêm aqui sentar. Mas… digam lá… o que é que querem saber?

MEIO SÉCULO – Há quanto tempo é que o sr. António utiliza GPL no seu veículo? Foi o senhor que mandou fazer a instalação?

SR. ANTÓNIO – Eu já utilizo o gás há dez anos. Adquiri este carro há cerca de oito anos, nessa altura tinha dez e já vinha com o sistema que foi instalado pelo anterior proprietário, quando o automóvel tinha três anos.

MEIO SÉCULO – Então não sabe quanto é que custou o kit de GPL?

SR. ANTÓNIO – Não sei não… mas o preço dos sistemas varia consoante as suas características, como é natural… como adquiri o veiculo em 2ª mão e com o sistema já instalado, posso dizer que o preço que dei pelo carro foi uma autêntica pechincha, pois nos carros usados não dão grande valor ao kit de GPL e assim acho que paguei pouco mais do que custaria a instalação se fosse eu a fazê-la.

MEIO SÉCULO – Então… mas o carro nunca lhe deu problemas? O sistema tem funcionado bem? É que o carro e até o próprio sistema de GPL, já têm uns bons anos…

SR. ANTÓNIO – É assim… o sistema nunca me deu o mais pequeno problema, o motor comporta-se lindamente, arranca muito bem, faço a comutação do gás para gasolina e vice-versa sem quase notar nada e o que tenho notado, sim, é que o motor tem um trabalhar mais suave e regular, quando está a funcionar a gás.

MEIO SÉCULO – Então, mas o sr. António põe o carro a trabalhar a gasolina para quê, se o gás é muito mais barato?!

SR. ANTÓNIO – Fala-se que o motor, de vez em quando, deve funcionar a gasolina para que haja uma melhor lubrificação de algumas partes do motor. Concretamente nunca tive oportunidade de confirmar essa necessidade e até já tenho circulado alguns milhares de quilómetros ininterruptamente a gás, mas, pelo sim pelo não, volta e meia lá mudo para a gasolina, durante poucos quilómetros, exceto quando o carro está prestes a ir à inspeção, pois aí o motor tem de estar a trabalhar a gasolina e a sonda dos gases deve estar estabilizada sob pena de o carro não ficar aprovado. Já tenho essa experiência, pois nos primeiros anos só mudava para gasolina no local da inspeção e o carro acusava um nível exagerado de emissões de co2. O resultado disso é que tinha de fazer uma reinspeção, coisa que se torna desnecessária se mantivermos o carro a funcionar a gasolina durante alguns dias, pois quando se faz a comutação de gás para gasolina existe ali qualquer conflito no sistema de controlo de gases, que só desaparece algum tempo depois. Apercebi-me disso quando, em dois anos consecutivos, levei o carro à oficina para reparação do problema e, entretanto, o problema já tinha desaparecido, não tendo sido necessária nenhuma intervenção. Se não fosse por causa das inspeções acho que desistia da gasolina de vez.

MEIO SÉCULO – De facto, com tantas vantagens e tão poucos inconvenientes, achamos estranho as pessoas não mudarem todas para gás…

SR. ANTÓNIO – Bem… não quer dizer que não existam outras desvantagens… Há pessoas que têm receio de utilizar o GPL, talvez porque considerem ser um produto perigoso, há também quem não queira perder algum espaço na bagageira, devido à instalação do depósito, ou ainda quem tenha o complexo de usar um dístico na traseira do automóvel ou até quem, simplesmente, não se preocupe com a diferença de preços entre os dois combustíveis.

MEIO SÉCULO – Então, e o senhor António… acha o GPL seguro?

SR. ANTÓNIO – Eu até hoje não tenho qualquer razão para o não achar seguro e os técnicos também afirmam o mesmo; até já li algures que é menos perigoso que a gasolina. Mas, de qualquer maneira, acho que todos os que o utilizam sempre têm algum receio e devem sobretudo usar de algumas precauções não só na condução, mas também mantendo todo o carro em bom estado de conservação.

MEIO SÉCULO – Já teve, anteriormente, algum outro carro a gás?

SR. ANTÓNIO – Já tive, já… mas esse infelizmente era um chanato dos antigos… Tratava-se de um Renault 9 de 1982, o sistema de combustível ainda era de carburador e, talvez por isso, me tenha dado muitos problemas. Nesse carro fui eu que lhe mandei instalar o kit de GPL. Como era de carburador o sistema foi mais barato. Na altura, já lá vão dez anos, ficou em cerca de 700 euros. Nesse sistema a comutação de gás para gasolina e vice-versa era um pouco mais complicada e o ralenti do gás desafinava-se com frequência. Também era mais difícil fazer o arranque do motor a gás, pelo que algumas vezes tinha de mudar para gasolina para pôr o motor a trabalhar, especialmente no inverno. Acho que a culpa era mais do próprio carro do que do sistema de GPL, pois na verdade o motor até a gasolina custava a pegar… além disso era um “comilão” que papava para aí uns 14 litros aos 100, pelo que decidi que o melhor era despacha-lo para a sucata.

MEIO SÉCULO – Então o senhor António, sabendo que o carro não prestava e gastava muito, para que é que lhe mandou instalar o kit de gás?!

SR. ANTÓNIO – De facto foi um erro, mas foi por ele gastar muito que o mudei para gás, pois, fora esse problema, o carro até estava bom de chapa e de mecânica e é preciso dizer que o tinha adquirido por uma bagatela. Infelizmente, acho que não cheguei a recuperar o investimento feito no sistema de GPL.

MEIO SÉCULO – Pelo que nos está a dizer, concluímos que não é vantajoso instalar o GPL em carros antigos, de carburador…

SR. ANTÓNIO – Exatamente, pelo menos eu penso assim, mas pode haver melhores opiniões. De qualquer maneira acho que já há poucos carros a circular, de carburador, mas pode haver a tentação de instalar o kit em carros antigos, em bom estado e com poucos quilómetros. Eu perante a experiência que tive não o voltaria a fazer, mas pode ser que esteja errado.

MEIO SÉCULO – Já sabemos que com o GPL se pode poupar cerca de 50% no custo do combustível, uma vez que o preço em relação à gasolina é de metade, ou ainda menos do que isso. Quer dizer que o consumo em litros é igual para os dois carburantes?

SR: ANTÓNIO – Não. O consumo com o motor a funcionar a GPL, aumenta cerca de dois litros aos 100, mas como o seu preço tem estado sempre um pouco abaixo da metade do preço da gasolina, acho que essa diferença acaba por compensar o maior consumo de GPL.

MEIO SÉCULO – Então, e o rendimento do motor? É maior ou menor com o GPL?

SR. ANTÓNIO – No meu primeiro carro a GPL, que era de carburador, notava-se uma pequena diferença para pior, mas com este, que é de injeção, francamente não noto diferença praticamente nenhuma. Até, como já lhes disse, o carro tem um trabalhar mais suave e regular e não se nota o cheiro desagradável dos gases provenientes da combustão da gasolina.

MEIO SÉCULO – Já vimos que o sr. António está satisfeito com o seu carro a GPL, mas certamente que também terá alguns inconvenientes a apontar. Diga lá…

SR ANTÓNIO – Bem, na verdade, o maior contratempo para mim tem sido a bagageira que, com o depósito lá instalado impede que ali transporte coisas mais volumosas, mas isso também é devido ao facto da mala do carro já ser originalmente de pequenas dimensões. No entanto é um mal menor, pois o que não posso transportar na mala vai dentro do carro. Depois há também o inconveniente de ter que trazer sempre gasolina no depósito, pois a bomba lá instalada acho que tem que estar sempre embebida no carburante para não se estragar e o carro tem de estar apto a funcionar a gasolina, pelo menos nas inspeções, mas isso nem chega a ser inconveniente, pois o facto do carro também trabalhar a gasolina significa uma maior autonomia que pode ser vantajosa no caso de, em viagem, não se encontrem postos de abastecimento de GPL, o que parece difícil, pois esses já se encontram um pouco por todo o lado.

A obrigação de usar dístico e também o facto de não se poder estacionar em parques fechados, que pode ser um inconveniente para alguns automobilistas a mim não me afeta em nada e, segundo sei, esse regulamento já foi ou está prestes a ser alterado.
De qualquer maneira, a minha opinião é de que as vantagens no preço superam os pequenos inconvenientes do uso do GPL. O que poderia ser um grande inconveniente seria se o GPL não fosse seguro, mas como é, acreditando nas vozes técnicas e como até agora não tenho razão para duvidar delas acho que as vantagens são mais do que as desvantagens.

MEIO SÉCULO – Bem, sr. António, já estamos bastante elucidados sobre o GPL e os nossos leitores também irão ficar quando lerem o nosso artigo onde vamos publicar a entrevista. O sr. foi muito claro e, sobretudo, muito amável. O “Meio Século fica-lhe eternamente grato. Muito obrigado.

SR. ANTÓNIO – Ora essa, não têm nada que agradecer, foi um prazer. Até à próxima!

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1 comentário:

  1. Esta semana abasteci o meu automóvel com GPL a €0,599. A gasolina em alguns postos custa o triplo, ou quase, pelo que dá para poupar mais de 50%, se houver possibilidade de abastecer nos postos de GPL que fazem preços mais baixos se, para isso, não houver necessidade de fazer grandes deslocações.

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