Tiro
o c, ou ponho o c? …
Não
sei como proceder,
Mas…
se ele não se lê
O
que está ali a fazer?
Facto
sem c fica magrinho,
Mas
este não vou suprimir.
Este
facto não é de linho,
Não
serve para vestir.
E
o hífen… coloco ou não?
Há
palavras que sem ele
Fazem
uma grande confusão!
Uma
delas é semirreta,
Que
ficou cor ar de posse.
Parece
uma bicicleta
Com
rodas de motocrosse.
Apesar
de tanta calinada,
Que
estou para aqui a dizer
Não
quero ser uma letra calada,
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que
entrou em vigor no Brasil no início de 2009 e em Portugal em Maio do mesmo ano,
tem sido alvo de algumas críticas e até há quem diga que não vai adotar as
mudanças originadas pelo Acordo e continuar a escrever como se ele não
existisse.
Confesso que também já tive as minhas dúvidas em relação ao
novo Acordo Ortográfico, mas elas, entretanto, foram desaparecendo, conforme me
fui inteirando melhor sobre ele.
Posso mesmo dizer que fiquei rendido ao Acordo quando soube
que o seu objetivo é unificar a ortografia da língua portuguesa de forma a
eliminar algumas diferenças na forma como são escritas algumas palavras na
ortografia brasileira por um lado, e em Portugal e nos restantes países de língua
portuguesa, por outro.
São pequenas alterações que não afetam a forma de escrever
ou a pronúncia das palavras e, mesmo aquelas em que são suprimidas algumas
consoantes, essa supressão só acontece de facto se essas letras não forem
pronunciadas, ou então poderá, em relação a elas, ser utilizada dupla grafia,
como no caso de “facto”, palavra em que o c na ortografia brasileira já não
existia e que em Portugal poderá ser mantido uma vez que nós o pronunciamos.
Existem muitas outras palavras que se podem continuar a
escrever da mesma forma, ou não, dependendo da maneira como cada um pronuncia essa
palavra, como por exemplo concepção ou conceção, súbdito ou súdito, amnistia ou
anistia, subtil, ou sutil, etc.
As alterações introduzidas são em menor número na ortografia
brasileira (0,5%) e mais em Portugal e nos restantes países lusófonos onde
essa percentagem é de 1,6%.
Ora, se a finalidade do Acordo é aproximar pela escrita
todos os países de expressão portuguesa, unificando ou pelo menos aproximando a
ortografia em todos eles, quem escreve num blog tem todos os motivos para estar
a favor do Acordo, uma vez que os blogs portugueses são lidos por todos os países
de língua portuguesa, com destaque para o Brasil, assim como o contrário também
acontece. Creio até que muitos blogs portugueses, com grande audiência no
Brasil já tinham, independentemente do Acordo, adaptado alguma da sua forma de escrever
para melhor serem entendidos pelos leitores brasileiros.
No caso concreto deste blog, nos últimos três meses a audiência
por parte do Brasil superou largamente a de Portugal, creio que isso se deve ao
facto de por cá ser verão e tempo de férias e, por isso, as pessoas não se
dedicarem tanto a pesquisas na Internet. No mês de Agosto os acessos a partir do
do Brasil atingiram os 64% do total de visitas e, se comparados esses números
com os de Portugal, essas visitas foram praticamente o dobro. Por esse motivo, dados os
objetivos do Acordo e no caso particular deste blog, isso é razão mais do que suficiente
para escrever de acordo com as alterações que foram introduzidas, o que já
acontece, aliás, há cerca de um ano.
A língua portuguesa já foi alvo de algumas reformas, acordos
e formulários ortográficos e, segundo constatei por pesquisas que fiz, houve em
todos ou em quase todos eles alguma oposição e críticas. Reportando à Reforma Ortográfica
que aconteceu em 1911, ela foi bastante contestada, sobretudo no Brasil e
acabou mesmo por não ser adotada por este país, ficando Portugal e Brasil com ortografias
bastante diferentes. De então para cá a ortografia da língua portuguesa foi
alvo de um longo processo de discussão e negociação, com o objetivo de
instituir, através de um único tratado internacional, normas comuns que rejam a
ortografia oficial de todos os países de língua portuguesa.
As tentativas iniciais materializaram-se num primeiro
acordo, assinado em 1931 que, no entanto, viria a ser interpretado de forma
diferente nos vocabulários ortográficos nacionais entretanto produzidos: em
Portugal, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1940; no Brasil, o
Pequeno Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1943, acompanhado de
um Formulário Ortográfico. A fim de eliminar estas divergências, foi assinado
por ambos os países um novo acordo ortográfico, em 1945, mas este apenas foi
aplicado por Portugal, continuando o Brasil a seguir o disposto no Formulário
Ortográfico de 1943.
Nas décadas seguintes houve várias tentativas para alcançar
novos consensos mas só em 1990 os representantes de Portugal, Brasil e
restantes países de expressão portuguesa assinaram o Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa ratificado também, depois da sua independência em 2004, por
Timor-Leste. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) entrou em vigor
no início de 2009 no Brasil e em 13 de maio de 2009 em Portugal. Em ambos os
países foi estabelecido um período de transição em que tanto as normas
anteriormente em vigor como a introduzida por esta nova reforma são válidas:
esse período é de três anos no Brasil e de seis anos em Portugal.
A Reforma Ortográfica de 1911 — a primeira oficial em
Portugal — foi profunda e modificou largamente a ortografia de então,
aproximando-a muito da atual, como se pode adivinhar por esta pequena notícia
de um jornal de 1909:
Para além das diferenças na escrita de muitas das palavras
do pequeno texto, que começam logo com o nome do jornal em que “commercio” se
escrevia com dois “m” e sem acento agudo a primeira frase começa da seguinte
forma: “Além d’amanhã realisar-se-há”… A expressão “além de amanhã” foi
substituída por “depois de amanhã” e atualmente essa informação deveria começar
da seguinte forma: “no próximo dia tantos do tal...” pois de contrário
teria de ser consultada a data em que a noticia foi escrita, neste caso a data
do jornal, ou então o leitor menos atento poderia ser induzido em erro.
Isto é apenas uma pequena curiosidade, mas dá para aferir da
evolução da língua portuguesa no último século. Quando foi feita a reforma que
mudou a forma de escrever commercio, bellezas, auctorisada, penna, solemnidade,
etc, certamente que deveria ter causado alguma impressão, que se desvaneceu com
o tempo, tal como agora nos causa estranheza ver acta (um documento) escrito
ata (que também pode ser uma forma do verbo atar) ou … por exemplo, acção –
ação que sem o c fica com uma aparência esquisita, mas, claro que é tudo devido
ao hábito de a ver escrita com o c, mesmo que ele ali seja mudo. Com o tempo
essa impressão ou estranheza, que causa algum desconforto, irá desaparecer tal
como aconteceu com outras anteriormente alteradas.
Quanto à pequena notícia do jornal se fosse escrita
atualmente, deveria ficar mais ou menos assim:
Festa a Nossa Senhora da Piedade – Grande romaria
Além de amanhã, realizar-se-á a costumada festa à Senhora do
mesmo nome, que tantos forasteiros costuma atrair à Lousã, não só pela
importância da solenidade, como também pelas belezas naturais que esta vila
encerra, que são de um mimo extraordinário pela sua paisagem.
A gravura que neste lugar inserimos representa a vista da
Ermida do Castelo histórico, cuja descrição deixamos à autorizada pena do
grande historiador que se chamou Manuel Pinheiro Chagas.
Ou então assim:
Festa a Nossa Senhora da Piedade – Grande romaria
Depois de amanhã, (ou no próximo dia tantos do tal) vai realizar-se a habitual festa à
Senhora do mesmo nome, que tantos forasteiros costuma atrair à Lousã, não só
pela importância da solenidade, como também pelas belezas naturais que esta
vila encerra, que são de um regalo extraordinário pela sua paisagem.
A gravura que neste lugar inserimos representa a vista da
Ermida do Castelo histórico, cuja descrição deixamos à autorizada pena do
grande historiador que se chamou Manuel Pinheiro Chagas.
A segunda alternativa poderia ser uma forma mais corrente
para o tempo atual, mas o que importa aqui notar é a quantidade de palavras que
foram alteradas: nada menos do que 17.
Neste pequeno texto a Reforma Ortográfica de 1911 foi a “responsável” por toda, ou pela maior parte das alterações na grafia de 17 das
palavras utilizadas, não estando aqui nenhuma modificação exigida pelo Acordo
de 1990.
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Pois SIM , esse acordo ortografico dá nó na cabeça da gente...ahahah
ResponderEliminarbeijo e ótimo final de semana amigo!
tin
filho da escola, essa veia poeta ainda é melhor que a de inventor. mas que cientista hem... estou a gostar.
ResponderEliminarum grande abraço.
Na questão do acordo ortográfico, tenho de discordar contigo. Ou unificasse para bem de todos ou beneficiam-se alguns. Neste caso foi para benefício de alguns e certamente não os portugueses (sem intenções xenófobas de forma alguma). Quanto ás visitas ao Blogg devem-se talvez, ao fato ou facto, de que os nossos conterrãneos pouco se interessarem por coisas destas além de futebol, em comparação com os nossos amigos brasileiros, estes por seu lado ainda são muitos mais que nós e de momento existe um grande interesse em tudo sobre Portugal por parte do povo brasileiro. Os portuguesas interessam-se mais pelo Brasil em questões de Telenovelas e carnaval. Outro fator é que as máquinas de pesquisa estão progarmadas em geral para pesquisar páginas com português do Brasil em primeira linha (insider info). Opinião válida de um cota, se é aceite ou não é convosco. Um abraço a todos.
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