O
maior problema das bicicletas baratas são as folgas que, passado pouco tempo,
surgem nos cubos das rodas e também no centro pedaleiro. E não é preciso andar
muito, pois em algumas bicicletas esses problemas começam a surgir após poucas
centenas de quilómetros percorridos. O material não foi, claramente, preparado
para aguentar muito esforço nem para durar muito tempo e isso é compreensível,
se atendermos a que bicicletas que custam entre 50 e 100 euros, não podem estar
equipadas com o mesmo material de outras que custam 300 euros e por aí acima.
Um
conjunto de pedais que se estragasse ou o selim demasiado incómodo para quem
necessita de fazer algumas dezenas de quilómetros semanais, seria material facilmente
substituível e não causaria grande transtorno, mas o eixo pedaleiro ou as rodas
a girar em “caroços de azeitona”, são para quem gosta de andar de bicicleta e
que sabe o que isso é, um verdadeiro tormento.
Quando
tal sucede a primeira reação é tentar fazer o ajuste dos cones dos rolamentos da
roda que tem folga ou a caixa ajustável do centro pedaleiro. Essa ação resolve
o problema, mas… apenas durante uma ou duas dezenas de quilómetros, após o que
o problema irá regressar agravado. O melhor para resolver o assunto em
definitivo será a substituição das caixas do eixo pedaleiro por um bloco de
rolamentos selado, porque desse modo irão, muito provavelmente, acabar as
folgas em definitivo e a bicicleta terminará o seu tempo de vida útil antes que
surjam problemas neste componente.
Quanto
às rodas, ou pelo menos à roda traseira que é onde se irão registar primeiro as
folgas, por motivos óbvios, uma vez que essa roda tem de suportar esforço
redobrado não só por causa do peso do ciclista que incide especialmente nela,
mas também por causa do esforço exigido ao cubo, devido à transmissão do
movimento da roda pedaleira para os carretos que é, afinal, o que faz rodar a
bicicleta, o remédio é substituir a roda ou pelo menos o cubo e o eixo completo,
pois essas folgas surgem devido ao desgaste prematuro dos cones, das esferas e
também das caixas do cubo onde rolam as esferas. Agora, pelo que pude observar
e ao contrário do que acontecia antigamente, essas caixas não dão para
substituir ou o cubo é mesmo inteiriço. Desse modo, para o problema ficar
resolvido em definitivo o melhor será comprar uma nova roda, de qualidade, ou
então substituir o cubo, isto é, tirar os raios todos à roda e de seguida
enraiar de novo, com outro cubo.
Enraiar
um roda hoje em dia não me parece que seja um trabalho muito frequente. Quem
tiver de comprar um cubo completo, mesmo que o trabalho seja feito pelo
próprio, provavelmente ficará pouco mais caro, ou até mais barato, adquirir uma
roda nova sem ter que se chatear com mais nada a não ser mudar o pneu e o
carreto da roda velha para a nova, se estes componentes ainda estiverem em bom
estado, o que em relação ao carreto é quase uma certeza, a não ser que as molas
das linguetas também já se tenham estragado, o que também não é raro acontecer
nas bicicletas baratas.
O
que eu tenho estado a dizer tem a ver com o que me aconteceu há bem pouco
tempo: comprei uma bicicleta por 80 euros e, passados dois ou três meses, duas
ou três centenas de quilómetros percorridos e a roda de trás a ficar com um
grande folga no eixo. Ainda fiz o ajuste dos cones, mas isso piorou a situação.
O aro e os raios estavam em perfeitas condições e como tenho de reserva alguns
cubos em bom estado achei que podia muito bem substituir essa peça o que,
aliás, já não era nada de novo para mim.
Enraiar
uma roda pode parecer um trabalho complicado e assim é de facto, mas apenas no
que respeita a deixar a roda bem desempenada, porque a colocação e o cruzamento
dos raios é bastante fácil de fazer, bastando para isso que tenha uma roda
igual ao lado para copiar a disposição e a distribuição dos raios.
Basicamente
a colocação dos raios é feita da seguinte forma, ou pelo menos é assim que eu
faço:
Enfiam-se
os raios todos no cubo com a disposição correta tal como estão na roda pela
qual nos vamos orientar.
Enfia-se
um primeiro raio num qualquer orifício do aro – atenção ao alinhamento dos
furos do aro, o primeiro raio deve ser colocado num furo que corresponda à
mesma fileira do cubo para que, consequentemente, todos fiquem na posição correta.
O
raio seguinte que está colocado na mesma disposição no cubo é enfiado no quarto
furo do aro a contar do primeiro raio e assim sucessivamente até estarem todos
os raios com a mesma disposição do cubo enfiados no aro.
Agora
há que contar 14 furos em sentido oposto a partir de um qualquer raio já
colocado e enfiar no 14º furo o raio seguinte e assim sucessivamente até
estarem todos os raios duma mesma fileira do cubo colocados no lugar. Atenção
que não deve ser aplicada qualquer tensão aos raios, apenas enroscar um pouco a
cabeça dos raios na respectiva rosca e o cruzamento dos raios deve ser tal como
está na roda que está a servir de modelo.
Com
a outra fileira do cubo o procedimento é o mesmo, sendo necessário ter em
atenção que o primeiro raio deve ser colocado no mesmo alinhamento da fileira
oposta, ou quase pois há um ligeiro desfasamento correspondente a um furo do
aro.
O
exemplo que tenho estado a dar corresponde a uma roda de 36 raios e estas
indicações são apenas uma achega, pois o essencial é ir verificando sempre como
é que o trabalho está feito na roda que estiver a servir de modelo.
Depois
dos raios todos colocados deve ir ajustando os mesmos a pouco e pouco sem nunca
apertar em demasia. Se o fizer corre o risco da roda ficar com altos e baixos e
nunca conseguir fazer o seu alinhamento correto. É um trabalho de paciência que,
para quem não tem prática, se pode vir a revelar desastroso, no entanto, repito,
se for ajustando os raios com calma e verificando sempre o alinhamento do aro
e, por vezes desapertando em vez de apertar, tendo em atenção que os aperto ou
desaperto dos raios é feito de acordo com o lado para onde se quer inclinar o
alinhamento, é possível que o trabalho venha a ser um sucesso. As primeiras
rodas que enraiei ficaram um desastre, mas agora já consigo fazer um trabalho
bastante aceitável. De resto penso que hoje em dia, tal como já disse em cima,
esse trabalho feito de forma manual esteja em desuso, pois não deve compensar
muito fazê-lo. Uma coisa é substituir alguns raios para desempenar uma roda,
que é um trabalho que se faz em poucos minutos (eu já cheguei a colocar raios
em rodas sem tirar a roda da bicicleta e nem sequer esvaziar o pneu), outra é
fazer o enraiamento completo de uma roda. Comprar uma roda nova pode ser mais
vantajoso, exceto em casos como o que relatei em que tinha o material e fiz eu
próprio o trabalho.
Excelente
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