Nos
últimos dias tenho andado ocupado com as sementeiras de milho e batatas.
Finalmente parou de chover e a primavera começou a dar um ar da sua graça,
incentivando o regresso ao trabalho na terra. Claro que já nada é como dantes, quando
o verde dos campos dava lugar ao castanho das terras lavradas e agora o que se
vê é uma mistura dessas cores, com vantagem para o verde, pois a maior parte
das terras ficam de pousio, ano após ano, e por muito que se diga que o futuro
está na agricultura e que é preciso cultivar, a verdade é que essa atividade
pode parecer muito romântica, mas para a exercer são precisos investimentos e
os riscos são tantos que as contas feitas no fim podem ser uma surpresa
desagradável, fazendo surgir o desânimo.
Normalmente
semeio milho proveniente da colheita do ano anterior e a produção tem sido
razoável, sem ter tido necessidade de fazer qualquer tratamento à cultura, para
além dos habituais trabalhos de sacha, rega e também da aplicação de um pouco
de adubo junto aos milheiros, mas não muito para o produto não queimar as
plantas, quando estas estão com cerca de 20 cm de altura, de preferência quando o tempo
está chuvoso.
Para
além da sementeira com o milho do ano passado, resolvi este ano tentar uma
experiência com outro tipo de milho, de bagos mais graúdos, uma vez que o milho
é para alimentar galinhas e como estas não o comem inteiro, sendo obrigado a
fazer a sua trituração, pensei que seria mais vantajoso ter milho mais graúdo.
Para
isso, dirigi-me a uma loja de produtos agrícolas e pedi um quilo de milho de
semente do mais graúdo que tivessem. Não perguntei o preço antecipadamente e
quando me entregaram a mercadoria e me pediram 8 euros e noventa cêntimos,
arrependi-me imediatamente da ideia que tivera. Tanto dinheiro por apenas um
quilo de milho!... Depois ficamos admirados por ver tantas terras por amanhar…
Deve
haver uma razão para o milho de semente ser tão caro… será, talvez, por causa
do tratamento que leva… talvez venha do estrangeiro, ou talvez alguém esteja a
querer ganhar mais do que deve, fui pensando, enquanto regressava com um quilo
de milho na mão e menos 8 euros e noventa na carteira…
Fui
pesquisar na Internet, na tentativa de descobrir a razão do tão elevado preço
do milho; afinal na Net sabe-se tudo, ou não?... Se calhar não…
Afinal,
fiquei a saber algo mais sobre o milho, mas também que sou um agricultor muito
ignorante. Existem dezenas e dezenas de variedades de milho que devem ser
adotadas, segundo a natureza do terreno, clima, região, se é para grão ou
silagem, se é convencional ou transgénico, etc. etc. O tratamento que leva e
que o faz ficar com uma cor avermelhada é para proteger as sementes, no início
do desenvolvimento da cultura, de doenças e pragas que afetam a emergência das
plântulas e o seu desenvolvimento inicial.
Há
diversos fatores que afetam a qualidade das sementes, entre eles podemos
destacar os fungos, os danos causados por insetos e o armazenamento inadequado
(temperatura e/ou humidade muito alta).
O
tratamento de sementes desempenha um papel fundamental para o sucesso da
emergência de plântulas de maneira uniforme, em condições normais e sob
condições adversas. Utilizam-se fungicidas para proteger as sementes
e as plântulas de muitos patógenos de sementes ou de solo.
Nos
tratamentos utilizam-se também inseticidas que servem para proteger
as sementes e as plântulas de insetos e pragas encontrados no solo e que
ocorrem nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura.
O
efeito do tratamento de sementes depende da sua qualidade, assim como das
condições do campo no momento do plantio. Geralmente, o resultado de maior
produtividade, devido ao uso de tratamento de sementes, está relacionado com a
proteção e a manutenção da população de plantas.
Eu
não me tinha preocupado com nada disso, afinal nem sequer sei qual foi a
variedade que adquiri, não sei se é apropriado para o terreno ou não,
limitei-me a pedir milho e ninguém me perguntou nada. Naturalmente viram logo
que eu não percebia nada do assunto e também as variedades que tinham à venda
não deviam ser assim tantas (dado o seu alto preço), teriam apenas as mais
indicadas para a região.
Mais
tarde alguém me ouviu queixar do custo elevado do milho de semente e me disse:
-
Olha pá… isso deve ser engano, um quilo de milho não pode custar tanto! Ainda o
ano passado comprei dois sacos dele a 20 cêntimos o quilo…
-
Não foi engano nenhum - respondi - É milho para semear que foi tratado e é por
isso que ele é tão caro…
-
Mesmo assim… mesmo assim… acho que é muito dinheiro por um quilo de milho! …
Perante
isto fiquei a pensar que o tratamento dado ao milho de semente deve ficar muito
dispendioso e que depois existe todo um circuito comercial para fazer chegar
esse milho aos compradores, onde gravita imensa gente que tem de ganhar o seu, ficando
o pobre agricultor, aquele que mais trabalha, com o pior quinhão.
Não
sei como é possível alguém vender milho a 20 cêntimos o quilo tendo em conta o
preço das sementes e de toda o trabalho e despesa que acarreta, mesmo que o
trabalho seja todo mecanizado, por isso fiquei com a ideia que os agricultores
não devem adquirir as sementes a esse preço, devem antes semear do seu próprio
milho, só renovando essas sementes após alguns anos.
É
verdade que o milho tem uma grande capacidade de reprodução e de um só bago
pode nascer um milheiro com duas ou três espigas, que podem dar várias centenas
de bagos, no entanto fica sempre a dúvida se compensa comprar semente nova ou
ir mantendo a mesma, ano após ano…
Fonte
consultada: Sementes agroceres
Plântula
(Embrião vegetal que começa a germinar.)
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